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Opinião: É permitido dizer "não" a Kasper Schmeichel?

Kasper Schmeichel com dores durante o jogo da Liga das Nações contra Portugal
Kasper Schmeichel com dores durante o jogo da Liga das Nações contra PortugalCal Sport Media, Cal Sport Media / Alamy / Profimedia
Após a amarga eliminação da Dinamarca nos quartos de final da Liga das Nações, frente a Portugal, a continuidade de Kasper Schmeichel na seleção nórdica tem sido um tema quente nos meios de comunicação dinamarqueses.

Numa pequena nação que tem um enorme orgulho nos seus heróis desportivos, o nome Schmeichel, tal como o nome Laudrup, é praticamente intocável. Colocar em causa a possível seleção de Kasper para a equipa nacional é certamente deixar-se vulnerável a críticas.

No entanto, o jogo da Liga das Nações contra Portugal deverá constituir um marco para o futebol dinamarquês, uma vez que, idealmente, seria a última vez que vimos Schmeichel em ação pela seleção.

Tanto Peter como Kasper Schmeichel tiveram uma enorme importância para o futebol dinamarquês durante décadas e o seu contributo não pode ser posto em causa. Mas tudo o que é bom acaba por ter um fim e, a julgar pela prestação de Schmeichel em Lisboa, no domingo, devemos ter chegado ao fim da era Schmeichel na seleção dinamarquesa.

Schmeichel, de 38 anos, está há muito tempo longe do nível que mostrou durante o Campeonato do Mundo de 2018 e também durante o Euro-2021, onde foi um fator decisivo na qualificação da Dinamarca para as meias-finais.

Depois de deixar o Leicester, não conseguiu manter uma vaga na equipa principal do Nice e do Anderlecht, antes de se transferir para o Celtic, onde trabalha atualmente numa liga onde o nível é geralmente inferior ao da Superliga dinamarquesa.

Há quem possa dizer que a sua atuação no domingo foi heróica, pois defendeu um penálti cobrado por Cristiano Ronaldo e optou por ficar em campo (já que o treinador Brian Riemer tinha utilizado todas as suas substituições), apesar de ter sofrido enormes dores no ombro após uma queda desajeitada durante o prolongamento.

Mas foi o que aconteceu pelo meio que provou claramente que os dias de Schmeichel na seleção estão contados.

Aos 38 minutos, quando Portugal chegou à vantagem, Schmeichel pareceu lento e não mostrou o atletismo necessário para se virar rapidamente na direção oposta, apesar de a bola ter estado muito tempo no ar antes de rolar para o fundo da baliza.

Apesar das falhas de Schmeichel, a Dinamarca estava a apenas quatro minutos de garantir a passagem às meias-finais, quando outro erro do guarda-redes se revelou fatal para os dinamarqueses.

Um cruzamento de Portugal foi desviado no ar, dando a Schmeichel tempo suficiente para sair e apanhar a bola. Mas, em vez disso, o seu mau remate causou uma confusão desnecessária na retaguarda dinamarquesa e a bola acabou por cair no pé de Francisco Trincão, que rematou para o fundo das redes quando os dinamarqueses estavam à beira de causar uma grande reviravolta.

Schmeichel também teve muita culpa quando a Dinamarca teve um início desastroso no prolongamento. Em vez de desviar um remate de longa distância para canto, Schmeichel desviou a bola diretamente para Trincão, que recebeu o segundo presente da noite do guarda-redes dinamarquês.

Brian Riemer tem sido elogiado pela sua coragem até agora no seu curto reinado na seleção dinamarquesa, desde que substituiu Lars Knudsen. Riemer não quis atribuir qualquer culpa a Schmeichel depois da sua atuação em Portugal, mas disse, a propósito do golo do empate (2-2), que o posicionamento de Patrick Dorgu também podia ser responsabilizado.

Riemer pode ser perdoado por ter dado a Schmeichel a oportunidade de brilhar em Lisboa, numa equipa pouco experiente em lidar com cenários de tensão como o da capital portuguesa. Mas, depois de ter iniciado a sua carreira no comando da seleção dinamarquesa, Riemer tem a oportunidade perfeita para marcar uma posição e mandar Schmeichel para a reforma com a camisola vermelha e branca da seleção.

Schmeichel não consegue evitar o golo de Ronaldo em Lisboa
Schmeichel não consegue evitar o golo de Ronaldo em LisboaFlashare

Não é que faltem opções para Riemer encontrar um substituto para Schmeichel. Mads Hermansen, do Leicester, passou por momentos difíceis na Premier League nesta temporada, mas a maioria das pessoas argumentaria que ele foi vítima de uma retaguarda defensiva frágil do Leicester, que deixou o guarda-redes dinamarquês em apuros em várias ocasiões.

Hermansen está entre as estrelas do Leicester que jogaram mais minutos nesta temporada e, sem ele, os Foxes já poderiam ter sido despromovidos. Na verdade, Hermansen vem sendo cotado há muito tempo para se tornar o próximo número um da Dinamarca.

Além disso, Brian Riemer também conta com o luxo de ter Filip Jorgensen, do Chelsea, à sua disposição. Jorgensen tornou-se, em tempo recorde, a primeira opção no clube londrino, e o seu desempenho no Villarreal e na seleção dinamarquesa sub-21 é um bom presságio para um futuro brilhante.

Riemer não deve aceitar uma situação na seleção em que é mais fácil perdoar erros se o seu nome for Schmeichel. Por isso, é hora de abrir caminho e dar espaço para Hermansen e Jorgensen impressionarem.