Entrevista a Bino: "É altura de perceber o que estes dois títulos me podem trazer"

Bino Maçães levou os sub-17 de Portugal à conquista do Campeonato Europeu e Campeonato do Mundo
Bino Maçães levou os sub-17 de Portugal à conquista do Campeonato Europeu e Campeonato do MundoNOUSHAD THEKKAYIL / NURPHOTO / NURPHOTO VIA AFP

Bino Maçães apresentou-se ao futebol nacional ao sagrar-se campeão europeu de sub-16 no longínquo ano de 1989. Mais de 36 anos depois, voltou a erguer o troféu, como selecionador nacional de sub-17, em junho, e, em dezembro, elevou a parada ao sagrar-se campeão mundial com o mesmo grupo de trabalho. De antiga promessa nos relvados para desenvolvedor de talentos, o antigo médio de 52 anos vê agora um horizonte a abrir-se como treinador em final de contrato.

Manuel Albino Morim Maçães sabe o que é ser um jovem talento no cenário português. A experiência nos relvados começou em finais da década de 1980, numa altura em que a Geração de Ouro arrebatou corações e fez sonhar com um país no topo do futebol mundial depois das conquistas do Campeonato da Europa sub-16 e o Campeonato do Mundo sub-20, em 1989, voltando a singrar no Mundial de sub-20, em 1991.

Entre nomes como Luís Figo, Jorge Costa, Paulo Sousa ou Fernando Couto, Bino não se destacou tanto como os companheiros na transição para o futebol sénior, apesar de ter passado por FC Porto e Sporting e ter somado três internacionalizações entre 2000 e 2002. Talvez por isso possa ser considerado um especialista na gestão de jovens jogadores, após um início de carreira de treinador na formação do Padroense, FC Porto e Vitória SC. 

Nos conquistadores, foi treinador principal sem sucesso e ainda passou pela União de Leiria até ser recrutado pela Federação Portuguesa de Futebol. O projeto era tomar conta dos meninos de 2008 e 2009, num trajeto que começou nos sub-16 e terminou no expoente máximo do escalão sub-17, com os jogadores a deixarem rasgados elogios ao estilo de gestão do técnico.

Em entrevista ao Flashscore, Bino Maçães passa em revista a sua carreira e os últimos meses de sucesso com uma geração que conheceu como "meninos de 15 anos" até se tornarem campeões mundiais, homenageados pelo Presidente da República. O futuro do futebol português parece assegurado. Já o pessoal parece estar em aberto.

- Não é todos os dias, confesso, que se recebe um campeão do mundo. Bino, antes de mais, parabéns! Campeão do Mundo, mas antes europeu, que ano de 2025!

Olá, é um gosto estar aqui também contigo. É verdade. É um ano fantástico para mim, enquanto treinador, para a Federação Portuguesa de Futebol, porque estamos a conquistar títulos, que era isso que também que se pretendia. Podermos formar a ganhar, representar desta forma o país e dignificar a nossa camisola também é algo que nós queremos continuar a fazer. E depois os meus parabéns aos meus jogadores que foram fantásticos neste trajeto. É o fruto do crescimento que eles foram tendo, (só assim) é que foi possível estas duas conquistas.

Bino avalia o ano de 2025
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- Não há treinador sem jogadores, não é? Tem que haver aqui uma ligação muito, muito estreita.

Sim, é verdade. Eu estou há dois anos e meio com esta geração e foi um bocadinho isso. Eu encontrar, dentro das características dos melhores jogadores que nós tínhamos, da avaliação que nós fazíamos a nível nacional, encontrarmos a forma de os enquadrar melhor, de podermos ser uma equipa competitiva e jogar bem. Um bocadinho à semelhança também das características que quero para o nosso jogar, naturalmente adaptando à identidade de Portugal, daquilo que nós temos que fazer, mas encontrar esta simbiose entre os jogadores, as características, o que gosto enquanto treinador de futebol, acho que quase de uma forma perfeita isto foi acontecendo ao longo do tempo e foi a culminar nesse Campeonato da Europa e agora no Campeonato do Mundo.

- Mas não deixa de ser um grande desafio. Estamos a falar de homens jovens que ainda não são homens em idade, ainda são adolescentes, não é?

Pois é isso. O início foi difícil, porque estamos a falar de jovens miúdos, ainda com quinze anos, que eu apanhei-os nos sub-16. Ainda um período de grande irreverência dos miúdos, de descobrimento, em que eles passam por um processo. Começam a namorar, começam a fazer contratos, começam a querer emancipar-se dos pais. Eu costumo dizer que esta é até a idade da parvalheira e eu passei por isso também. Tivemos que criar aqui alguns valores que eram essenciais na FPF, algumas regras e disciplina que também são fundamentais para que se tenha sucesso e sabermos todos qual é o caminho que temos que trilhar. Porque a qualidade sempre esteve lá, ainda que de uma forma mais irresponsável, porque nesta altura eles ainda são muito enérgicos e gostam muito de fazer as coisas à maneira deles. Todos eles jogam nas equipas grandes, que atacam muito, defendem pouco, alguns vícios que eram importantes também limar. Ou seja, foi um trajeto no início mais complicado, mas depois no sub-17, um ano depois, eu senti o crescimento da equipa, até porque já estava adquirido também esses valores e esses princípios que nós queríamos.

Eles já sabiam o caminho que tinham a trilhar e depois foi mais limarmos algumas arestas, porque o futebol não para, a evolução do futebol continua e começa cada vez mais a fazer-se sentir já nos jovens. Eu digo isto porque começamos a apanhar equipas a fazer marcação individual, que eu acho que está muito em voga agora e cada vez mais, e que vai mudar também o panorama do futebol a nível mundial. Isso foi-nos criando outro tipo de problemas, nós descobrirmos o que tínhamos que fazer. Enfim, foi um trajeto muito bonito que os jogadores, fruto da inteligência que têm, da qualidade que também vão tendo no trabalho nos clubes, porque cada vez mais os clubes têm melhores condições para os poder desenvolver. Os treinadores cada vez estão melhor preparados e isso ajuda tudo. Depois quando eles vêm para a seleção, no pouco tempo que nós temos, conseguimos fazer as coisas bem, fruto dessa inteligência e dessa capacidade que os miúdos já trazem.

- Veio aqui também ao de cima enquanto selecionador, um bocadinho daquele menino de 1989, que ficou no terceiro lugar do Campeonato do Mundo de sub-16?

Eu não sou muito saudosista. Felizmente, consigo resolver muito bem as minhas situações do passado. Por isso não foi algo que me viesse à memória. Veio depois porque me falaram sobre o assunto e é verdade que eu ganhei o Campeonato da Europa nessa altura. Passado uns meses também disputamos o Campeonato do Mundo e perdemos nessa meia-final contra a Arábia Saudita. Mas, foi um trajeto. O futebol também é muito diferente e eu não pensei muito nisso como quando deixei de jogar. Não sou saudosista porque ficou muito bem resolvido e agora estou noutra vertente da minha carreira também e a pensar muito neste meu trabalho. Por isso não pensei, mas é de facto uma coincidência interessante eu ter passado por essa situação: passado uma série de anos e eu estar agora como treinador destes miúdos, podermos quase estar a passar aqui um processo muito similar ou paralelo. Isso é de facto interessante, mas prova que estes são bem melhores do que aquilo que nós fomos, embora nós nessa altura...

- Eram outros tempos, não é? Era um bocadinho diferente.

Sim e nós nessa altura já tínhamos jogadores de grande qualidade. Falamos do Figo, jogadores de excelência, o Emílio Peixe, que também estava nessa seleção, alguns jogadores que acabaram por ter carreiras muito boas ao nível profissional e é isso que eu espero também destes miúdos que estão agora comigo. Que isto seja uma alavanca para o futuro deles, manter os pés no chão, como é lógico, porque o futebol não para, há sempre trabalho a fazer, mas que eles possam ter o sucesso que muitos de nós tivemos nessa seleção.

- Tivemos jogadores em grande destaque. Eles são novos e nesta idade é preciso tratar com 'paninhos quentes' para que não fujam do trilho. No entanto, ao nível dos clubes, temos tido jogadores a afirmarem-se muito cedo. Preves que alguém do teu grupo possa vir a aparecer e a mostrar-se entre esta e a próxima época?

Prevejo. Não te vou dizer nomes, porque seria injusto. Até porque iria comprometer-me também, não vale a pena (risos) e seria injusto até com alguns deles. Há qualidade aqui e há miúdos que podem ter sucesso e é isso que eu espero. É para isso também que trabalhamos, para o crescimento deles seja cada vez mais sustentado. Agora, naturalmente que esse trabalho vai competir muito mais aos próprios jogadores - o que vão continuar a ser mentalmente, a força que têm para continuar a trabalhar e ser resilientes -, e principalmente aos clubes deles, que terão de ter uma aposta mais efetiva nesses jogadores, porque talento têm, e colocá-los no contexto certo. A simbiose disto tudo vai ser muito importante para que esses jogadores possam aparecer nas primeiras equipas, a médio prazo.

Bino garante que há espaço para os jovens no campeonato português
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- No teu tempo havia essa questão: são quase todos de clubes grandes, têm crescido com essa mentalidade, mas depois chegar à equipa principal é difícil, porque muitas vezes são substituídos por experiência e o espaço é pouco. No entanto, continuam a aparecer (casos como) Rodrigo Mora, (Rodrigo) Rego, que vão aparecendo e mostrando serviço. Na tua perspetiva - também tiveste a tua experiência como treinador de clube -, há espaço para estes jovens? Há capacidade de apostar nestes jovens ao nível dos nossos grandes?

Sempre houve e vai continuar a haver. O que a história nos diz, é que normalmente quando os clubes grandes estão desafogados financeiramente, a aposta é menor nos jovens da casa. Quando os clubes têm mais dificuldade, a aposta é muito maior. E quando isso acontece, surgem muitos jogadores da formação em Portugal. Isto terá que nos levar a pensar também naquilo que os clubes querem fazer. Eu represento só a Seleção Nacional, não me quero sequer meter no trabalho dos clubes. Agora, isso é uma evidência, é algo que temos percebido que tem acontecido. Vai continuar a haver espaço para apostarmos nos nossos jogadores. É verdade que cada vez mais o mundo do futebol é universal, podemos ir buscar onde quisermos.

Vemos o caso de equipas portuguesas que já não têm sequer um jogador português. Com pena minha, porque temos grande talento e será importante também continuarmos a manter essa aposta se queremos continuar a ter seleções nacionais que possam elevar o nome de Portugal. Senão vamos ter dificuldades e vamos produzir os jogadores para alguns setores, se não houver essa aposta dos clubes em colocarem esses jogadores a jogarem. Felizmente, temos vários patamares no futebol, quer de formação, quer na passagem para o futebol profissional, que têm sido muito interessantes. A Liga Revelação dos sub-23, as equipas B's de vários clubes também, ou seja, o espaço há. Agora, terão que ser os clubes a dar esse passo definitivo.

Falando do talento desta geração, é bem visível e a prova disso são estas duas conquistas que tivemos, mas terá que haver continuidade. Eu espero que haja.

- Em 1989, houve a tua geração campeã europeia de sub-16 e a seleção campeã mundial de sub-20 em Riade. Já em 1991, a tua geração foi campeã mundial de sub-20 em Lisboa, que foi uma consumação. Nos últimos anos, temos tido seleções e clubes sub-19 - na Youth League - a conquistarem os grandes certames. O que é que Portugal tem que leva esse talento a aparecer tão cedo? 

Não sei se é inato, temos condições climatéricas que nos permite jogar na rua - agora cada vez menos -, mas há todo um processo. Tal como falamos no Brasil, o clima pode ajudar, porque os miúdos podem andar na rua, podem jogar, podem desfrutar,  acaba por ser um chamariz. Também estamos a reunir cada vez mais condições para os nossos quadros competitivos desde muito cedo. Estamos a reunir bases fundamentais. Quando falo de quadros competitivos - claro que há sempre coisas a melhorar -, há uma grande procura no que fazemos até de países com uma dimensão bem maior - como é que temos tantos resultados? porque é que os nossos campeonatos estão tão bem estruturados - e isso acaba por também levar a que cada vez consigamos produzir mais jogadores, porque temos primeira e segunda divisão em quase todos os escalões de formação. Temos campeonatos competitivos e isso acaba por ser interessante.

A acrescentar a isso tudo, esta vitória que tivemos vai levar miúdos que ainda estejam na dúvida de que desporto possam praticar a dizer: 'eu também gostava de ser campeão pela seleção sub-17'. Isto pode levar também muitos miúdos a continuar. Por isso é que eu vejo esta geração com grande talento, mas também com essa responsabilidade boa de poder também indicar um caminho a vários miúdos de que se pode ter sucesso nas seleções jovens e que vale a pena investirmos o nosso tempo no desporto. Mesmo que estes miúdos não deem em jogadores, vai ser fundamental em termos de saúde do nosso país. Por isso, estou contente que possamos caminhar juntos nisto de continuar a colocar miúdos no desporto, isso vai ser importante. Portugal é um país que consegue produzir muitos miúdos, mesmo com a pequena dimensão que tem.

- Falemos agora do Bino treinador. Começou no Padroense, passou pelas camadas jovens do FC Porto, equipa B e principal do Vitória SC, seguiu-se a seleção sub-16 e a sub-17 nos últimos dois anos e meio, com enorme sucesso. O futuro passa por onde, Bino? Está numa altura de fim de contrato, por onde passa o seu futuro?

Pois não sei, gostava de saber (risos). Acima de tudo, tenho dito que acima de tudo sou treinador de futebol e a paixão que esta profissão me trouxe. Por isso, mantenho-me e gosto muito do que faço. Quase me tenho esquecido de quando fui jogador, porque foi noutra vida quase. Tenho grande paixão por poder ajudar o crescimento dos jogadores. Onde é que me pode levar? Não sei. Já estive na formação, já estive no futebol sénior e continuo aberto a todas essas possibilidades. Gosto muito de ser treinador e vou esperar para ver. Um bocadinho à semelhança do que foi acontecendo até aqui na minha carreira.

Bino mostra-se aberto a todas as possibilidades em final de contrato
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Foram surgindo alguns convites e fui tomando as decisões que tinha que tomar. A verdade é que eu nunca tive representante ou empresário. Isso pode aqui e ali condicionar as escolhas, até as próprias negociações, mas pronto, são coisas que nós vamos optando por fazer. Cada toma as suas opções e depois temos que viver com elas também. E esta é uma altura agora de perceber o que é que estes dois títulos também me podem trazer: se a FPF quer renovar comigo, que projetos é que têm, se há algum clube ou seleção interessados. Ou seja, estarei aberto a perceber o que aí vem e depois espero tomar a melhor decisão para o futuro da minha carreira, sim.

- Já tenho conheço há alguns anos e sei por experiência que és um 'desalinhado' do futebol. Hoje em dia toda a gente tem um representante, até os meninos da tua equipa, e tu nunca foste assim. Neste novo mundo do futebol, tu seres quem és, às vezes não ajuda pois não?

O que pode não ajudar é mesmo esse contacto, que eu percebo que é uma ajuda fundamental de teres um empresário que te represente, até porque não és tu que tens que dar a cara, não tens que negociar, não tens que criar anticorpos nessas negociações quanto a valores ou anos de contrato. Ou seja, tendo alguém que faça isso por ti, é muito mais fácil chegares ao final, cumprimentares o presidente e está tudo resolvido. Neste processo vais criando e eu não tenho muito esse feitio porque gosto muito de estar no meu canto. Mas pronto, são opções que nós tomamos.

É fundamental hoje em dia que se tenha um representante. Isso, não tenho dúvidas nenhumas. Porque hoje em dia os miúdos precisam de alguém também que os oriente. É verdade que tem que ter uma estrutura familiar que saiba ter os pés no chão e que os saiba direcionar, mas quem está no futebol - e os representantes cada vez mais -, estão munidos de mais ferramentas para poder ajudar esses miúdos. São importantes na negociação, de poder falar até com eles em momentos em que eles não estão tão bem, orientar a carreira deles e um bocadinho à semelhança dos treinadores. Os treinadores também têm representantes e isso acaba por ser importante. Por isso, também estou aberto a tudo nesta situação. É esperar para ver. Depois lá tomaremos as decisões.

- Incluindo no estrangeiro? Isto porque o Bino jogou no estrangeiro, mas nesta altura o treinador português tem uma reputação nunca antes vista. Há treinadores em todos os quantos do mundo, com competência reconhecida.

Exatamente. As portas foram abertas há algum tempo atrás por essa qualidade dos primeiros treinadores a saírem de Portugal e isso tem sido mantido. Cada vez mais há treinadores de grande qualidade, há jogadores de grande qualidade que estamos a exportar e isso acaba por ser muito bom e diz muito de Portugal. É importante essa gente sair para poder surgir outra, porque o caminho faz-se caminhando e precisamos dessa renovação, que é sempre importante. Até porque falamos da evolução constante do futebol e esta revitalização, quer de treinadores quer de jogadores, será sempre fundamental para que esse crescimento continue a aparecer. 

Estou aberto a ir também para o estrangeiro. Depende da abordagem que me fizerem, do contexto que for, independentemente de onde for, se é seleção ou clube, estarei aberto para poder perceber. Estou muito contente estar na federação, por este trajeto que temos tido, mas também na expectativa de perceber o que é que se vai passar.

- Voltemos ao Mundial para a reta final da conversa. Foi preciso passar os teus valores futebolísticos, pessoais e da equipa técnica aos rapazes? Mas houve também irreverência, de eles a meterem-se com a equipa técnica.

Há espaço para tudo e, nesta idade, digo muitas vezes que estão cada vez mais maduros, não só dentro do campo, como deu para ver nestas duas últimas competições (Europeu e Mundial). Até acho mais nesta (Mundial), jogamos melhor e tínhamos jogadores em melhor forma no Euro do que no Mundial. Mas no Mundial mostramos ser muito mais equipa, muito mais solidários e isso revela também crescimento, a união que fomos criando neste grupo de trabalho. Conseguimos vencer fruto dessa união, do acreditar, porque passamos um mau momento contra o Japão ao perder esse jogo, não ficámos em primeiro do grupo com as consequências que de aí advinham. Nós tínhamos perdido com o Japão três ou quatro semanas antes e pesou bocadinho. A mudança que fizemos para que a equipa estivesse pronta a dar uma boa resposta com a Bélgica, num jogo a eliminar, foi fundamental.

Foi aí que pensei: 'nós temos de novo equipa e podemos lutar por este Campeonato do Mundo'. Foi um clique,  porque estamos a falar de miúdos e até ao nível sénior quando perdes duas vezes com a mesma equipa, fica ali o mau sabor de boca e as questões, mesmo para o treinador, do que temos de fazer para melhorar ou corrigir. Isto leva o treinador a pensar, os jogadores terem mais dúvidas... Enfim, uma série de situações que tivemos que descobrir juntos. Tivemos que desmistificar, mostrar-lhes outra vez o que tinham feito com bola e sem bola, para perceberem que nós nunca dependeríamos dum resultado, mas sempre da nossa identidade e do que fizemos. E se nós seguíssemos este caminho independentemente do que se tinha passado, íamos ter sucesso. E os jogadores acreditaram nisso e seguiram esse caminho, acabou por ser fundamental. 

Bino comenta o papel do treinador no futuro de um jogador
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Mas essa ligação de haver para tudo. Eles sabem que na vitória têm um treinador que festeja com eles e se tiver que dançar e brincar, está com eles. No dia do trabalho, no dia do treino, sabem que há uma exigência máxima, porque só assim é que nós conseguimos ter sucesso.

- Provoco eu agora. Temos visto que há 'Vitinha' no grupo, que tem um bocadinho do Bino como jogador, um criativo. Refiro-me ao Mateus Mide... 

Não (risos). Claro que nós ajudamos e fazemos parte do crescimento dos jogadores, mas nenhum jogador chega a profissional ou à elite à custa de nenhum treinador. Isso para mim está muito claro. Eles são jogadores à custa deles, do trabalho deles, da mentalidade que têm. Sinto que há treinadores que gostam de dar o cunho 'eu também participei nisto', mas para mim não. Eu ajudei eventualmente em situações para eles reverem o caminho. A partir daí, vai depender sempre do jogador, da mentalidade, de perceber o que tem de fazer para chegar à elite, a dificuldade que vai encontrar e como vai superar. Só na superação é que conseguimos crescer. Quando falamos de jogadores que saíram daqui, como o Vitinha, o João Neves, o Quenda, é sempre fruto da mentalidade deles, porque nós treinadores só colocamos a jogar aqueles que achamos que são os melhores. Se eles são os melhores, é fruto do trabalho deles.

- Para terminar, como é a sensação de ser campeão europeu, campeão do mundo e depois ser recebido pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, com o grupo todo?

A sensação é sempre muito boa. Para mim é de trabalho bem realizado, isso já me satisfaz e fico muito contente com isso. Agradecer também o facto de sermos recebidos pelo Presidente, as medalhas que nos deram, ainda por cima falando aqui de miúdos que ainda nem sequer são maiores de idade. O interesse que isto gerou também em Portugal, nós não tínhamos muita noção porque estivemos um mês e qualquer dia fora do país e estamos numa bolha. Estávamos focados no nosso trabalho, na recuperação de uns jogos para os outros, preparar os jogos... Mas quando acabou, a perceção que temos do burburinho gerado em torno de miúdos sub-17, foi de facto muito bonito.

Agradecer também a todos os portugueses pelo apoio que nos deram, aos que foram ao Catar, que foram impecáveis, sentimo-nos sempre em casa. A bancada de Portugal estava sempre cheia, a comunidade portuguesa que vive lá e nos arredores esteve sempre presente, os pais, os empresários e representantes dos clubes, porque foram de facto muito importantes, mesmo para nossos jogadores. Como passamos lá muito tempo, abrimos as portas do nosso hotel aos pais para eles poderem estar com os miúdos, para os libertar da pressão de querer estar sempre focados no trabalho e acabaram por ser muito importantes no desanuviar de alguma tensão. Agradecer à FPF porque nunca nos faltou nada, foi muito importante neste trajeto. Foi uma simbiose quase perfeita. E muito contente com este resultado final.

- Nós também, Bino. Um prazer. Antes de mais, de novo obrigado pela conquista para Portugal e obrigado por teres dado este pequeno espaço ao Flashscore.

Obrigado, eu. Um abraço para ti também.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa na receção à seleção nacional de sub-17 pela conquista do título mundial
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa na receção à seleção nacional de sub-17 pela conquista do título mundialMIGUEL A. LOPES/LUSA