Uma prática anunciada no início da época, Luciano Gonçalves, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, e Duarte Gomes, diretor técnico do mesmo órgão, fizeram uma conferência de balanço das 10 primeiras jornadas dos campeonatos profissionais.
Uma conversa com os jornalistas que acabou por ficar dominada pelos mais recentes casos a envolverem árbitros. Nomeadamente, com a tentativa de pressão do FC Porto denunciada por Fábio Veríssimo e os insultos de Mário Branco, diretor do Benfica, a Gustavo Correia.
Questionado sobre as duas situações, Luciano Gonçalves deixou a sua ideia.
“Qualquer um dos casos, os árbitros fizeram as suas obrigações. Mencionaram no relatório e passaram para as entidades competentes, em quem confiamos totalmente, que decida e analise. Qualquer uma das situações não devia de acontecer. É consensual para todos. Não só pelo árbitro, mas pela imagem que passa para o futebol no seu todo, que não é o que queremos. Queremos um futebol mais positivo, que seja vendável, que seja visto lá fora como fantástico que é, mas vamos tendo estes episódios. Na parte da arbitragem foi feito o que tinha de ser feito”, começou por explicar.
Deixou, também, uma referência às palavras de Mário Branco a Gustavo Correia, a quem terá dito "Vou rebentar-te todo" após o jogo com o Casa Pia.
“Esta situações tem objetivo de criar pressão na arbitragem no seu tudo, mas os árbitros são preparados para lidar com pressão quando chegam ao futebol profissional. Nós damos o suporte para que estejam tranquilos. Aqui, ninguém rebenta com ninguém, ninguém vai rebentar com nenhum árbitro. Se o árbitro descer é por uma época menos positiva, jamais por interferência de alguém”, frisou.
"Jarras é para flores"
“Nestas primeiras 10 jornadas, a única coisa que mais nos surpreendeu a todos nós foi o ambiente que à 10.ª – até muito mais cedo - começou a ser criado. Todos nós, nesta sala, sabemos perfeitamente que não tem apenas que ver com os erros dos árbitros. Assumimos quando os nossos árbitros erram”, declarou, em tom crítico, na conferência de imprensa de balanço ao trabalho até agora realizado pela arbitragem no presente campeonato, organizada na Cidade do Futebol, em Oeiras.
Luciano Gonçalves apontou todo o seu esforço em melhorar o desempenho dos árbitros lusos, mas também em defendê-los de fatores externos e evitar que sejam encarados como bodes expiatórios para insucessos desportivos.
“Este Conselho de Arbitragem irá continuar a trabalhar para que cada vez mais se tenham mais árbitros a arbitrar dérbis e clássicos e que todos os árbitros dos seus quadros tenham dois ou mais anos de primeira categoria e possam estar aptos para desempenhar esta função em qualquer jogo, mas deixem-me também partilhar aqui mais uma nota; com este CA, não irá existir jarras. Enquanto presidente do CA, disse muito recentemente, quando tomei posse, que jarras é para flores e assim mantenho”, assegurou, recusando ceder a quaisquer pressões.
Luciano Gonçalves garantiu transparência e abertura ao diálogo, realçando existir abertura para reunir com quaisquer interessados que assim o desejem.
“O CA quer, e será sempre, parte da solução do futebol e nunca parte do problema. A todos os pedidos de reunião que foram sendo solicitados pelos vários agentes - clubes, associações e todos os agentes desportivos - foi sempre dada resposta em menos de 24 horas, não existe nenhum pedido de reunião de nenhum clube que não tivesse obtido resposta da nossa parte”, garantiu.
Duarte Gomes mostrou-se em total concordância com as palavras de Luciano Gonçalves, que assumiu que no Conselho de Arbitragem da FPF “não irão existir jarras”, recusando afastar árbitros de nomeações como punição.
“Em relação à jarra, acho que ficou muito claro que não apenas não falamos nelas, como não mostramos a ninguém que o vamos fazer. Os primeiros a saber quando vão ser responsabilizados são os próprios árbitros, não a imprensa nem os clubes, qualquer outra coisa que ouçam, não foi pela via oficial”, assegurou.
Por fim, o diretor técnico para o setor da arbitragem e antigo árbitro internacional assegurou ainda que os árbitros são “responsabilizados” e “muito penalizados” por maus desempenhos.
“Muitas vezes a gestão dos desempenhos nem é para castigar o árbitro, mas sim para protegê-lo da exposição. Um erro tem consequências até familiares para os árbitros, e protegê-lo é o mais sensato. É importante que se sintam responsabilizados, quando erramos, temos de assumir as consequências e não é só com a não nomeação, é no fator económico, na auto-estima e no processo classificativo. Quando acharem que os árbitros não são responsabilizados, estão enganados, acreditem. São, e muito”, completa.
