Exclusivo com Zalazar: "O SC Braga é um clube que vai ficar sempre ligado na minha carreira"

Zalazar, jogador do SC Braga, celebra golo contra o Moreirense
Zalazar, jogador do SC Braga, celebra golo contra o MoreirenseHUGO DELGADO/LUSA

Nasceu em Albacete, é internacional uruguaio, sonha estar no Mundial e é já uma das referências do SC Braga. Em entrevista ao Flashscore, Rodrigo Zalazar falou da adaptação ao futebol português e do crescimento da equipa de Carlos Vicens ao longo da atual temporada, aproveitando ainda a época natalícia para distribuir alguns presentes pelos colegas e... pelo presidente do clube, António Salvador.

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- Chegou a Braga com rótulo de craque e tem mostrado isso mesmo também em campo, depois de ter passado pela Espanha, Alemanha e Polónia. Chegou em 2023, muita coisa aconteceu, mudança de treinador, lesões, chamada à seleção, depois deixar de ir à seleção. De 2023 até hoje, que principais dificuldades é que sentiu para se adaptar ao futebol português e conseguir ser o jogador que é neste momento, importante no SC Braga.

Acho que desde que cheguei sempre me trataram bem. Permitiram que a adaptação fosse rápida, mas quando mudas de equipa há sempre dificuldades e acho que o futebol alemão e português são diferentes. Quando cheguei, custou-me um pouco perceber a maneira e estilo de jogar em Portugal, mas, por mérito do clube e de todos os que me ajudaram, melhorei e acho que tenho subido o nível de época para época. Uma grande parte do mérito é do trabalho que o clube fez comigo para poder estar no lugar onde estou hoje em dia.

- Já teve vários treinadores, está numa excelente fase. As estatísticas falam por si. Sente-se um Zalazar mais solto em campo, com dinâmica diferente com o Carlos Vicens. Sente-se mais útil e confortável nesta estratégia que o técnico espanhol trouxe para Braga?

Aprendi muitas coisas com todos os treinadores. Um jogador tenta agarrar tudo o que é possível de cada treinador, aprendi coisas com todos, mas é verdade que este ano a maneira de jogar do Carlos Vicens, para mim, assemelha-se muito à minha maneira de ser como jogador. Tem sido o ano em que jogo mais perto da área, a maneira que temos de jogar é de muita mobilidade, algo que também gosto muito. A equipa está bem e as estatísticas individuais também estão ligadas ao trabalho da equipa. É verdade que há sempre alguém que faz o golo e este ano estou a ter sorte e a fazer mais golos.

Os números de Zalazar
Os números de ZalazarFlashscore

"Sabíamos que íamos precisar de tempo para nos adaptarmos"

- Já o vimos à direita, à esquerda, em posições mais ofensivas e mais defensivas. Onde é que se sente melhor a jogar?

- Acho que adapto-me bem a todas as funções. Sempre que for necessário, vou estar aí para dar o máximo pela equipa. Obviamente que eu gosto mais de jogar como estou a jogar agora, por dentro, perto do Ricardo (Horta), uma pessoa com que me entendo muito bem e acho que essa é a posição em que me sinto mais cómodo, mas, como disse antes, posso jogar onde o mister precisar e acho que essa é uma ajuda também para a equipa.

- É um SC Braga que joga melhor futebol, os adeptos também gostam mais, mas que arrancou tremido. Os resultados não foram bons, as exibições não deixaram antever nada positivo, mas houve ali um momento em que a equipa respondeu dentro de campo. Qual foi esse momento e quando é que sentiram, dentro do balneário, que era preciso reagir?

No primeiro dia em que o mister chegou, sabíamos que íamos precisar de tempo para nos adaptarmos à forma que ele queria jogar. Sabíamos que era uma maneira totalmente diferente dos anos anteriores, mas lembro-me de que falei com ele e disse-lhe que, ao fim e ao cabo, o que é preciso é tempo para as equipas terem as ideias claras. Quando começámos a entender a maneira como queríamos jogar, isso vê-se no campo, nos últimos resultados, que a equipa sente-se bem, sente-se confortável e está sempre a criar problemas aos adversários, que é importante, e a fazer golos.

Zalazar e o momento da viragem da época do SC Braga
Zalazar e o momento da viragem da época do SC BragaSC Braga, Opta by Stats Perform

- Mas foi quase de um jogo para o outro em que se começou a ver um SC Braga diferente. Sentiram esse momento? Houve uma conversa com o treinador, entre a equipa, os jogadores, para que esse passo fosse dado?

Sim, claro. Nós sabíamos que tínhamos de dar um passo à frente porque o que estávamos a fazer não era suficiente, ainda por cima com o nível da Liga Portugal, que cada ano é melhor. Tivemos uma conversa todos juntos no balneário e dissemos que tínhamos de assumir as responsabilidades, especialmente os jogadores que têm mais experiência. Somos uma equipa muito jovem, que está em crescimento e depois dessa conversa mudámos o chip, sabíamos que tínhamos de dar mais para ganhar. Demos um passo gigante e cada vez estamos melhores.

- É este o melhor SC Braga que se vai poder ver esta temporada? A equipa já está no topo?

Há sempre algo a melhorar, mas acho que estamos bem. Nós não nos conformamos com isto, queremos mais. Sabemos que estamos a fazer bons jogos, a conseguir bons resultados, mas para nós isso não é suficiente, vamos continuar a dar mais.

- Tem contrato até 2028, num momento de boa disposição no balneário apareceu com tatuagens com o nome do SC Braga nas costas, no peito. Falta muito para termos um Zalazar a assumir o SC Braga como clube do coração e a querer ficar cá durante muitos anos?

Tenho muito carinho pelo clube, obviamente. Desde que cheguei, toda a gente, dos adeptos ao staff, tratou-me muito bem e deu muito carinho. No fim, com o meu trabalho, também ganhei a confiança deles e são coisas que eu faço para dar conteúdo aqui (risos). Estou muito feliz aqui, é um clube que ficará sempre guardado na minha carreira, onde tive os meus melhores anos, mas obviamente que eu também venho de clubes que me fizeram muito feliz, como o Schalke 04, que é um clube que, para mim, deu-me tudo como pessoa e jogador, é um clube que vai estar sempre no meu coração, mas penso que o SC Braga pode partilhar esse espaço com o Schalke. São dois clubes que estão guardados no meu coração.

"Jogar o Mundial seria um sonho para mim"

- Mas vê-se a ficar mais anos no SC Braga? Vê-se a procurar outros desafios noutras ligas? Onde passa a sua ambição pelo futuro?

Eu estou muito feliz. Obviamente que no desporto há sempre opções para sair, para mudar um pouco de ares, mas não tenho pensado nisso. Sou feliz aqui, concentro-me em jogar e o que acontecer no futuro vai acontecer. Estou contente aqui, focado ao máximo e quero continuar a ganhar e a estar numa boa fase.

- Um futuro que pode depender de uma chamada à seleção. O Bielsa chegou, convocou-o no primeiro jogo, marcou dois golos. Em 2024, também por algumas lesões, esteve afastado. Agora volta a ser chamado com alguma frequência. Olha para este Mundial -2026 como um objetivo? Está a trabalhar para isso, sabendo que a concorrência no meio-campo do Uruguai é muito forte?

Jogar um Mundial é o sonho de todos os jogadores. Todos trabalhamos para ter a oportunidade de representar o nosso país. Vou estar focado a 100 por cento e preparado para, se chegar a chamada, eu dar o melhor e ajudar a equipa da melhor maneira. É uma seleção que tem jogadores de grande nível, muita concorrência também. Depende muito da minha situação com o SC Braga. Obviamente que é um objetivo e seria um sonho para mim.

A forma do SC Braga
A forma do SC BragaFlashscore

- Acha que, por estar num clube na Europa, nas competições europeias, o Bielsa pode dar prioridade a jogadores que atuem nos campeonatos europeus em detrimento de outros?

Não, acho que isso depende mais da forma como está o jogador fisicamente e futebolisticamente, não importa se está nas competições europeias. Importa que esteja a jogar bem, ele vai olhar para o que podes acrescentar à equipa.

- Ficaria desiludido se não fosse ao Mundial-2026? Seria esta a oportunidade de ouro para si enquanto jogador?

Sim, obviamente que me custaria, mas é futebol e não sou que tomo essa decisão. Se fosse eu, iam uns 200 jogadores do Uruguai ao Mundial (risos). É um sonho que todos têm e, tendo participado também na seleção, tendo estado com os meus colegas, seria uma desilusão. Mas é preciso continuar a trabalhar, nunca se sabe quando há outra oportunidade, por isso, é seguir na linha em que estou e continuar a trabalhar.

Zalazar quer estar com o Uruguai no Mundial
Zalazar quer estar com o Uruguai no MundialJUAN MANUEL SERRANO ARCE / GETTY IMAGES EUROPE / GETTY IMAGES VIA AFP

- Já começou a estudar a Espanha, Cabo Verde e a Arábia Saudita, que estão no grupo do Uruguai?

- Não é preciso, toda a gente conhece os jogadores dessas seleções e serão jogos muito bonitos.

- Num registo mais pessoal, quem é este Zalazar? Aquele rapaz tranquilo que já vimos a tocar piano e a comer a galinha frita com amêndoas ou com a garra e intensidade que mostra dentro de campo como jogador?

- Sou uma pessoa muito feliz, sobretudo. Tenho uma vida muito tranquila, uma família que é tudo para mim, mas fora do que é o meu trabalho também sou uma pessoa que está sempre a tentar alegrar a vida das outras pessoas. Afinal, é disso que a vida se trata: ser feliz e fazer os outros felizes. Sou uma pessoa muito simples, mas às vezes muito louco. Tenho talentos ocultos que ainda não mostrei, mas a Gala de Ouro (do clube), este ano, pode ser um bom momento.

Perguntas Flash:

- Se tivesse de dar presentes ao Carlos Vicens, o que dava?

- Uma caixa de chá, ele bebe muito chá.

- E ao Ricardo Horta, de quem já falaste e é um dos teus parceiros dentro e fora do balneário?

- Um transplante capilar.

- Ao Arrey Mby, outro dos seus companheiros?

- Um fio de diamantes.

- Ao Fran Navarro, que é seu vizinho? E porquê?

- Um trator porque ele é agricultor.

- E ao presidente António Salvador?

- Uma Taça seria bom.