Nomeação para o The Best
- Reforço do Wolves desde o início da época em Inglaterra, recentemente nomeado para os prémios The Best como um dos melhores médios. Como tem lidado com o frio neste inverno em Inglaterra?
Bem, estou a sentir-me bem. Sim, o inverno já começou aqui em Inglaterra, o clima é um pouco mais complicado, mas está tudo a correr bem, graças a Deus.
- Achas que para um colombiano, tendo em conta que é a tua primeira experiência com este tipo de clima, a adaptação ao inverno é difícil? Sei que ainda não está no auge, mas como tens vivido isso?
Gosto do frio. Vivi em cidades na Colômbia como Bogotá e Tunja, onde também se sente frio durante grande parte do ano. Não é igual, mas sinceramente gosto do frio. É uma questão de adaptação, todo esse processo é natural.
- O que estavas a fazer quando viste o teu nome na lista do The Best e como te sentiste?
Foi curioso. Estávamos a jantar em casa de um colega do clube. Quando regressei a casa, entrei no carro e ia procurar qualquer coisa no telemóvel, já nem me lembro o quê, e apareceu-me uma notificação de uma publicação do Fluminense. Entrei, vi e depois reparei em todas as mensagens que tinha, mas na verdade só percebi por acaso.
É um motivo de orgulho para mim estar nomeado para o The Best. Era um sonho e um objetivo: estar entre os melhores jogadores do mundo. A época passada foi excelente para mim a nível pessoal, com muitos aspetos positivos, culminando com o Mundial de Clubes, onde tivemos uma participação excecional e quebrámos muitos paradigmas, contrariando muitas das previsões que todos tinham sobre o Fluminense.

Fluminense
- Ainda acompanha o Fluminense? Deixou uma marca, é um ídolo para os adeptos.
É complicado por causa dos horários. Não consigo ver os jogos porque acabam sempre de madrugada, devido à diferença horária. Mas sim, acompanho os resultados, os golos, a campanha que estão a fazer no Brasileirão, que é boa. Pelo que sei, garantiram a qualificação para a Taça Libertadores.
- Deixou bons amigos, têm estado atentos a si desde que saiu?
Foram bons anos, bons tempos no Fluminense, ficou esse carinho e respeito. Sim, tenho grandes amigos, excelentes colegas e às vezes falamos sobre como estou, como estão eles por lá. Esse vínculo não se perde, desejo-lhes o melhor na meia-final da Taça do Brasil e que tudo termine da melhor forma para eles.

- Recentemente surgiu o rumor de que, devido ao momento que os Wolves atravessam, havia um clube brasileiro interessado em si, que não era o Fluminense, e que existia essa possibilidade. Pelo que percebo, não é verdade, mas disseram-lhe algo sobre isso?
Acho que é algo normal. No mundo do futebol há sempre rumores e especulações, ainda mais por tudo o que conquistei no Brasil. É natural que me associem a um ou outro clube. Faz parte do processo. Pela situação atual do clube, que não é das melhores, tivemos um mau início de época e, como as temporadas são diferentes, no Brasil já se pensa na próxima época e esses rumores aparecem.
Com a janela aberta, acredito que a especulação sobre um ou outro grande clube brasileiro vai aumentar, mas estou tranquilo, consciente do momento que vivemos no Wolverhampton, e estou a trabalhar muito para alcançar o objetivo e inverter a situação.
Wolverhampton
- Estreou-se pelos Wolves num amigável de pré-época e marcou um golo em poucos minutos. O que significou esse momento?
Foi uma bela estreia, um amigável contra o Girona. Era o meu primeiro jogo, as minhas primeiras sensações. Estava há três dias no clube, por isso foi um momento especial. Estou a trabalhar muito e focado para que as coisas melhorem, para poder marcar na Premier League e ajudar a equipa a sair desta situação. Acho que temos os recursos humanos necessários, mas não podemos negar que tivemos um mau arranque de época e precisamos de melhorar.
- No momento em que se estreia na Premier League, ou ao assinar o contrato, o que lhe passou pela cabeça depois de todo o percurso daquele menino que cresceu em Quibdó e que agora cumpre o sonho de jogar numa liga que, para muitos, é a mais importante do mundo?
É a concretização de sonhos, de metas e objetivos de vida. Qualquer pessoa, em qualquer profissão, quer chegar à elite, aos melhores lugares, aos melhores palcos, isso é natural e mostra a minha ambição e o meu carácter de querer sempre mais, de procurar sempre o melhor para a minha carreira.
No momento em que tive a oportunidade de vir para o Wolverhampton, que foi o clube que me abriu essa porta para a Premier – e para mim também, é a melhor liga do mundo – era um projeto que sabia que seria desafiante, complexo e uma oportunidade de realizar esse sonho, esse objetivo pessoal de chegar à melhor liga do mundo, de estar rodeado dos melhores jogadores.
É isso que se ambiciona quando se começa a jogar futebol, estar entre os melhores, essa foi a minha motivação. É a realização de sonhos pessoais, da minha família, das pessoas que estiveram comigo e me ajudaram, que fizeram parte deste processo. Só posso agradecer. Tive a sorte, ao longo da minha carreira, de quebrar muitos paradigmas e probabilidades. Sabia que vir para o Wolverhampton, com a idade com que vim, para um clube da Premier, pelo valor pago, estava fora do padrão do futebol atual. Por isso estou feliz com esta oportunidade que me foi dada.

- Como tem sido a adaptação ao futebol e à língua? Sei que já estava a ter aulas de inglês mesmo antes de assinar pelos Wolves.
É uma liga totalmente diferente, o que até é positivo porque te faz evoluir como jogador e como pessoa. Ajuda-te a crescer mentalmente pela complexidade, porque é uma liga com uma margem de erro muito pequena, a qualidade dos jogadores é superior. O ritmo, o aspeto físico, tudo é diferente das outras ligas a que estamos habituados. Isso por si só explica porque é considerada por muitos a melhor liga do mundo.
É muito exigente, mas sinceramente, independentemente da situação do clube, tenho-me sentido bem. Tenho evoluído com o passar dos jogos, o que é normal. A adaptação faz parte das mudanças, da transição de uma liga para outra; no meu caso, de um continente para outro. Por isso, tenho-me sentido bem. Hoje sinto-me muito melhor, mais integrado na Premier League.
No Wolverhampton, sou uma pessoa muito centrada, tranquila e consciente das coisas. Sei o que me trouxe até aqui, até onde posso ir. O que me fez alcançar grandes coisas foi manter-me humilde, a trabalhar e focado. É a única forma que conheço de alcançar objetivos. Estou consciente da situação em que estamos, mas também sei que tenho tudo o que é preciso para inverter este momento. Tenho essa convicção. Também tivemos um pouco de azar, mas é preciso continuar a trabalhar, confiar em Deus e acreditar que as coisas vão melhorar.
- Chegou agora à equipa Rob Edwards, que conhece muito bem a idiossincrasia dos Wolves… O que espera ele de si e o que lhe disse diretamente nas conversas pessoais?
Bem, o mister aproximou-se de mim no primeiro dia em que cheguei, porque quando foi nomeado treinador eu estava com a seleção. Desde então tem sido uma pessoa muito transparente comigo, disse-me que sabe o grande jogador que sou. Ele conhece as minhas qualidades, tudo o que posso dar ao clube e o que esperam de mim.
Sabe que é um processo de que precisamos como clube, não só a nível individual, porque no fim somos uma equipa. Tem sido alguém que, à sua maneira, tem tentado transmitir-me confiança e segurança, porque talvez as coisas estejam bem, mas precisam de estar ainda melhores. A complexidade da situação, do momento, e o facto de o futebol exigir resultados e reações imediatas, ainda mais num lugar como a Premier League.
- Ladislav Krejci, seu colega nos Wolves, como o vê, acha que pode vir a ser capitão da Rep. Checa?
Sim, acho que sim, é um grande jogador, excelente defesa-central, também joga por vezes a médio, uma pessoa com muita qualidade. Surpreendeu muita gente no clube pela positiva, é alguém muito sólido. É um grande defesa. Para mim, particularmente, é mesmo muito, muito bom. É um dos grandes nomes do seu país. É alguém que quase sempre vai à seleção. Acho que é um excelente rapaz, humilde, trabalhador. Chegou ao Wolverhampton com essa ambição e vontade de contribuir e evoluir.
- Outro colega é o norueguês Jorgen Strand Larsen. Como o vê numa altura em que os avançados noruegueses, como Haaland ou Sorloth, se têm destacado tanto?
É um grande jogador. Foi um dos principais nomes do clube na época passada. É um excelente colega, alguém que também me recebeu muito bem aqui no clube. Tem estado atento a mim, ajudando-me, orientando-me nas coisas que considera importantes, já que está cá há mais tempo, e sabe que me podem ser úteis. É alguém com quem criei uma sinergia positiva. Cada vez nos entendemos melhor em campo, no que ele gosta, no que eu gosto.
Acredito que podemos fazer coisas boas e até incríveis juntos. Ele tem essa competitividade na seleção, com grandes avançados, mas também é um deles. Tem grandes hipóteses de estar no Mundial, de conquistar o seu espaço e ser também uma peça importante nesse ataque da Noruega.
- Já jogou contra o Crystal Palace, Aston Villa, Chelsea, Manchester City... dos que já viu e enfrentou, qual lhe pareceu o mais difícil?
O interessante é que todas as equipas são diferentes. Têm as suas próprias ideias e formas de alcançar os objetivos. Para mim, o Chelsea atravessa um excelente momento. Com alguns jogadores que, individual e coletivamente, estão num nível muito alto. É um clube que está numa fase positiva. Surpreendeu-me pela positiva. Defrontei-os com o Fluminense, defrontei-os com o Wolverhampton e, atualmente, considero que estão entre os melhores clubes do mundo pela forma como jogam, como estão compactos e ligados uns aos outros.
O Crystal Palace já todos conhecemos. Bem, os colombianos conhecem-no um pouco mais por causa do Daniel (Muñoz), do (Jefferson) Lerma, que acompanhámos mais de perto. É um clube que tem feito coisas importantes nos últimos anos. Tem-se mantido sólido e tem capacidade para lutar por objetivos importantes esta época.

Seleção da Colômbia
- Yerson Mosquera já está há algum tempo no clube, sofreu uma lesão grave, mas mesmo sem jogar o clube decidiu renovar com ele. Como tem sido a experiência ao lado dele e como vê o seu futuro?
O Yerson é um excelente rapaz, alguém que tem estado sempre atento a mim desde que cheguei, sempre disponível. Temos essa proximidade, primeiro pela nacionalidade e depois porque é uma grande pessoa. Antes de vir, ele já falava comigo, explicava-me um pouco sobre o clube e, quando o interesse se tornou oficial, foi das primeiras pessoas a ligar-me, explicou-me como era o clube, a dinâmica. Desde que cheguei, tem estado sempre presente, a ajudar-me, a mostrar-me, a ensinar-me. Já está há muitos anos aqui na cidade, no clube. Ele está muito mais familiarizado com tudo. Tem sido uma grande ajuda para mim. Apesar das lesões, é um grande talento. É um excelente defesa-central e o mais importante é que está disponível para a Colômbia, tanto no presente como no futuro.
- Quais são as suas expectativas depois de ter disputado a maioria dos jogos de qualificação e estando a poucos meses do início do Mundial-2026?
O meu foco agora é chegar o melhor preparado possível ao Mundial, esse é o sonho de qualquer jogador: disputar um Mundial, o torneio mais importante e um privilégio estar lá. Temos uma grande oportunidade pela frente para conseguir algo histórico para a Colômbia, para o nosso país e dar uma alegria ao povo que merece e precisa.
Vamos passo a passo, a seguir o processo, conscientes da complexidade da fase final e da esperança de nos entusiasmarmos com o Mundial, pela equipa que temos, pelo trabalho realizado, por tudo o que foi este processo muito positivo. Já estamos muito perto, mas ainda há aspetos a melhorar para chegarmos ainda melhor a essa fase final.

- Algo que temos visto de si na seleção da Colômbia é que se tornou um verdadeiro todo-o-terreno. Já não vemos o Jhon Arias extremo pela direita ou esquerda, mas a ajudar na ausência do Luis Díaz, que vai para o meio. Tem jogado como médio interior com o Richard Ríos e o Lerma, à direita, à esquerda... Como tem sido nessa posição?
Estou disponível para ajudar onde for preciso, onde o professor Néstor (Lorenzo) considerar mais adequado para o grupo, porque no fim quem beneficia é a equipa. Para mim, é positivo porque me torna um jogador mais completo, capaz de atuar em várias posições, o que no futebol moderno é fundamental. Sinto-me confortável em todas elas e procuro evoluir, seja a jogar como interior, como extremo, à esquerda ou à direita, tento sempre dar o meu melhor. É uma vantagem mútua: são precisos jogadores assim e para mim é ótimo poder jogar dessa forma e continuar a crescer.
- Passou pelo Patriotas, pelo Santa Fe, pelo América. Algum destes três clubes lhe deixou mais gosto ou ligação?
Acho que tenho o mesmo carinho pelos três. Todos marcaram a minha história de forma positiva, bonita e especial. O Patriotas foi o primeiro clube profissional da primeira divisão que me abriu as portas, que confiou em mim, que acreditou em mim. É um clube com o qual mantive sempre um vínculo. Sempre estiveram atentos a mim. Por isso tenho esse carinho e gratidão por eles.
O América é um clube grande, dos maiores da Colômbia e da América do Sul. Foi o clube que me permitiu conquistar o meu primeiro título profissional, por isso guardo essa recordação e carinho de ter sido o primeiro clube a dar-me um título.
O Santa Fe foi o clube que me projetou para o exterior, provavelmente o que me permitiu ir para o Brasil, ter essa experiência e estar hoje onde estou. Tenho essa gratidão e carinho. Mais do que comprometer-me com algum deles, tenho um carinho diferente por cada um. Se surgir a oportunidade, estaria aberto a regressar a qualquer um deles. Aos três guardo uma recordação e um carinho especial.
Jhon, muito obrigado pelo teu tempo, obrigado por levares a bandeira da Colômbia ao mais alto nível.
Obrigado pela entrevista e pelo espaço. Um abraço e que Deus te abençoe.
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