O defesa ganês, outrora considerado um dos maiores talentos da sua geração, anunciou o fim da carreira através de uma emotiva publicação no Instagram, que rapidamente despertou uma onda de nostalgia no futebol ganês.
Na sua mensagem de despedida, o antigo lateral-direito do Real Madrid Castilla e dos Black Stars escreveu com sentida sinceridade: “Vesti cada camisola com orgulho, respeito e sem arrependimentos.”
Foi uma frase simples, mas que espelha uma carreira marcada não pela ausência de desafios, mas pela coragem de os superar.
Opare agradeceu à família, amigos e adeptos pela confiança, sobretudo nos momentos mais difíceis. Como referiu, “Quando as lesões se tornaram demasiado frequentes e pensei em desistir, todos continuaram a apoiar-me e a acreditar em mim… Nunca falhei a nenhum clube no meu compromisso, dedicação e lealdade”
Para um jogador que surgiu como uma das maiores sensações adolescentes do Gana, o anúncio gerou tanto celebração pelos feitos alcançados como reflexão sobre o que poderia ter sido.

A história futebolística de Opare começou no Gana, passando por academias de formação como a Volta Academy e a Ajax Academy em Acra, antes de se transferir para o Ashanti Gold.
A ascensão meteórica deu-se no palco mundial, no Mundial de Sub-17 da FIFA em 2007, em que deslumbrou com a sua velocidade, subidas constantes pelo flanco e cruzamentos de grande precisão.
Participou nos sete jogos dos Black Starlets e rapidamente foi considerado um dos melhores defesas do torneio. Nessa altura, Opare foi destacado pela World Soccer como um dos “50 adolescentes mais entusiasmantes do planeta”.
Esse desempenho valeu-lhe uma atenção rara. Com apenas 17 anos, foi chamado à seleção provisória do Gana para a Taça das Nações Africanas de 2008, disputada em casa. Poderia ter sido um dos jogadores mais jovens do torneio, mas uma lesão de última hora privou-o cruelmente de uma oportunidade única na vida.
Em 2008, o colosso europeu Real Madrid contratou Opare para a equipa do Castilla, a formação secundária. Apesar de nunca ter chegado à equipa principal, Opare teve pouco tempo de jogo durante dois anos e acabou por seguir outro caminho.
O desenvolvimento prosseguiu depois no Standard Liège, onde viveu o período mais estável da carreira de clubes, somando mais de 80 jogos e afirmando-se como um dos laterais mais promissores da Bélgica.
Na década seguinte, a carreira de Opare levou-o por toda a Europa, com passagens pelo FC Porto, Augsburgo, Besiktas, Lens, Antwerp, Zulte Waregem e, por fim, Seraing. Pelos Black Stars, representou o Gana nos escalões jovens – incluindo a conquista do Mundial de Sub-20 da FIFA em 2009 – antes de participar no Mundial de 2014, no Brasil.
Potencial desperdiçado
Opare será sempre recordado como uma das grandes histórias de “e se” do Gana. No Mundial de Sub-17 de 2007, não foi apenas bom, foi verdadeiramente de elite. Muitos analistas consideraram-no o melhor defesa do torneio, e o interesse imediato do Real Madrid só confirmou o seu enorme potencial.
No entanto, a transição de prodígio a estrela não foi fácil. Apesar de dois anos no Real Madrid Castilla, nunca se estreou pela equipa principal. A partir daí, a sua carreira ficou marcada por passagens curtas e contratempos persistentes.
As lesões foram um fator determinante. Opare sofreu 11 lesões graves, que o obrigaram a falhar cerca de 76 jogos de clubes. Algumas foram paragens forçadas; outras surgiram quando estava a recuperar o ritmo ou a conquistar um lugar na equipa principal.
Os números nos clubes contam a história de forma clara. Depois de uma forte sequência de 88 jogos no Standard Liège, não conseguiu repetir essa regularidade noutros clubes. No Augsburg, fez menos de 15 jogos na Liga.
No FC Porto, não chegou a jogar na Liga Portugal pela equipa principal, atuando apenas pela equipa B. Os empréstimos ao Besiktas e ao Lens foram curtos e, embora tenha conseguido relançar parcialmente a carreira na Bélgica, ao serviço do Antwerp e do Waregem, nunca voltou à trajetória que parecia destinada para si.
A dura realidade é que as lesões e o timing moldaram o seu percurso tanto quanto o talento. Se tivesse mantido a condição física, ou talvez escolhido um clube onde os minutos de desenvolvimento fossem garantidos em vez de um gigante como o Real Madrid, Opare poderia muito bem ter-se tornado num dos melhores laterais africanos da sua geração. A sua versatilidade, velocidade e qualidade técnica eram evidentes; o que lhe faltou foi continuidade em campo.
Ainda assim, a humildade demonstrada na mensagem de despedida mostra que não guarda ressentimentos. Reconheceu os contratempos, mas recusou ser definido por eles, preferindo honrar cada clube e cada oportunidade que recebeu.
Uma carreira que merece ser celebrada
No final, Daniel Opare despede-se tendo vivido o sonho que muitos jovens jogadores ganeses partilham. Jogou no Mundial de Sub-17. Foi campeão do mundo com a seleção de Sub-20 do Gana em 2009, tornando o país no primeiro africano a alcançar tal feito.
Fez parte da convocatória para a Taça das Nações Africanas. Representou o seu país no Mundial de 2014, no maior palco, no Brasil. E passou mais de uma década a competir nas principais ligas europeias.
Estes são feitos que muitos jogadores talentosos nunca alcançam, mesmo sem lesões.
Opare pode não ter atingido o estatuto de superestrela que muitos lhe previam em 2007, mas alcançou a grandeza à sua maneira e deixa um legado de perseverança do qual as gerações futuras podem retirar inspiração.

