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Carlos Forbs não ouviu Roberto Martínez a dizer o nome dele na convocatória da seleção principal, mas soube através de Rodrigo Mora - jovem do FC Porto que também já foi chamado pelo treinador espanhol e não chegou a estrear-se por Portugal -, que fazia parte dos convocados para os últimos jogos de qualificação para o Mundial-2026.
Depois da felicidade pela notícia, Carlos Forbs terá recordado todo o trajeto até àquele momento, incluindo os períodos mais difíceis que não impediram que atingisse, apenas aos 21 anos, um dos grandes objetivos da carreira.
A vida dá voltas e voltas. Em junho de 2025, no início da pré-época, soube, através do WhatsApp, que fazia parte da lista de dispensados do Ajax. Agora, menos de meio ano depois, Forbs está a um passo de se estrear na equipa principal de Portugal.

Do futsal ao Manchester City
Carlos Forbs, filho de pais guineenses, nasceu em 2004, em Rio Maior, Sintra, e foi lá que se estreou no mundo da bola, mas não exatamente aquela com que agora vai brilhando nos relvados da Liga dos Campeões.
Com menos de 10 anos, juntou-se ao Núcleo de Atividades Desportivas de Sintra para jogar futsal e foi aí que foi descoberto por um olheiro do Sporting, que o levou para Alcochete.
Nos infantis, Forbs já mostrava apetência pelo golo e prometia ser mais um jogador a saltar da Academia de Alcochete para a equipa principal do Sporting, até que, contrariado, rumou a Inglaterra para acompanhar os pais: "Tinha os meus amigos, o meu país, não queria nada sair", disse, em entrevista ao podcast The Locker Room.

Inicialmente, rumou à cidade de Leeds, onde a mãe havia encontrado trabalho, mas mudou novamente de ares, desta vez no mesmo país. Forbs foi para Manchester e acabou por ingressar nos escalões de formação do Manchester City.
Foi aí que o português percebeu que o futebol podia mesmo ser o seu destino. Mais rápido e forte do que os companheiros de equipa e adversários, destacou-se nas equipas de formação dos Cityzens, não apenas no papel de goleador, mas também como assistente.
Apesar do impacto nas equipas de formação, foi já nos sub-18 do emblema inglês que o nome de Carlos Forbs, na altura ainda Carlos Borges, começou a fazer parte do léxico dos adeptos do City, especialmente depois de apontar um hat-trick no dérbi com o Manchester United, onde ainda assistiu para um dos golos da vitória por 1-5, com apenas 17 anos.

Forbs foi várias vezes chamado por Pep Guardiola para treinar com a equipa principal, até porque os números nos sub-21 começavam a impressionar cada vez mais - fez 25 golos e 11 assistências na época e foi eleito melhor jogador da Premier League 2 na época 2022/23 -, mas nunca conseguiu estrear-se e acabou por rumar a Amesterdão. O Ajax desembolsou 14 milhões de euros pelo passe de um jogador que ainda não tinha qualquer minuto no futebol profissional.
Da estreia à dispensa por WhatsApp
Para primeira experiência a nível profissional, Carlos Forbs leva uma série de histórias para contar da sua curta estadia em Amesterdão. Da estreia a 12 de agosto ao primeiro golo, numa partida da Liga Europa diante do Marselha, raros foram os bons momentos do internacional sub-21 português num Ajax em cacos.
O contexto difícil do conjunto de Amesterdão, que passa ainda por uma crise que vai da equipa técnica ao diretor desportivo, levou-o a deixar o clube cerca de um ano mais tarde, regressando a Inglaterra para se estrear na Premier League ao serviço do Wolves, onde foi figura residual.
11 jogos depois, terminou o empréstimo à equipa então treinada por Vítor Pereira e regressou aos Países Baixos por apenas alguns dias.

A história é por demais conhecida e o spoiler foi dado no título. A 28 de junho de 2025, o português, contratado há dois anos pelos tais 14 milhões de euros, foi um dos rostos da dispensa coletiva operada pelo diretor técnico Alex Froes, que informou uma série de jogadores de que não contavam para o clube através de uma mensagem de WhatsApp.
O grupo de sete, onde se incluia, por exemplo, o internacional croata Borna Sosa, ficou sem direito a estacionamento e sofreu uma série de restrições que faziam com que nem contactassem com nenhum elemento da equipa principal, mas o talento que Forbs foi mostrando nos escalões de formação e, a espaços, nas seleções jovens (fez parte do melhor onze do Euro sub-19 que Portugal perdeu na final diante de Itália) fez com que o jovem nascido em Sintra continuasse com a porta aberta noutros clubes.
Brugge, palco dos sonhos
A história de Carlos Forbs é mais uma prova de que tudo pode mudar num curto espaço de tempo e que mesmo o cenário mais negro pode ser brilhante com apenas uma pequena mudança na nossa vida.
Amesterdão e Brugge estão a pouco mais de 250 quilómetros de distância, mas esse trajeto mudou mesmo a história de Forbs. Contratado por 8,5 milhões de euros pelo conjunto belga, o português não desperdiçou a oportunidade e terá guardado aquela mensagem de WhatsApp como fator motivador para o que estava para vir.
20 jogos, cinco assistências e cinco golos, alguns marcantes, como o que apontou na estreia frente ao Salzburgo (3-2), na qualificação para a Liga dos Campeões, prova onde viria a brilhar contra o gigante Barcelona - bis e uma assistência. Dois dias depois dessa noite histórica, o nome de Carlos Forbs entre os eleitos de Roberto Martínez para os jogos com a Irlanda e a Arménia. Será que Alex Froes enviou, desta vez, uma mensagem de parabéns?

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