O recorde já lhe pertencia desde o ano passado, após sete anos a tentar desempatar com o finlandês que brilhou no século passado, feito que foi finamente alcançado, apesar de o oito vezes campeão mundial estar numa espécie de reforma a tempo parcial.
Desde o final de 2021, após a conquista do oitavo título mundial, que o francês, de 41 anos, natural de Gap, trocou a profissão de piloto a tempo inteiro para se dedicar à família, fazendo aparições esporádicas no Mundial de Ralis (WRC).
Desde esse momento, soma nove triunfos, um em 2022 (Espanha), três em 2023 (Monte Carlo, México e Quénia), três em 2024 (Croácia, Portugal e Finlândia) e dois já este ano, em Monte Carlo e em Portugal.
Depois de ter falhado a prova lusa em 2023, no ano passado voltou a uma corrida que já tinha vencido por cinco vezes (2010, 2011, 2013, 2014 e 2017), batendo, finalmente, o recorde que partilhava com Markku Alen (1975, 1977, 1978, 1981 e 1987).
Ogier, que ganhou pela Toyota, já tinha vencido pela Ford, VW e Citroën e é o segundo piloto mais vitorioso na disciplina, apenas atrás do homónimo e antecessor Sébastien Loeb, sendo também o segundo campeão por três marcas diferentes (Volkswagen, Ford e Toyota), algo que conseguiu em 2020, replicando o finlandês Juha Kankkunen, campeão com Peugeot (1986), Lancia (1987 e 1991) e Toyota (1993).
O corredor gaulês apenas não conseguiu ser campeão com a Citroën, a marca que o lançou no mundo dos ralis, da qual saiu em 2012, por se sentir tapado por Loeb, e à qual voltou em 2019 com o objetivo de ser campeão, após seis títulos consecutivos.
No entanto, o casamento com a marca francesa não resultou e durou apenas um ano, tendo antecipado o divórcio, trocando o duplo Chevron pela japonesa Toyota, na qual foi ocupar o lugar deixado vago pelo recém-campeão Ott Tänak.
Cada vez mais longe da sombra do compatriota, Ogier distingue-se pelo trato fácil e simpatia, igualando os dotes na condução. Casado com uma apresentadora alemã de televisão, com quem tem um filho de oito anos, tem na família um importante suporte.
Foi por ela que deixou o Mundial a tempo inteiro, para poder estar mais presente e até levar o filho à escola.
Apesar disso, em 2024, com as três vitórias, entrou na luta pelo título, mesmo falhando três rondas (Suécia, Quénia e Polónia), acabando por disputar as últimas seis provas do Campeonato, que fechou na quarta posição.
O piloto gaulês, que foi ginasta na adolescência, explicou em que "uma das razões para deixar o Mundial foi para passar mais tempo em família". Outra era a de cumprir o sonho de correr nas 24 Horas de Le Mans, que realizou em 2022, ano em que terminou em 13.º na geral e nono dos LMP2.
O amor pela competição começou a ver os troços do rali de Monte Carlo, que passam literalmente à porta de casa. Trabalhou como mecânico e instrutor de esqui, antes de ver as portas dos ralis abrirem-se numa formação de preparação de carros de competição.
Como a equipa para a qual trabalhava já participava no Rally Jeunes, prova de captação de talentos, um dia decidiu inscrever-se. Foi quanto bastou para começar a fazer história.
Daí ao Mundial de juniores foi um passinho, que o fez aterrar na Citroën Junior Team em 2009.
Alcançou a primeira vitória no ano seguinte, precisamente em Portugal, causando espanto por ter batido o então incontestado Loeb.
O triunfo no Algarve levou os responsáveis da Citroën a colocarem um carro oficial nas mãos do seu jovem pupilo na segunda metade do campeonato de 2010 e Ogier não desiludiu, tendo vencido no Japão e terminado em segundo lugar no difícil Rali da Finlândia.
Em 2011, venceu cinco provas, reeditando o sucesso em Portugal, mas terminou o Mundial no terceiro lugar. A convivência com Loeb não foi pacífica e Ogier deixou a Citroën no fim da temporada, por considerar que nunca poderia ser campeão enquanto o compatriota estivesse na equipa.
Ogier apostou na Volkswagen e no desenvolvimento do Polo R WRC, que apenas faria a estreia oficial na época seguinte, o que o levou a participar no campeonato de 2012 ao volante de um pouco competitivo Skoda Fabia S2000, tendo como melhor resultado um quinto lugar, na Itália.
A entrada da Volkswagen no Mundial de Ralis, em 2013, não poderia ter sido mais triunfante, com Ogier a vencer nove das 13 provas, beneficiando do facto de Loeb ter participado apenas em part time, ainda assim impondo-se em dois dos quatro ralis que disputou.
Ogier e a Volkswagen prolongaram o sucesso nos três anos seguintes, em 2014, 2015 e 2016, até que o surpreendente abandono da competição por parte da marca alemã levou o francês a procurar uma nova casa, optando pela M-Sport, sempre com o compatriota Julien Ingrassia como copiloto do Ford Fiesta.
Sem perspetivas de evolução, em 2019 regressou à Citroën, sem sucesso.
Ameaçou com o final de carreira para se ver livre do contrato com os franceses e acabou por rumar à Toyota, órfã de Tanak.
Em 2021 conquistou o oitavo título mundial, ficando a um do recorde de Loeb.
A pandemia levou o piloto natural de Gap a adiar a ideia de reforma, prevista inicialmente para o final de 2020, renovando por mais um ano com a equipa nipónica. Contudo, a conquista do oitavo título e a possibilidade de igualar o recorde não fez Ogier mudar de ideias.
Desde 2022, tem feito aparições esporádicas em provas do Mundial de Ralis, continuando a somar vitórias. Como a deste domingo, na 58.ª edição do Rali de Portugal, que lhe vale um lugar na história, e que é a 63.ª da carreira.