Não é só em Inglaterra que este tema está em destaque. As jogadoras de setas agradecem a ampliação do torneio, pois este ano, pela primeira vez, o quadro conta com 128 nomes e, logo na distribuição das vagas, ficou claro que pelo menos quatro seriam ocupadas por mulheres. No fim, são cinco as que chegam à grande final.
Entre as escolhidas está, este ano, Lisa Ashton, que foi a primeira jogadora da história a conquistar o cartão profissional através dos torneios oficiais de qualificação. E ela própria o repete muitas vezes. "A Q-School é mesmo incrivelmente difícil. Começamos com 500 jogadores, estamos no recinto o dia inteiro, cada seta conta. Nunca na vida joguei tantos jogos como lá e até o Barry Hearn sempre dizia que, se uma mulher quer entrar no Tour, tem de passar por este caminho. E se conseguir, merece o cartão", recordou a tetracampeã mundial ao jornal britânico Express. As palavras do antigo jogador e reconhecido promotor de setas foram uma motivação para ela.
"Quando tudo terminou naquele domingo, durante três dias não consegui mexer o braço, estava completamente rígido. Foi extenuante", acrescentou sobre a dura competição que lhe permitiu depois jogar entre os profissionais.
Mas mesmo tendo conseguido vencer, em torneios, antigos ou futuros campeões do mundo como Adrian Lewis e Michael Smith, acabou por ficar um pouco esquecida. O protagonismo foi para Fallon Sherrock, que, graças a duas vitórias em dezembro de 2019 no Mundial, ficou com os holofotes. A sua atuação impressionante, em que derrotou dois homens, Ted Evetts e Mensur Suljovic, está até hoje registada nos anais das setas.
E nota-se que isso incomoda Ashton. "Nada contra a Fallon, o que ela conseguiu abriu portas a todas as mulheres. Mas penso que isso acabou por relegar o meu percurso para segundo plano", admitiu.
Aliás, a rivalidade entre ela e Sherrock atingiu o auge no World Matchplay feminino deste ano, cuja vencedora garantia vaga no Mundial. Ashton venceu esse duelo intenso por 6-5.
Agora, a Rosa de Lancashire, como é conhecida no mundo das setas, tem a oportunidade de ajustar contas. Já participou quatro vezes no Mundial, mas nunca passou da primeira ronda. Para a sua quinta tentativa, terá pela frente Michael Smith.
Sim, precisamente o jogador que derrotou em setembro de 2020. "Bully Boy", como é conhecido Smith, já era um jogador de topo nessa altura, mas em janeiro de 2023 conquistou o título mundial. Depois, porém, enfrentou o síndrome de burnout e atualmente ocupa apenas a 28.ª posição do ranking.
"Estou ansioso, vai ser um bom jogo. A Lisa sabe fazer grandes pontuações e eu também. Vai depender de como lidamos com as emoções, não deixar que nos dominem e manter o foco", disse Smith ao site da PDC, demonstrando respeito nas suas palavras.
Afinal, Smith sabe bem o que são emoções no Alexandra Palace. Vai participar pela 15.ª vez consecutiva e já chegou três vezes ao palco da final. Além do título de campeão em 2023, ficou na memória de todos os fãs de setas pelo duelo decisivo com Michael van Gerwen. A sua leg do segundo set é ainda hoje considerada, com justiça, a melhor da história. E não é preciso dizer que, nessa altura, Bully Boy fechou com nove setas…
Além do duelo Smith – Ashton, o dia inaugural contará também com Luke Littler, que defronta o lituano Darius Labanauskas, sendo claramente favorito no primeiro confronto entre ambos. Pela passagem à segunda ronda, o letão Madars Razma enfrenta o jovem neerlandês Jamai van den Herik. O pontapé de saída do campeonato será dado pelo experiente belga Kim Huybrechts frente ao alemão Arno Merk.
Programa do 1.º dia do Mundial de setas
Huybrechts – Merk (19:10)
Smith – Ashton (20:10)
Littler – Labanauskas (21:10)
Razma – Van den Herik (22:10)