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Maior investimento infraestrutural beneficia afluência de público no futebol

Miguel Farinha, presidente da EY
Miguel Farinha, presidente da EYLiga Portugal
O investimento nos estádios fomentará uma maior afluência de público no futebol profissional, admitiu esta quinta-feira o presidente da EY em Portugal, empresa responsável pelos anuários do setor, em parceria com a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).

“O investimento em infraestruturas é essencial e os clubes percebem isso. Mesmo tendo dificuldades financeiras, vão fazendo melhorias nos seus estádios. Isso pode ser feito de várias formas. Uma que faz todo sentido é olhar para as receitas das apostas desportivas, cuja maior parte não vai para os clubes, e fazer uma repartição diferenciada, que permita usá-las para aumentar e melhorar as infraestruturas”, disse aos jornalistas Miguel Farinha, à margem da apresentação da oitava edição do anuário do futebol profissional nacional, na sede da LPFP, no Porto.

Na época passada, 4,2 milhões de adeptos assistiram a jogos dos escalões profissionais nos estádios, numa subida de 10% face a 2022/23, dos quais 3,7 milhões se referem à Liga e 556 mil à Liga 2, ocasionando ocupações médias de 66% e 23%, respetivamente.

As 306 partidas do escalão principal contaram, em média, com uma afluência de 12.117 espetadores, sendo que Benfica, FC Porto e Sporting conjugaram 62% das assistências.

“Depois, é preciso saber fazer e acho que os clubes têm estado a fazer esse trabalho de atrair os adeptos para o clube da sua terra. Em vez de invariavelmente sermos todos adeptos de três clubes em Portugal, apoiarmos cada vez mais os clubes locais”, apontou.

A aproximação ao adepto é um dos sete desafios estabelecidos no anuário em relação à atividade da LPFP no atual ciclo estratégico (2023-2027), que incide na afirmação do setor, volvidos os objetivos da recuperação (2015-2019) e da consolidação (2019-2023).

O desenvolvimento e a internacionalização do organismo, a valorização das sociedades desportivas, o impulsionamento do futebol feminino e a redução dos custos de contexto são outros reptos, tal como a comercialização centralizada dos direitos audiovisuais dos jogos, cujo decreto-lei foi aprovado em 2021 e deve produzir efeito até à época 2028/29.

“Não é centralizar por centralizar, mas porque irá seguramente melhorar o futebol e trará mais receitas, sobretudo para os clubes mais pequenos. Em nenhuma outro campeonato europeu se vê as receitas televisivas concentradas em três clubes, pois estão muito mais repartidas. Se conseguirmos ter melhores clubes de forma global, e não só nos primeiros três ou quatro classificados, seguramente haverá melhor futebol”, vincou Miguel Farinha.

O presidente da EY em Portugal acredita que esse crescimento concertado se refletirá no desempenho dos clubes nas provas continentais, com repercussões no ranking da UEFA, nas vagas de entrada direta na Liga dos Campeões e nos prémios monetários recebidos.

“É preciso que todos percebam que só têm a ganhar se trabalharem juntos para aumentar este produto e a forma como o futebol é vendido. Mesmo assim, reparem que estarão três potentados económicos europeus (Alemanha, Espanha e França) e Portugal na ‘final four’ da Liga das Nações. Nós conseguimos jogar de igual para igual nesta indústria”, avaliou.

Quanto à redução dos custos de contexto, a revisão do modelo de repartição das receitas das apostas desportivas é uma das soluções apontadas no documento, a par da redução da carga fiscal do setor, que pagou 268 ME em impostos em 2023/24 - 238 ME na Liga.

“Tem muito a ver com o IRS, que é uma carga pesadíssima. O ideal seria haver uma taxa particular para a indústria do futebol. Por exemplo, temos de gastar o dobro em Portugal face ao que se paga em bruto pelo mesmo atleta em Itália para que este receba o mesmo valor líquido. Isso traz imediatamente uma desvantagem competitiva gigante. Dentro da Europa, há diferenças significativas e é preciso entendê-las e tentar corrigi-las”, advertiu.

Miguel Farinha desejou ainda que os encargos “extraordinariamente caros” com seguros das 34 sociedades desportivas - 18 na Liga e 16 no escalão secundário, com exceção das equipas B de Benfica e FC Porto -, baixem para verbas ao nível de outros mercados.