NÃO - Pablo Gallego
Xabi Alonso não é perfeito. Tem o seu temperamento, a sua forma de comunicar, a sua visão do futebol e da vida... resumindo, como qualquer pessoa, tem defeitos. No entanto, se há algo que não se pode negar, é a sua vontade de fazer o melhor desportivamente no Real Madrid.
Antes de mais, é fundamental recordar o contexto da personagem. Chegou em 2009 para ajudar a reconstruir uma equipa que estava morta na Europa, e o basco saiu em 2014 como uma lenda, sem alarido, depois de conquistar a tão aguardada décima Liga dos Campeões. É importante lembrar a este grupo de jogadores a marca que Xabi Alonso deixou na história do clube. Ele, o cérebro de uma futura geração dourada, que, entre outras coisas, permitiu pôr fim a uma obsessão traumática de 12 anos sem vencer a Champions. Recordemos Vini, Valverde, Rodrygo, Camavinga, Bellingham e todos os outros que, sem o seu atual treinador, provavelmente nunca teriam conquistado a Liga dos Campeões.
No entanto, isto é apenas um pormenor. A verdade é que alguns destes jogadores parecem perdidos, não tanto em termos desportivos, mas consigo próprios. No ano passado, criticaram a "falta de trabalho tático" de Ancelotti ao ponto de deixarem transparecer o seu descontentamento com o italiano. Agora dão a entender que sentem falta de Carletto e que Xabi Alonso não se encaixa na sua forma de trabalhar, já que este último dá demasiadas indicações e prolonga-se nas sessões de vídeo. Onde está a coerência destes rapazes? Ou melhor, aqui temos uma bela prova de incoerência, quase absurda.

Então, de quem é o problema? Um treinador que tenta implementar regras e um método de trabalho semelhante ao que se faz nos grandes clubes europeus? Ou estes jogadores, que se revoltam, incapazes de seguir os conselhos de alguém que tem muito mais a dar do que a tirar?
A isto juntam-se as exigências de cada um e, consequentemente, uma segunda preocupação. Um quer o salário de Cristiano Ronaldo, outro julga-se Toni Kroos, outro já não quer jogar no meio-campo depois de ter experimentado marcar golos como falso 9...
O que faz a direção que vendeu Özil, Di María, Cristiano Ronaldo, Sergio Ramos, Varane ou Casemiro sem remorsos? A verdade é que está focada noutros assuntos que não o futebol: o estádio, a estrutura do clube, o futuro do futebol... Se o que se passa dentro de campo não interessa, então deixou-se seduzir sobretudo por certas personalidades presentes naquele balneário. Vinicius Jr., em primeiro lugar. Sim, o tempo passa e Florentino Pérez tornou-se demasiado próximo de alguns, deixando, provavelmente contra a sua vontade, Xabi Alonso sozinho perante a sua realidade. E isso é um problema, porque um simples murro na mesa do presidente resolveria tudo. Por isso, não, despedir Xabi Alonso não resolveria nada no Real Madrid, apenas adiaria o problema para amanhã.

SIM - Miguel Baeza
Vou ser direto: afastar Xabi Alonso agora poderia ser positivo para melhorar o ambiente no balneário para o resto da época, embora não acredite que seja a melhor decisão a longo prazo, já que no próximo ano, provavelmente, surgirão outros problemas causados pelos mesmos jogadores que continuarão na equipa.
E é que, pelo seu caráter rígido e exigente, o espanhol entrou logo de início com o pé esquerdo num balneário habituado à liderança tranquila de um dos melhores de sempre, Carlo Ancelotti. Xabi Alonso, infelizmente, tentou impor a sua lei à força e, por vezes, sem o critério que se exige a um treinador do Real Madrid. Pode dizer-se que há um certo aroma a Rafa Benítez, guardando as devidas distâncias do que cada um foi enquanto jogador.
No entanto, é por esse caminho que lhe falta alguma humildade ao antigo médio de sucesso. A sua carreira como jogador já terminou. Agora, os seus jogadores veem-no como mais um treinador, com boas ideias e que conquistou uma Bundesliga de forma histórica, mas apenas mais um. E, por muito que queira, não é Zidane nem Guardiola para poder comandar só pelo peso do seu nome.

Assim, deveria ter conquistado algum respeito antes de iniciar certas batalhas nas quais demonstrou alguma incoerência. A principal cruzada em que se envolveu é o confronto com Vinicius, que nem sempre reagiu da melhor forma, mas que tinha razão no seu descontentamento ao ser substituído quando estava a ser o melhor em campo. Alonso reconheceu o erro, mas de forma pouco convicta e rapidamente voltou a insistir.
Na minha opinião, tudo se complicou com o regresso de Bellingham. Sem que o inglês tivesse feito por merecer, tornou-o intocável. Não precisou de provar nada, e mesmo não estando em forma durante quase um mês, algo que, se não incomodou o 7 brasileiro, deveria ter incomodado, pois foi uma injustiça para si.
Resumindo, penso que o desafio de liderar o Real Madrid está a ser demasiado grande para o basco. É um desafio que, se lhe tivesse surgido mais tarde, lhe daria menos dores de cabeça. Agora, peca por falta de sensibilidade, chegando a fazer críticas públicas quando poderia ter resolvido tudo em privado. A situação está longe de ser reversível, sobretudo tendo em conta que até ele próprio perdeu o respeito por si mesmo, sendo incapaz de pôr em prática o plano com que chegou a Madrid, mesmo que isso implicasse deixar alguns pesos pesados no banco. Por isso, acredito que a sua saída ajudaria a endireitar o rumo dos merengues.

