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Balanço da Liga: Augusto Inácio saúda alternância inédita de campeões

A equipa técnica de Rúben Amorim que levantou o troféu
A equipa técnica de Rúben Amorim que levantou o troféuSporting CP
Uma inédita alternância de campeões nacionais na Liga, que não repete vencedores desde 2016/17, entre FC Porto, Benfica e Sporting, é positiva, observa o antigo futebolista internacional português, treinador e dirigente Augusto Inácio.

É bom que existam campeões diversos, até para não estarmos sempre naquela situação em que o título é discutido só entre FC Porto e Benfica. O Sporting já lá está e o Sporting de Braga está a aproximar-se, mas ainda não tem essa estaleca para lutar pelo primeiro lugar”, vincou à agência Lusa um dos 11 campeões portugueses como jogador e técnico.

O Sporting arrebatou o 20.º cetro em 90 edições da I Liga, e segundo nos últimos quatro anos sob orientação técnica de Rúben Amorim, ao fixar novos recordes de pontos (90) e vitórias (29) para destronar o Benfica, recordista de conquistas (38), que terminou a 10 pontos da frente, na maior diferença entre primeiro e segundo colocados desde 2010/11.

O Sporting depressa se destacou, foi sempre o melhor coletivo e acertou na mouche em duas aquisições: teve um goleador (Viktor Gyökeres), que deu uma profundidade distinta ao ataque e que é claramente o homem deste campeonato, mas não se pode esquecer o Morten Hjulmand, que encaixou na perfeição e é inteligente a ocupar o espaço. À medida que a época foi avançando, cresceu de tal maneira e passou praticamente a ser o patrão do meio-campo e o jogador que equilibrou a equipa defensiva e ofensivamente”, realçou.

Campeão como jogador (1979/80 e 1981/82) e treinador (1999/00, após um ‘jejum’ de 18 anos) pelos ‘leões’, Augusto Inácio vê a “equipa mais estável” em Alvalade, em contraste com a agitação interna e a intermitência de resultados e exibições de Benfica e FC Porto.

O Benfica vendeu bem, mas gastou muito mal. No princípio da época, dizia-se que não davam hipóteses a ninguém neste campeonato e tinham uma equipa de outra dimensão, mas não se viu isso. O Benfica nunca foi essa equipa poderosa que nos pudesse levar a dizer que, fosse onde fosse jogar, venceria com mais ou menos dificuldade”, enquadrou.

O topo da Liga
O topo da LigaFlashscore

Se as águias falharam o primeiro bi desde 2016/17, o FC Porto cumpriu a pior das sete épocas com Sérgio Conceição, ao ser terceiro classificado, com 72 pontos, quatro acima do SC Braga, quarto, para aceder diretamente à fase de grupos da Liga Europa.

Esperava mais luta nos primeiros lugares, mas, sinceramente, o FC Porto destoou disto tudo. Fez uma época atípica, em nada condizente com os pergaminhos do clube, e teve uma equipa muito desequilibrada, que tão depressa fazia bons jogos como jogos menos bons. Perdeu muitos pontos em casa e a classificação reflete aquilo que jogou”, analisou Augusto Inácio, campeão por três vezes com os dragões (1984/85, 1985/86 e 1987/88).

A época do FC Porto ficou igualmente marcada fora das quatro linhas pelo expressivo e histórico êxito do antigo treinador ‘azul e branco’ André Villas-Boas sobre Pinto da Costa, presidente há 42 anos e 15 mandatos, no sufrágio mais participado de sempre do clube.

Villas-Boas já disse que quer uma equipa competitiva e vai ter de gastar algum dinheiro. O que será do FC Porto na próxima temporada perante estas mudanças de presidente e, provavelmente, de treinador, mas sem tanto dinheiro? Está tudo na expectativa”, lançou.

Augusto Inácio, de 69 anos, vislumbra decisões semelhantes pendentes na Luz, onde o treinador alemão Roger Schmidt tem enfrentado sucessivas críticas, após ter arrebatado apenas a Supertaça (2-0 ao FC Porto, em Aveiro) na segunda época à frente do Benfica.

Rui Costa já tinha renovado contrato com o treinador por mais dois anos, mas está com uma ‘batata quente’ na mão para resolver agora. Se mantiver Roger Schmidt e as coisas não começarem a correr bem na próxima época, sobrará para o treinador e o presidente. Correndo bem, poderá atenuar um bocadinho mais essa decisão a ser tomada”, apontou.

Na “linha da frente” para 2024/25 aparece o Sporting, “desde que consiga manter Rúben Amorim e outras pedras-chave”, tendo em vista o primeiro bicampeonato desde 1953/54, cenário que acabaria com a alternância de campeões em vigor há oito épocas seguidas.

O videoárbitro (VAR) muito contribui para que tal aconteça. Pode ser polémico, mas é a minha opinião. Veio dar alguma verdade desportiva, mas não toda, até porque também falhou em algumas situações. Agora, já aconteceram lances em que, se não houvesse a intervenção do VAR, se calhar, as coisas tinham pendido para outros lados”, considerou.

Aposta certeira em Rúben Amorim

Rúben Amorim tem patenteado um perfil espontâneo no comando técnico do Sporting, pelo qual arrebatou dois dos últimos quatro campeonatos, caracteriza o ex-futebolista internacional português, treinador e dirigente Augusto Inácio.

Acima de tudo, o que gosto nele é a crença no trabalho que está a fazer, a comunicação com o interior e o exterior, a maneira como se relaciona com a equipa e os jogadores, e a humildade em não ter problemas nenhuns de, por vezes, dizer quando erra. Enfim, é um líder natural. Não é o líder imposto no grito e na força, mas mais na base do consenso”, avaliou à agência Lusa o ex-defesa, de 69 anos, que se sagrou campeão nacional como atleta (1979/80 e 1981/82) e técnico (1999/00, após um ‘jejum’ de 18 anos) pelos ‘leões’.

Depois de ter quebrado uma ‘seca’ de 19 anos em 2020/21, Rúben Amorim, de 39 anos, sucedeu em 2023/24 ao inglês Randolph Galloway como primeiro técnico a ‘bisar’ desde 1951/52 pelo clube lisboeta, reflexo da dimensão histórica do 20.º título ‘verde e branco’.

Claro que vai ficar gravado a letras de ouro na história do Sporting, porque não é normal o clube ser campeão duas vezes em quatro anos. Por muitos anos que passem, todos se vão lembrar do Rúben Amorim, que tem dado uma força incrível ao Sporting como clube grande e vencedor. Pode dizer-se agora com mais firmeza que eles lutarão pelo título em 2024/25 e eu acredito que sim, uma vez que as pessoas me dão tais indicações”, referiu.

Amorim alcançou o sexto troféu em outras tantas épocas nos bancos, e quinto ao serviço do Sporting, no qual venceu igualmente duas Taças da Liga (2020/21 e 2021/22) e uma Supertaça Cândido de Oliveira (2021), reerguendo um clube talhado para a instabilidade.

O clube teve muitos treinadores até acertar com este. A partir daí, contratou mais do que um técnico e ganhou força a ideia que eu tenho de ele ser quase tudo ali. Apesar do seu valor, que já provou ser imenso, não podemos esquecer que ele teve a sorte de ter uma direção que continuou a acreditar mesmo não tendo conquistado nada na época anterior. Quando não se ganha nada, a tendência é despedir o treinador”, alertou Augusto Inácio.

Rúben Amorim na consagração
Rúben Amorim na consagraçãoSporting CP

A meta falhada do bicampeonato - que já foge aos ‘leões’ há 70 anos -, em 2021/22, bem como o quarto posto na temporada passada, aliado à consequente ausência da Liga dos Campeões, fizeram subir a pressão de Rúben Amorim, que foi atenuando alguma da sua intempestividade e diversificou os automatismos do habitual ‘3-4-3’ para resgatar o título.

A moda agora é alinhar com três defesas centrais. Como se percebeu que é um sistema equilibrado - e isso tem a ver muito com as dinâmicas -, o Rúben Amorim encontrou esse equilíbrio com estes jogadores e provavelmente alertou outros treinadores para que, em função do que tinham, pudessem fazer quase o mesmo. Aliás, à exceção do Sporting, foi em ‘3-5-2’ que eu tive mais sucesso e levei Marítimo e Vitória de Guimarães à Europa. É um sistema de que gosto, mas, se não tiver jogadores para tal, não vai resultar”, indicou.

Com um novo recorde de pontos (90) e vitórias (29) e o ataque mais eficaz (96 golos), os ‘leões’ destronaram o Benfica, que fechou a 10 pontos do topo - na maior diferença entre primeiro e segundo classificados desde 2010/11 -, enquanto Amorim passou a ser o mais jovem treinador português a ganhar a I Liga por duas vezes, suplantando o recentemente falecido Artur Jorge, que, com 40 anos, tinha ‘bisado’ pelo FC Porto (1984/85 e 1985/86).

O Sporting apostou na qualidade e não gastou em quantidade, coisa que tinha feito nos anos anteriores. A vantagem de um treinador que está há alguns anos no mesmo clube é que sabe aquilo que tem e qual é a personalidade dos seus atletas. O Rúben Amorim já conhece o Sporting como a palma das suas mãos. Depois, era só preencher as posições em que achasse que era preciso mais qualquer coisa para dar um salto na qualidade de jogo. Claramente, Viktor Gyökeres e Morten Hjulmand foram pedras chaves”, distinguiu.

Amorim vai ‘devolvendo com juros’ os 10 milhões de euros (ME) investidos pelo Sporting na sua contratação ao Sporting de Braga, em março de 2020, e tentará levar os ‘leões’ à primeira ‘dobradinha’ em 22 anos no domingo, quando lutar na final da Taça de Portugal com o FC Porto pelo único troféu interno em falta na sua curta caminhada como técnico.

Se o clube continuar nesta linha, tem muitas hipóteses de ser campeão mais vezes e de se afirmar a nível europeu. O problema vai colocar-se quando o treinador sair e aí iremos ver as diferenças. Muitas vezes, basta sair uma peça para que um projeto já não exista. Neste momento, o projeto do Sporting chama-se Rúben Amorim”, vincou Augusto Inácio.