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Exclusivo com João Fonseca: "A motivação de estar no Benfica supera os desafios e os sacrifícios"

João Fonseca, defesa-central do Benfica B
João Fonseca, defesa-central do Benfica BFlashscore/SL Benfica

João Fonseca, defesa do Benfica, é já um dos exemplos de sucesso da formação do clube encarnado. Começou no Recreio Desportivo de Águeda, antes de rumar ao Centro de Formação e Treino (CFT) do Benfica em Aveiro, de onde deu o salto para o Benfica, e para o Seixal, em 2018. Agora, com 19 anos, afirmou-se na equipa B das águias. Em entrevista exclusiva ao Flashscore, João Fonseca lembra a transição para o Benfica Campus, os primeiros tempos longe da família e fala da metodologia que o permitiu estar, no primeiro ano de sénior, a competir na Liga 2.

- São já nove anos de Benfica e de Seixal. Com apenas 19 anos, tem sido uma grande aventura?

Sim, é uma aventura muito bonita, cada vez vai-se tornando mais séria. O futebol era uma forma de diversão e de praticar desporto, até chegar ao Benfica. Fui para o CFT, que é uma maneira de quem é de longe e quem não é de tão perto de Lisboa conseguir estar ao serviço do Benfica e estar na sua localidade, e aí começou a ficar mais sério. Depois vim para o Seixal e tem sido muito bom.

- E como é que foi essa experiência em Taveiro antes de rumar ao Benfica Campus?

- É tudo muito profissional. A grande diferença que eu senti foi mesmo ao nível das infraestruturas. Os treinadores eram todos muito competentes. Depois acabávamos por ter torneios em que se juntavam vários jogadores de CFT's, tínhamos um bom convívio e foram momentos muito felizes, que eu vou recordar sempre.

- E chegando aqui, o trabalho segue a mesma linha do que era feito lá.

- Sim, sim.

- Não estranhou a mudança, os métodos de trabalho?

- Não, é uma continuação do trabalho desenvolvido. Lá já era muito parecido e foi uma adaptação fácil a nível de treino.

Paulo Cintrão com João Fonseca
Paulo Cintrão com João FonsecaSL Benfica

- Veio para o Benfica para os sub-13. Ainda se lembra do primeiro dia no Benfica Campus?

- Lembro-me da primeira manhã que acordámos todos às sete da manhã para ir jogar à bola todos juntos. Lembro-me do nível de excitação em que estávamos todos, e de felicidade. E acho que também foi muito importante viver aqui, ter a minha autonomia, crescer enquanto pessoa e acho que estarmos aqui todos, também desenvolvemos amizades para a vida.

- Como é que era o dia a dia quando residia aqui no Benfica Campus?

- Dependendo dos escalões ia mudando, mas no início sempre foi escola de manhã, chegávamos ao fim da tarde e treinávamos. Depois nos patamares mais profissionais, a escola é de tarde, para podermos treinar de manhã. Existe mais flexibilidade por parte do Benfica e depois também do Colégio Guadalupe podermos treinar durante a manhã.

- Basicamente, sempre teve todas as condições.

- O Benfica também sempre nos passou essa mensagem de que era muito importante para nós fazermos até ao 12.º ano. Até aos nossos 18 anos temos de estar na escola.

"Benfica é a nossa segunda família"

- Durante todo esse tempo também assistiu às melhorias que foram sendo feitas no Benfica Campus. Sente-se parte dessa evolução?

- Sim, sinto. Realmente, desde o dia em que cheguei, parece que cada ano que passa, cada mês de passa, há sempre algo novo, e está sempre em evolução.

- Tem, portanto, aqui uma segunda família.

- Sem dúvida. Acabo por passar mais tempo aqui do que com propriamente a minha família, e é mesmo isso que nós dizemos, é a nossa segunda família aqui.

- Sentiu saudades da família nos primeiros tempos? 

- Nos primeiros anos acho que não senti muito, se calhar um bocado por ingenuidade ou por ser um bocado imaturo, estava só feliz por jogar à bola. Os meus pais também sempre vieram ao fim de semana, estava no paraíso. Acho que os anos mais difíceis foram aqueles de transição para a vida adulta, ou seja, aos 16, 17 anos, em que nós estamos aqui a viver e se calhar já queria a minha liberdade, e depois quando passei para viver lá fora. Mas já melhorou.

- O mister até nos contou que a alguns teve de ensinar a fazer a barba.

- Comigo nunca aconteceu, mas é uma realidade.

- Chegar aqui implica muito sacrifício. Estar num clube como o Benfica exige muito. O nível de exigência é altíssimo. Conviveu bem com isso desde o primeiro dia?

- Sim, acho que a partir do momento que uma pessoa escolhe, que quer isto para a vida, tem de abdicar de muitas coisas, tem que se sacrificar. E acho que se calhar custa um bocadinho mais no início, mas depois é uma rotina e vale tudo a pena porque estamos a representar este clube e estamos a perseguir o nosso sonho.

- Ou seja, no fundo, a vontade que tem superou todas as dificuldades que encontrou.

Exato.

João Fonseca em entrevista ao Flashscore
João Fonseca em entrevista ao FlashscoreSL Benfica

- Está num dos melhores centros de formação do mundo. Tem consciência disso?

Claro que sim, sempre foi passada essa mensagem, nós temos plena consciência disso, é uma oportunidade muito boa e acho que a motivação de estar cá vai superar sempre os desafios e os sacrifícios.

- Daqui saíram alguns dos melhores jogadores do mundo. Foram esses exemplos que serviram também como ensinamento, ou seja, um estímulo adicional para chegar ao topo?

- Claro, acho que quando se vê que estamos numa formação que produz tanto talento e tantos jogadores que já conseguiram atingir patamares elevados, também nos faz crer que é mais possível do que se estivéssemos, por exemplo, num outro sítio, em que os jogadores não sobressaissem tanto. Aqui nós sentimos mesmo que se fizermos as coisas da maneira correta, temos mais possibilidades de lá chegar.

"Tirar o melhor de cada um e tentar copiá-los"

- O João é defesa central, tal como o Rúben Dias, também formado no Benfica. É um exemplo ou tem outra referência?

- Gosto muito do Rúben Dias, do Tomás Araújo, do António Silva, de todos os que acabaram por chegar à equipa A. São, sem dúvida, um exemplo e é tentar tirar o melhor de cada um e tentar copiá-los.

- É o seu primeiro ano de sénior. Vê-se a breve prazo a pisar o Estádio da Luz? Jogar ao lado do António Silva, por exemplo?

- Sim, isso é um objetivo de todos os jogadores que estão aqui. Acho que o importante é ter os pés assentes na terra, tentar fazer o meu caminho no dia a dia e não pensar tanto a longo prazo. Mas claro que é um objetivo.

- Está integrado na equipa B, no seu primeiro ano de sénior. Antes disso, jogou sempre um escalão acima. Isso significa que está mais preparado que os outros? Sente-se um jogador à parte?

- Não, não me sinto um jogador à parte. Acho que isso são fases. Por exemplo, existiram fases em que eu jogava no mesmo escalão e se calhar nem sequer jogava. Nestas idades da formação, acho que cada tem o seu caminho próprio, e acho que não vale a pena estarmos a comparar-nos com ninguém. Mas considero que isso fez-me evoluir, jogar contra jogadores mais fortes do que eu.

- Tem uma carreira curta mas já intensa. Esteve inserido em quatro competições enquanto júnior: Liga 2, Premier League Internacional Cup, Youth League e Liga Revelação. São mais jogos, mais experiência. Toda essa exigência terá impacto nesta transição para sénior?

- Claro, e acho que também representa um bocadinho do que é o sucesso em Benfica, também proporcionar-nos estas oportunidades todas, estes contextos competitivos e também jogar sempre contra jogadores mais velhos. Acho que é por isso também nos desenvolvemos e evoluímos muito mais rápido.

João Fonseca, central de 19 anos do Benfica
João Fonseca, central de 19 anos do BenficaSL Benfica

- No Benfica, oito em cada dez jogadores chegam a profissionais. Tinha noção disso?

- Não sabia. Acabei de saber mas não me surpreende. Porque o método de trabalho, aquilo que se vê, acho que refletem aquilo que é feito aqui, e está aí agora em números.

- Tem 41 internacionalizações pelas seleções nacionais, com três golos marcados. Vestir aquela camisola é a extensão do trabalho efetuado aqui?

- Sem dúvida. A seleção reconhece aquilo que nós fazemos no clube. Se nós fizermos as coisas bem, podemos acabar por ser convocados, e acho que é isso.

- Daqui para a frente, o que pode acontecer? Os seus objetivos passam por jogar na equipa principal do Benfica?

Um dos meus sonhos é sem dúvida esse, mas tenho que trabalhar dia após dia, e vamos com calma.

- Além do futebol, o que lhe deu o Benfica Campus? 

- A minha mãe, por exemplo, muitas vezes diz-me que não se arrepende de nada. Sente que eu sou muito mais autónomo, tenho muito mais responsabilidade, bons hábitos, porque viver aqui também nos dá um lado pessoal muito importante, e dá-nos muitas valias para enfrentar a vida.

- Fez de si uma pessoa mais responsável?

- Claro, sem dúvida.

- Estamos a falar de uma profissão de desgaste rápido. Muitos jogadores passam depois para treinadores, diretores desportivos.... No seu percurso escolar essa visão também existe?

Sim, claro. Eu estou na Universidade. Não estou atualmente no curso, está meio congelado, mas é um plano B e nunca se sabe.

- Qual o curso?

Gestão. 

- Quem sabe se não poderá vir a ser gestor no Benfica Campus.

Pode calhar, quem sabe.

- Está feliz por estar aqui?

Muito.

- Que conselho é que daria a quem ambiciona vestir essa camisola?

- Acho que é divertirem-se a fazer o que fazem agora, nos seus clubes, se tiverem, e se é uma coisa que realmente querem, para trabalharem a sério, porque as oportunidades podem surgir.

Os números de João Fonseca
Os números de João FonsecaFlashscore

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