João Pedro saiu de uma praia brasileira diretamente para o onze inicial do Chelsea durante a vitoriosa campanha no Mundial de Clubes, marcando três golos em três jogos, enquanto a equipa de Enzo Maresca acabava por conquistar o troféu.
O jogador de 24 anos manteve esse excelente momento nas três primeiras jornadas da Premier League, somando quatro contribuições para golo, mas desde então ainda não marcou nem assistiu nos últimos seis jogos em todas as competições.
Deve então o Chelsea preocupar-se com esta quebra de forma?
Não é propriamente um ponta de lança
O Chelsea não contratou Pedro para jogar como avançado-centro; a ideia era que jogasse um pouco mais recuado, atrás de um número nove mais tradicional, como Liam Delap, ligando o jogo, recuando para criar oportunidades e oferecendo perigo pelo ar.
A lesão muscular de Delap, sofrida na vitória por 2-0 frente ao Fulham, alterou por completo a forma como Enzo Maresca pôde utilizar o brasileiro, e Pedro simplesmente não tem o instinto matador necessário para ser eficaz nesta nova função.
Um xG de 1,57 sugere que Pedro não está a aparecer nos melhores espaços, e o facto de não ser propriamente um finalizador — os seus dois golos na Premier League resultaram de 11 remates, apenas três deles enquadrados — reforça essa ideia.
No entanto, não é totalmente culpa dele. A indisciplina do Chelsea distorceu um pouco os números; quando Robert Sanchez foi expulso aos cinco minutos na derrota por 2-1 frente ao Man United, Maresca optou por mudanças radicais.
O italiano retirou Pedro Neto e Estevao para tentar reforçar a defesa, com Cole Palmer a sair pouco depois devido à lesão na virilha, e o mesmo se passou na derrota por 3-1 diante do Brighton.
Trevoh Chalobah viu vermelho ao minuto 53 frente à equipa de Fabian Hurzeler, e Maresca voltou a sacrificar dois jogadores de ataque, Andrey Santos e Estêvão, dez minutos após a expulsão. Pedro tem sido frequentemente privado de apoio devido a circunstâncias alheias à sua vontade.
Os pontos fortes de João Pedro
As estatísticas de passe mostram melhor o tipo de jogador que é. Destacam-se as três assistências que já ofereceu aos colegas, mas também o facto de ter criado mais grandes oportunidades (quatro) e de ter completado 164 passes em oito jogos da liga.
Nos melhores jogos de Pedro, como a vitória por 5-1 frente ao West Ham e o triunfo por 2-0 sobre o Fulham, atuou mais como um número dez, recuando naturalmente para receber a bola, enquanto mais recentemente tem sido utilizado como referência ofensiva.
Pedro também gosta de aparecer nas alas; na verdade, a sua versatilidade é provavelmente a principal razão pela qual o Chelsea não hesitou em pagar 60 milhões de libras ao Brighton, aproveitando a sua capacidade de drible e o excelente primeiro toque para progredir no terreno.
É igualmente muito trabalhador. Pedro venceu 17 duelos aéreos, 45 duelos no solo e recuperou a posse de bola na zona ofensiva em cinco ocasiões. Além disso, o avançado soma 16 recuperações, três interceções e cinco desarmes.
São poucos os avançados dispostos a fazer o trabalho menos visível como Pedro faz.
Como pode o Chelsea tirar melhor partido dele
Pode parecer simples, mas é preciso jogar com um ponta de lança. Delap só regressa dentro de cerca de um mês, mas o Chelsea tem outro avançado no plantel, Marc Guiu, que foi chamado de volta do Sunderland após o episódio com Nicolas Jackson.
Guiu entrou ao intervalo na vitória sobre o Forest, com o resultado em 0-0, e de repente o jogo abriu-se. O espanhol não foi brilhante, mas a sua presença obrigou os defesas do Forest a lidar com um desafio diferente.
Não acredita? Eis Alan Shearer, o melhor marcador de sempre da Premier League, a explicar como o jogo mudou.
“Ele não só lançou Gittens e Caicedo para dar mais solidez, como também colocou Guiu em campo”, disse à BBC Match of the Day: “Vê-se logo a diferença. Pedro passa a jogar predominantemente como dez, Guiu é o ponta de lança, ataca a profundidade e, de repente, tudo muda. Agora jogam mais subidos, criam oportunidades no último terço, Guiu recua, mas também explora o espaço nas costas da defesa. É uma movimentação muito inteligente, não recebe logo a bola, mas vê-se onde acaba por aparecer, dificultando a vida à defesa do Forest.”
Veredito
O Chelsea não deve estar excessivamente preocupado com a recente falta de golos ou assistências de Pedro, pelo menos para já. A maioria dos fatores que explicam as suas dificuldades foge ao seu controlo. Se estivesse a falhar oportunidades claras e a mostrar sinais de falta de confiança, aí sim seria motivo de alarme.