Análise: Por que Thomas Frank deve estar preocupado após exibição do Tottenham frente ao Forest

Callum Hudson-Odoi, do Nottingham Forest, celebra o seu golo frente ao Tottenham
Callum Hudson-Odoi, do Nottingham Forest, celebra o seu golo frente ao TottenhamNews Images, News Images LTD / Alamy / Profimedia

Quando Ange Postecoglou foi dispensado por Daniel Levy do cargo de treinador do Tottenham, logo após o australiano ter conquistado o primeiro troféu relevante do clube em 17 anos, não foi propriamente uma surpresa.

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Não porque o estilo de futebol não estivesse alinhado com aquilo que os Spurs se habituaram a praticar, mas sim porque os resultados ficaram muito aquém do aceitável.

Apesar de Postecoglou ter tido uma série de lesões em jogadores-chave como atenuante, isso não foi suficiente para evitar o despedimento. Entrou em cena Thomas Frank.

Será Thomas Frank ainda o homem certo para o Tottenham?

O treinador dinamarquês do Brentford, conhecido pelo seu futebol progressivo, parecia ser o antídoto ideal para os métodos por vezes demasiado arrojados do seu antecessor.

O futebol ofensivo e atrativo também faz parte do leque de Thomas Frank, embora com um pouco mais de inteligência tática. Pelo menos, era essa a perceção antes da sua chegada.

Avançando até ao presente, e depois de uma derrota por 3-0 frente ao Nottingham Forest, já se levantam dúvidas quanto à adequação do dinamarquês ao cargo.

Afinal, nunca tinha orientado um clube da dimensão dos Spurs, com todo o respeito pelos seus anteriores empregadores.

Sexta derrota em 16 jogos

O desaire deixou os londrinos do norte na 11.ª posição, com 22 pontos, apenas dois acima do Bournemouth, que está em 15.º, e já com seis derrotas em 16 partidas.

Os Spurs tinham vencido o Brentford no jogo anterior, quebrando uma série de cinco jogos sem ganhar, e partiam para o encontro no City Ground como favoritos.

No entanto, Sean Dyche já demonstrou várias vezes na sua carreira que, mesmo que o futebol das suas equipas não seja o mais vistoso, pode ser extremamente eficaz.

Sangue, suor e lágrimas eram obrigatórios se o Tottenham quisesse regressar à capital com os três pontos, e teria de os conquistar em campo.

O 4-2-3-1 apresentado pelos anfitriões espelhou exatamente o sistema dos visitantes, com Elliot Anderson e Ibrahim Sangaré a formarem uma dupla imponente à frente da linha defensiva.

Na verdade, não surpreende saber que o primeiro teve mais toques na bola do que qualquer outro jogador em campo (84), e a sua entrega foi um dos principais motivos para os londrinos não conseguirem criar perigo no ataque.

Fome insaciável de Anderson e Sangaré

Ambos recuperaram a posse em seis ocasiões distintas, mas foi a sua vontade incessante de pressionar o Tottenham que limitou as tentativas dos visitantes de encontrar espaço e tempo nas zonas centrais.

Como consequência, Callum Hudson-Odoi e Omari Hutchinson puderam causar estragos nas alas.

Sequência do golo de Ibrahim Sangaré frente ao Tottenham
Sequência do golo de Ibrahim Sangaré frente ao TottenhamOpta by Stats Perform

Tanto Pedro Porro como Djed Spence passaram mais tempo a defender do que a subir pelo corredor.

Hudson-Odoi acabaria por marcar dois golos, ambos assistidos por Sangaré (com o favor a ser devolvido já perto do fim), embora o contributo de Hutchinson também mereça destaque.

Hutchinson, um verdadeiro tormento para o Tottenham

Dos onze jogadores do Forest, o jovem de 22 anos foi quem mais rematou (três), criou mais oportunidades (duas), tentou mais cruzamentos (quatro), teve mais dribles bem-sucedidos (três), ganhou mais duelos (três) e recuperou mais bolas (oito).

Se quisermos ser exigentes, apenas sete dos seus passes para o último terço foram eficazes, e embora haja margem para melhorar, a sua exibição global foi de grande nível.

Notas finais dos jogadores
Notas finais dos jogadoresFlashscore

Pelo contrário, os Spurs foram quase sempre superados em todos os lances, e a falta de empenho de vários jogadores volta a ser um padrão preocupante para Thomas Frank e a sua equipa técnica.

O único remate enquadrado foi de Archie Gray, o que diz muito sobre a ineficácia ofensiva, enquanto os 50 passes certos de Micky van der Ven – o melhor registo dos Spurs – incluíram 15 para o seu parceiro do centro da defesa, Cristian Romero, e oito para o seu guarda-redes, Guglielmo Vicario.

Mais sete foram para o lateral-esquerdo, Spence, o que significa que mais de metade dos passes foram feitos na linha defensiva.

Faltou criatividade e intenção a Kudus e companhia

O habitualmente criativo Mo Kudus fez apenas 21 passes certos, sendo que 10 deles – nem sempre para a frente – foram para Pedro Porro, e mais oito para Xavi Simons, no meio-campo.

A pressão dos jogadores do Forest obrigou o ganês a assumir um papel mais defensivo, e as suas três interceções nos primeiros 25 minutos comprovam-no. Só em seis ocasiões, nos seus 80 jogos na Premier League, tinha feito mais num só encontro.

A falta de criatividade e de intenção – não só de Kudus – acabou por garantir que o Tottenham nunca esteve verdadeiramente perto de vencer frente a um onze claramente motivado e determinado a afastar-se dos lugares de baixo da tabela.

Talvez o dado mais preocupante do jogo seja o facto de Richarlison ter tocado apenas 16 vezes na bola e feito apenas três passes certos. Se não se serve o homem da frente, não se marcam golos.

Os próximos jogos frente ao Liverpool, Crystal Palace e Brentford ganham agora ainda mais importância, e Thomas Frank poderá começar a sentir a pressão no início do novo ano se o nível exibicional e os resultados não melhorarem.

Jason Pettigrove
Jason PettigroveFlashscore