Recorde as incidências do encontro
Ann-Katrin Berger olhou fixamente para a câmara e bateu com o dedo no peito. Depois, a guardiã da seleção alemã enviou uma mensagem comovente ao seu talvez maior fã, que certamente assistia ao jogo pela televisão.
"Avô, esta foi para ti", disse a praticamente intransponível guarda-redes da seleção alemã, no meio da celebração pelas suas façanhas heróicas contra a França no Euro. E, de certa forma, o avô de Berger, Herbert, teve mesmo uma espécie de participação no drama dos quartos de final com final feliz.
Avô "só vem à final"
"Já disse: ele só vem à final. E é para lá que quero ir", explicou a "matadora de penáltis", que retirou uma motivação especial da promessa do seu avô de 92 anos e que, por isso, pareceu despachar com facilidade a tarefa complicada de chegar às meias-finais. "Por isso tive de marcar um penálti, defender dois e agora é seguir em frente".
Graças, sobretudo, a Berger, uma das figuras mais comentadas deste torneio. A futebolista do ano destacou-se numa seleção alemã movida por uma vontade imensa de vencer, não apenas pela sua frieza nos momentos decisivos. Berger protagonizou “uma das melhores defesas de sempre num Europeu”, escreveu o The Guardian.
Referiam-se ao incrível mergulho aos 103 minutos, com o qual Berger conseguiu tirar no ar, em cima da linha, um cabeceamento infeliz de Janina Minge. O vídeo da defesa tornou-se viral nas redes.
Esqueceu-se das dicas do treinador
"Foi tudo instinto e reação", disse Berger, que admitiu nem perceber muito bem "como é que lá cheguei". As colegas não pouparam nos elogios.

"Foi fantástico. Inacreditável. De classe mundial", disse a ala Klara Bühl, destacando ainda "a incrível experiência de vida" da colega de equipa. Aos 34 anos, Berger já venceu por duas vezes o cancro da tiroide: "Ela é o ponto de equilíbrio da equipa". E acrescentou: Berger "mostrou o quão extraordinária é".
E nem precisou das dicas do treinador de guarda-redes. "Na verdade, nem olhei uma única vez. Esqueci-me", confessou Berger após o triunfo por 6-5 nos penáltis, referindo-se à garrafa de água onde estavam anotadas informações sobre as marcadoras adversárias.
A especialista em penáltis defendeu dois remates, ela que já tinha garantido o bronze olímpico para a seleção no ano anterior. Ainda teve fôlego para marcar um ela própria e não resistiu a uma pequena provocação aos críticos.

Críticos em silêncio
"Provavelmente ainda vou ouvir das boas do selecionador", disse Berger, em tom bem-humorado, depois de Christian Wück a ter criticado pelo seu estilo arriscado de drible no jogo contra a Dinamarca (1-2). Agora, afirmou a guarda-redes, "já compensei isso".
E de que maneira! "É notável a forma como a Anne lidou com os três primeiros jogos", disse a avançada Giovanna Hoffmann. Afinal, "não faltaram críticas". No entanto, apesar da exibição brilhante, Berger confessou estar "um bocadinho insatisfeita", porque "por vezes saltei demasiado cedo nos penáltis. O meu avô vai reparar nisso, de certeza".
Mas o avô provavelmente já estaria a dormir quando Berger, já depois da meia-noite, aguardava ansiosamente a sua reação. Berger disse que estava particularmente ansiosa pelo feedback do avô. Na manhã seguinte, é provável que tenha ido logo verificar as mensagens, porque: "Como sempre, estou à espera de uma mensagem".