Tribunais do trabalho vão decidir o caso PSG contra Mbappé

Kylian Mbappé agora no Real Madrid
Kylian Mbappé agora no Real MadridJOSE BRETON / NURPHOTO / NURPHOTO VIA AFP

O conselho de prud'hommes de Paris deve decidir esta terça-feira o litígio de longa data entre Kylian Mbappé e o seu antigo clube, o PSG, com ambos a exigirem somas astronómicas à parte adversa após a separação tumultuosa no verão de 2024.

No entanto, não se pode excluir que o caso seja adiado para uma audiência posterior pelos quatro conselheiros do tribunal do trabalho: os dois representantes dos empregadores e os dois dos trabalhadores poderão então contar com o apoio de um juiz profissional para este processo delicado e de grande importância.

"O caso não ficará resolvido amanhã", antecipa mesmo em privado um dos intervenientes, referindo também a possibilidade de recurso. A audiência de 17 de novembro confirmou que nenhum dos lados, nem os seus exércitos de advogados, pretendia ceder um milímetro.

O clube da capital exigiu um total de 440 milhões de euros ao seu antigo avançado. Ao mesmo tempo, os advogados do capitão dos Bleus reclamam 263 milhões de euros ao PSG, nomeadamente com base numa requalificação do seu contrato de CDD (contrato a termo certo) para CDI (contrato sem termo).

No centro do debate estão os salários e prémios em atraso no final do contrato da estrela, no verão de 2024, agora ao serviço do Real Madrid, num valor de 55 milhões de euros. Foi Kylian Mbappé quem, depois de tentar sem sucesso obter esses valores junto das instâncias desportivas, processou o PSG nos tribunais do trabalho.

Contra-ataque

Para atingir este montante, os advogados do avançado do Real alegam, entre outros motivos, despedimento sem justa causa (44,6 milhões de euros), assédio moral e trabalho dissimulado (duas vezes 37,5 milhões de euros) e ainda execução desleal do contrato de trabalho (19 milhões de euros).

Mas o clube da capital, ciente de que o direito laboral francês protege os trabalhadores, optou por uma estratégia de contra-ataque com estes 440 milhões de euros reclamados. Após tentativas de conciliação, trata-se agora de proteger a instituição perante um comportamento do jogador considerado desleal, confidencia uma fonte próxima da direção do PSG.

O clube baseia-se na existência, segundo a sua versão, de um acordo verbal entre as duas partes no verão de 2023, para que o jogador, ao sair a custo zero – ou seja, sem indemnização de transferência – não prejudicasse financeiramente o seu empregador "após o investimento excecional realizado".

A contestação deste "acordo claro e documentado causou ao PSG um prejuízo considerável", considera o clube.

O advogado Me Renaud Semerdjian detalhou os pedidos de indemnização: "20 milhões por danos de imagem, 60 milhões por má-fé na execução de um acordo datado de agosto de 2023, 180 milhões pela ocultação desse acordo e 180 milhões pela perda de oportunidade de transferir o jogador".

Afastamento

Do lado de Mbappé, considera-se que estes valores não têm qualquer fundamento jurídico e dificilmente serão tidos em conta pelos conselheiros do tribunal do trabalho. Espera-se que os conselheiros se concentrem nos 55 milhões em dívida: "O Sr. Mbappé não faz qualquer pedido excecional e solicita apenas a aplicação do direito do trabalho, como qualquer trabalhador", afirmam os seus advogados.

O litígio tem envenenado as relações entre as duas partes. O avançado foi afastado do plantel principal no início da época 2023/24 pelo PSG porque pretendia cumprir o contrato até ao fim sem o prolongar. Uma decisão que privava o clube parisiense de uma valiosa indemnização de transferência.

Mbappé acabou por ser reintegrado após a primeira jornada do campeonato. Mas, ao comunicar à direção, em fevereiro de 2024, a sua intenção de sair, a relação deteriorou-se ainda mais.

A saída do melhor marcador da história do clube ocorreu na primavera, sem pompa, sem qualquer outro evento público, exceto a homenagem de alguns minutos organizada pelos "ultras" da bancada Auteuil após um jogo.