Horas que poucos invejariam. Repletas de tensão, de adrenalina. Momentos de alegria fugaz rapidamente substituídos por desilusão. Mas tudo voltou a mudar em menos de 24 horas e a família de Dávid Hancko, de 27 anos, está agora encantada com o importante passo dado na sua carreira. O pai, Ján Hancko, contou ao Flashscore as peripécias e emoções que marcaram esta transferência.
O líder da seleção eslovaca e, até há pouco, capitão do Feyenoord de Roterdão estava preparado para assinar um contrato milionário com o Al-Nassr, da Arábia Saudita. Mas ao chegar à Áustria, onde a equipa orientada por Luís Castro realizava o estágio de pré-temporada, foi surpreendido.
A nova direção do clube, onde joga Cristiano Ronaldo, comunicou aos representantes de Dávid Hancko que já não contavam com o jogador e que o acordo estava anulado. Nem sequer enviaram ao Feyenoord o montante previamente acordado pela transferência do defesa-esquerdo. Assim, Hancko rumou de imediato à Alemanha, onde o emblema neerlandês se encontrava a treinar, ainda com contrato válido até 2028.
“Não tínhamos um bom pressentimento. As coisas estavam a arrastar-se. Apesar de tudo, o Dávid dizia que não havia problema. Acima de tudo, que a família estava bem, que há coisas mais importantes na vida. Aceitámos ao estilo de quem acredita que tudo acontece como deve ser”, revelou o pai, Ján Hancko.
Notificação à família via Whatsapp
Os pais de Dávid Hancko já tinham afastado a ideia de uma transferência. Estavam em casa, a limpar a garagem, quando receberam uma notificação no telemóvel.
“A minha filha, irmã do Dávid, perguntou-lhe no nosso grupo familiar se era verdade aquilo do Atlético. O Dávid respondeu que sim. E foi assim que soubemos que algo estava a acontecer outra vez”, contou o pai do jogador, duas vezes eleito segundo Futebolista do Ano na Eslováquia, em 2023 e 2024.
A transferência falhada para a Arábia Saudita acabou por desencadear, horas depois, a concretização de um novo destino: o Atlético de Madrid. O clube espanhol pagou cerca de 30 milhões de euros pelo defesa-esquerdo, tornando-o o futebolista eslovaco mais caro da história. Superou, assim, o anterior recorde estabelecido por Milan Škriniar, contratado pelo Inter de Milão à Sampdoria por 24 milhões, em 2017.
“Depois de tudo o que se passou nos últimos dias, uma verdadeira montanha-russa, a única palavra que me ocorre é alívio. Claro que também sentimos felicidade e orgulho. Sinto que me saiu um peso do coração. Toda a família sabe, e especialmente o Dávid e a mulher dele, o que devem valorizar. Agora podem finalmente fazer planos para o futuro”, concluiu o pai.
Um dinheiro que também ajudará a sua Prievidza natal
O pai do ex-capitão do Feyenoord é atualmente treinador da equipa sub-15 do Baník Prievidza. Além disso, desempenha funções de diretor executivo do clube desde que Dávid Hancko se tornou proprietário da instituição.
“Uma parte importante do valor que ele irá receber será usada, conforme acordado, para pagar a compra do clube ao proprietário anterior”, revelou o próprio.
Na época passada, a equipa principal do Baník Prievidza conseguiu a subida da quarta para a terceira divisão eslovaca, onde irá competir pela primeira vez em sete anos. Com a recente transferência milionária de Hancko para o Atlético de Madrid, o clube prepara-se para receber uma injeção financeira significativa, um apoio valioso para os mineiros de Horna Nitra, como são carinhosamente conhecidos.

"Em primeiro lugar, não conheço os detalhes do contrato. Dávid tem uma agência que o representa desde o início da sua carreira e isso é da sua competência. Não comunicámos nada a esse respeito. Não sei quanto dinheiro chegará nem em que condições. No entanto, não é a primeira vez que é transferido. Já mudou de clube várias vezes no passado e o valor chegou em momentos diferentes", acrescenta Hancko pai.
"Claro que, quando chegar, vamos proceder como até agora. Vamos sentar-nos com a direção e avaliar para fazer o melhor uso possível para o clube. Também vou querer ouvir a opinião de Dávid sobre como ele vê a situação. Além da direção, há também sócios que investem o seu dinheiro. Também ouvirei a opinião deles", revelou o referido técnico.
Lenda do Feyenoord
Dávid Hancko despede-se do Feyenoord após três épocas de sucesso. Sai no auge, com a braçadeira de capitão no braço e um troféu conquistado em cada temporada. Na primeira, sagrou-se campeão dos Países Baixos; na segunda, levantou a Taça; e na terceira, conquistou a Supertaça. A cereja no topo do bolo foi a participação na mais prestigiada competição europeia: a Liga dos Campeões.
“Antes dessa época da Liga dos Campeões, já se falava numa possível transferência, mas acabou por não ir para lado nenhum. Na altura, disse-lhe que, na pior das hipóteses, jogaria a Champions e foi o que aconteceu (risos). O Feyenoord foi mais longe do que em qualquer outra participação em décadas”, destacou o pai de um dos melhores futebolistas da região dos Tatras.
Em Roterdão, Hancko acumulou 140 jogos oficiais, com um registo de 15 golos e 12 assistências.
“Até agora, teve a sorte de viver em cidades incríveis: Praga, a histórica Florença e a moderna Roterdão, bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial. Vou sempre associar este triénio à cidade e ao meu neto, Adamek, com quem me diverti imenso por lá. Além disso, o clube tem adeptos fanáticos, que acompanham a equipa até no aquecimento”, recordou Ján Hancko, com emoção.
Cinco anos de contrato e a batuta de Simeone
Será o terceiro eslovaco na LaLiga espanhola. No Maiorca, Dominik Greif defende e Martin Valjent joga. Assinou um contrato de cinco anos com o Atlético de Madrid, que expira na temporada 2029/2030. Depois de Arne Slot e Stefano Pioli, espera-o a batuta de Diego Simeone.
"Dávid diz sempre que a verdade está no relvado. Antes de mais, ele tem de confirmar tudo em campo. Espero que ele faça tão bem quanto no Feyenoord. Em muito pouco tempo, conquistou a titularidade. Depois disso, fez 119 jogos consecutivos como titular. Só foi poupado na Taça. Em três anos, só faltou a dois ou três jogos de competição", acrescentou o mais velho dos Hancko.
O gigante de ferro tem um novo desafio pela frente. Vai defender craques mundiais como Lamine Yamal, Kylian Mbappé, Robert Lewandowski ou Jude Bellingham. Os colchoneros iniciarão a próxima edição da Liga em 17 de agosto contra o Espanyol.