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Feminino: Estudo ajuda a compreender por que razão há mais roturas dos ligamentos cruzados

Alexia Putellas foi uma das vítimas
Alexia Putellas foi uma das vítimasRFEF
Esmee Stuut, de 15 anos, corre entre cones num campo de futebol nos Países Baixos, enquanto todos os seus movimentos são captados por uma câmara, no âmbito de um estudo que visa determinar por que razão as lesões do ligamento cruzado do joelho afetam mais as mulheres. Uma das afetadas foi a internacional portuguesa Kika Nazareth, que espera recuperar a tempo do Euro-2025.

A lesão pode deixar um futebolista fora de ação durante vários meses e as raparigas adolescentes correm um risco maior, tanto por razões físicas como mentais.

"Muitas raparigas da minha idade passam por isto e fico feliz por poder ajudá-las um pouco desta forma", diz Stuut, jovem avançada do FC Groningen, um clube profissional do norte do país, sem fôlego.

O futebol é muito popular entre as raparigas e as mulheres nos Países Baixos, cuja seleção nacional feminina venceu o Campeonato da Europa em 2017 e chegou à final do Campeonato do Mundo em 2019. O pequeno país tem mais de 175.000 jogadoras registadas, um número que está a aumentar constantemente, em comparação com pouco mais de 250.000 num país muito maior como a França, por exemplo.

O teste físico que Stuut realiza durante uma sessão de treino serve para melhorar os movimentos das jogadoras e evitar a famosa lesão no joelho, o pesadelo de qualquer atleta. Mas o físico não é tudo: estudos mostram que a saúde mental desempenha um papel importante numa rotura do ligamento cruzado, uma lesão que requer cirurgia e meses de reabilitação para voltar ao nível competitivo.

"As raparigas correm um risco quatro a oito vezes maior de se lesionarem do que os rapazes durante a puberdade, com a diferença a começar a partir dos 12 anos", explica Anne Benjaminse, professora assistente na Universidade de Groningen.

A morfologia diferente, os ligamentos mais frágeis durante a menstruação, aliados a fatores mentais, como o stress ou a fadiga, formam o cocktail perfeito para um mau movimento.

"Grandes problemas"

"O divórcio, a morte, a mudança de casa, uma má nota na escola ou uma discussão, pequenas dificuldades aos nossos olhos, mas grandes problemas para elas", tornam-nas mais susceptíveis de se lesionarem, analisa Benjaminse à AFP.

A cientista desportiva está a liderar um grande estudo, em colaboração com a UEFA e a Federação Neerlandesa de Futebol, sobre a ligação entre os fatores psicossociais e o desenvolvimento da rotura do ligamento cruzado em raparigas e mulheres jovens.

As futebolistas do sexo feminino com idades compreendidas entre os 12 e os 21 anos têm de preencher regularmente um questionário sobre o seu estado de espírito durante a última semana, o que permite aos investigadores centrar melhor a prevenção na saúde mental.

O objetivo é que se torne um "elemento padrão" do programa de prevenção de um clube, a par, por exemplo, do treino de força e da nutrição, disse Ann Benjaminse.

"As raparigas devem ser capazes de comentar se não se sentem bem e é importante que os treinadores tenham isso em conta", sublinha.

Azar

Entretanto, Stuut continua a esforçar-se por fazer avançar a investigação no domínio físico: executa séries de movimentos com mudanças rápidas de direção, com ou sem bola, e depois com uma defesa a aparecer no último momento.

Henderika Kingma, 28 anos, diretora de futebol feminino do FC Groningen e treinadora de Stuut, espera que os estudos dêem frutos. Duas das suas jogadoras sofreram roturas dos ligamentos cruzados no final da época.

"Temos de fazer tudo para evitar esta lesão nas jovens jogadoras" e "graças a estes estudos, sei que as minhas raparigas estão conscientes" do problema, declarou à AFP.

Mas, admite a cientista Anne Benjaminse, "em alguns casos, é simplesmente uma questão de azar".