Karim Benzema: "Mbappé tem de levar o Real Madrid aos troféus, não sozinho, mas com os outros"

Karim Benzema, avançado francês do Al Ittihad
Karim Benzema, avançado francês do Al IttihadYasser Bakhsh / GETTY IMAGES EUROPE / Getty Images via AFP

Numa entrevista concedida ao "L'Equipe" esta quinta-feira, Karim Benzema abordou vários temas: a sua passagem pela Arábia Saudita, a seleção francesa, Ousmane Dembélé, Zinedine Zidane, o Olympique Lyon e também a atualidade do Real Madrid.

Balanço no Al Ittihad após duas épocas na Saudi Pro League: "Um balanço muito positivo, porque foi um projeto global. Estive no início do projeto saudita com o futebol, para tentar desenvolvê-lo. Nesse aspeto, os primeiros tempos foram um pouco complicados. Para mim, foi uma mudança radical. Descobri outro futebol, outra mentalidade. Foi como começar do zero. Na minha primeira época (2023-2024), o meu nível futebolístico foi mediano. Muito mediano mesmo (9 golos e 8 assistências em 21 jogos). A minha segunda época foi muito, muito boa. Voltei a sentir-me bem (21 golos e 9 assistências em 29 jogos)."

Nível do futebol saudita: "Em três anos, o futebol já evoluiu bastante aqui. É mais físico, joga-se mais rápido e ainda vai melhorar. No Mundial de Clubes, vimos que o Al Hilal conseguiu enfrentar o Real Madrid (1-1) e eliminou o Manchester City (4-3 após prolongamento, nos oitavos de final). Portanto, não se pode pensar que é fácil aqui. Não está ao nível da Europa, mas não está longe".

Sobre os Bleus e o sentimento de inacabado: "Não é inacabado. Todos os jogadores que vão à seleção francesa querem ganhar um Mundial, querem ganhar o Europeu. Mas porquê inacabado? Fiz o que tinha de fazer. Tentei, estive lá. Não correu bem, é assim. Não joguei na seleção nacional durante seis anos (2015-2021). Voltei, ganhei a Liga das Nações em 2021. Fomos ao Europeu, destaquei-me (4 golos), mas fomos eliminados. É a vida".

Candidato a disputar o Mundial? "Mas quem não quer jogar o Mundial? Toda a gente quer participar nessa competição. Depois, dizer-te: será que me vão convocar... Como sou alguém que gosta de futebol e de competição, obviamente, se me disseres para ir à seleção francesa jogar um Mundial e eu te disser que não, estou a mentir".

Saída discreta do Qatar antes do início do Mundial-2022: "Não estou aqui para falar dessas coisas. E não estou aqui para voltar a esse assunto... Já está, acabou. Vamos falar dessa história durante trinta anos? Não estou aqui para alimentar mais polémicas. Para mim, é passado. Seguimos em frente".

Regresso aos Bleus se Zidane se tornar selecionador: "Não se sabe o que vai acontecer. Se o Zizou, um dia, for selecionador da seleção francesa, desejo-lhe o melhor. De qualquer forma, o Zizou vai ganhar. Seja no clube, na seleção... Onde quiser, ele vai ganhar. Falamos sempre. Temos uma relação excecional. O Zizou, pelo que fez em Madrid, é o número 1 dos treinadores".

Ousmane Dembélé: "Estamos a falar de um jogador que ganhou a Bola de Ouro. E, na minha opinião, não se fala o suficiente dele. Porque o que fez no PSG nunca se tinha visto. Acho que não se valoriza o suficiente o que ele fez. Porque, na verdade, é o melhor jogador do mundo. E não se destaca o suficiente a época que realizou. Porque ele veio de longe. Teve muitas lesões, a sua passagem pelo Barça... Não era propriamente o jogador em quem se pensava: 'Talvez um dia ganhe a Bola de Ouro...'. Estava longe disso. No fim, provou o contrário".

Real Madrid: "O que lhes falta é apenas uma ligação. Entre Mbappé, Vinicius, Bellingham, Rodrygo. Cada um tem de saber o que deve fazer no relvado. O Bellingham tem de perceber que é o organizador, não o goleador. O Mbappé é o goleador, não o organizador. O Vinicius não é o médio defensivo, é o extremo esquerdo. Desde que cada um saiba o seu papel no relvado, está feito. Porque estamos a falar de jogadores que estão entre os dez melhores do mundo, e estão todos na mesma equipa".

A culpa é de Xabi Alonso? "Não, o treinador não pode fazer nada. Tem os nomes, coloca os melhores. Depois, é entre jogadores... Se o teu colega é melhor do que tu, tens de aceitar. O problema é se não aceitas que o jogador à tua frente marque mais golos do que tu. É por isso que há problemas quando tens cinco ou seis grandes jogadores juntos. Todos vão contribuir. E, no fim, o goleador será sempre um pouco mais destacado do que os outros. Mas precisa sempre dos outros. Não se pode fazer tudo sozinho. (...) No Real, não há um jogador mais experiente que possa dizer ao Bellingham, ao Mbappé ou ao Vinicius o que está mal. Por isso, é complicado... O treinador, na minha opinião, diz-lhes, mas de outra forma".

O futebol atual: "Hoje em dia, o futebol... Sinceramente, está muito complicado. Os jogadores já não falam uns com os outros. E nota-se, na verdade. É: 'Eu fiz o meu trabalho, marquei os meus golos'. É isto o futebol de hoje. A crítica é sempre difícil de aceitar. Mas, na verdade, faz-nos evoluir. Se a aceitares bem, evoluis. É melhor para ti e para todos. Mas Madrid, sinceramente, é complicado, há jogadores bons demais".

Kylian Mbappé: "Marca imensos golos e vai continuar a marcar, como fazia no PSG. Mas o mais importante para o Mbappé é que o Real Madrid contratou-o para, nos momentos decisivos, fazer a equipa ganhar. E ele é capaz disso. É essa pressão que tem de assumir e dar esse pequeno passo de líder do ataque, porque é ele que tem de levar o Real Madrid aos troféus. Atenção: não sozinho, mas com os outros".

Terminar a carreira em Lyon: "É delicado dizer 'quero voltar lá', porque deixei uma imagem tão bonita... Nunca se sabe o que pode acontecer. Não é medo de regressar. Às vezes, é melhor deixar as coisas como estão. Ajudar o clube, talvez noutra área... Mas jogar, não sei".

Futuro diretor de academia? "Quero transmitir a minha visão do futebol, o futebol que gosto. Não te vou dizer que se está a perder esse futebol, mas gostava que se visse no futebol dos mais jovens, porque começa aí, na formação. Quero fazer coisas desse género. Diretor desportivo ou presidente de um clube? Pode ser isso, ou talvez treinador, ou outras funções. Gosto de tudo o que está perto do relvado".

Apoio a Jean-Michel Aulas: "Tem de ser presidente da Câmara de Lyon, porque esse é o seu lugar. É ele que vai fazer avançar as coisas, que vai mexer com tudo. Eu só lhe desejo isso: ser presidente da Câmara. Se é mesmo isso que ele quer, tem de ir em frente. Seria excelente para a cidade de Lyon".