Acompanhe as incidências do Al-Duhail
Marco Verratti iniciou a carreira no clube da sua terra natal, o Pescara, sob a orientação do lendário treinador Zdeněk Zeman. Mais tarde, transferiu-se para o gigante francês Paris Saint-Germain, sem nunca ter jogado na Serie A. Atualmente, atua no Al-Duhail, do Catar, após duas épocas ao serviço do Al-Arabi.
Ao longo da entrevista, Verratti recordou os vários capítulos da sua carreira, desde a costa adriática de Abruzzo ao brilho da capital francesa, até chegar à opulência da Península Arábica, onde continua a escrever o seu percurso no futebol.

"Ainda sou relativamente jovem para o futebol"
- Depois de sair do Paris SG, está agora na sua 3.ª época no Catar. Como descreveria a liga?
Aqui, o estilo de futebol é claramente diferente, mas no fim, futebol é sempre futebol. Dentro de campo, divertimo-nos; para mim, basta uma bola e alguns colegas e já estou feliz. Sinto-me mesmo confortável aqui. As diferenças são sobretudo culturais. O futebol aqui é mais tranquilo, enquanto na Europa é tudo ou nada: se perdes ao domingo, a meio da semana já estás em apuros. Aqui é mais descontraído. Fora do campo, estou a descobrir uma nova cultura, um modo de vida diferente, mas sinto-me muito bem.
- Provavelmente é o maior jogador italiano que nunca jogou na Serie A. O que pensa desse registo? Acha que isso poderá mudar?
No futebol, nunca se sabe. Para já, tenho contrato aqui, estou feliz e a minha família também. Ainda sou relativamente jovem para o futebol, tenho mais alguns anos pela frente, nunca tive lesões, felizmente, por isso sinto-me bem e veremos no futuro se surge alguma oportunidade.
- Jogou pela última vez na seleção em 2023. Pensa em regressar?
Não sei. Foi em parte uma decisão minha quando vim para o Catar. Os meus filhos ficaram a viver em Paris, por isso o período internacional é o único momento em que os posso ver. Como disse antes, o futebol é a minha maior paixão, mas os meus filhos vêm primeiro. Para já, penso que vai continuar assim.

- Estreou-se no futebol sénior em Pescara, sob o comando do lendário Zdenek Zeman. Que memórias guarda dele?
Para mim, foi o melhor treinador que tive. Acho que para um jovem jogador, passar pelos treinos de Zeman é uma bênção. Ele tem um conhecimento enorme e faz-nos perceber tudo o que é preciso no futebol: correr, tática e técnica. Deu-me imenso, e penso que se consegui alcançar tanto no futebol, muito se deve a ele.
- Continua em contacto com ele?
De vez em quando, sim. Nos aniversários ou no Natal, tento enviar-lhe uma mensagem. No futebol, às vezes afastamo-nos e é difícil manter o contacto, mas é um treinador por quem tenho muito carinho e com quem partilho muitas memórias.
- É agora o maior acionista do Pescara. O que o levou a investir no clube da sua infância?
Para mim, foi uma forma de retribuir ao clube que me deu tudo. É um clube pequeno que também fez sacrifícios por mim, sempre me apoiou e ajudou a crescer da melhor forma. Foi um gesto de agradecimento por tudo o que fizeram por mim, e quero continuar a ajudar o Pescara a crescer, dando tudo aos jovens locais, mesmo para lá da região, e em termos de infraestruturas, para que possam continuar a evoluir e jogar futebol.

- Conquistou o Euro-2020 com Itália durante a pandemia de COVID. Que recordações tem desse torneio?
Para mim, foi talvez a maior satisfação e emoção que vivi no futebol. Vencer pela seleção é algo único, porque o Europeu disputa-se no verão e sabemos que toda a família, os filhos, os amigos estão juntos na praça da cidade a ver-nos. É um apoio que junta toda a gente, sem Inter, Milan, Juve: só a seleção. Foi uma sensação incrível. E ganhar em Wembley contra a Inglaterra foi fantástico, uma memória maravilhosa que levarei comigo para sempre.
"O Paris SG deu-me tudo"
- Tornou-se uma lenda no PSG, sendo o terceiro jogador com mais jogos na história do clube. Quais são as suas maiores recordações em Paris?
Passei 11 anos lá, dos 19 aos 31, que acho que são os melhores anos da vida de uma pessoa: adolescência, crescimento, tornar-se adulto. Conheci pessoas que me ensinaram que a vida deve ser vivida com respeito e educação. Para além dos troféus, foi a minha vida, onde cresci e me tornei homem. Os meus filhos nasceram lá e ainda vivem lá. O PSG deu-me tudo. Para mim, é um conjunto de memórias bonitas, só boas recordações, mesmo sem termos vencido a Liga dos Campeões. Houve momentos difíceis, mas para mim, é uma recordação incrível.
- Continua a ver os jogos do PSG?
Sempre, sim. Os meus filhos são grandes adeptos do PSG, ainda tenho muitos amigos lá e vejo sempre. Quero que ganhem. Conheço o Nasser (Al-Khelaifi), passamos muito tempo juntos aqui em Doha, por isso acompanho-os de perto. Com os meus filhos, tenho mesmo de ver! Não pedi nada ao clube, comprei eu próprio as assinaturas para os meus filhos, por isso continuo a acompanhar com muito prazer.

- Como foi partilhar o balneário com Lionel Messi, Neymar e Kylian Mbappé?
Cada um tem uma personalidade diferente. Sempre me dei bem com todos porque tenho um caráter tranquilo, e tive uma ótima relação com todos eles. Mas cada um é diferente...
O Messi é incrivelmente simples. Não se sente que se está a jogar com o melhor do mundo, porque para mim é também o melhor da história, mas é humilde, é sempre o primeiro a treinar, gosta dos exercícios, é uma pessoa fantástica e tive e continuo a ter uma excelente relação com ele.
O Neymar vive a vida ao máximo, está sempre a sorrir e é contagiante. Quando estamos com ele, estamos sempre a rir. É muito generoso e partilhámos momentos incríveis.
O Kylian está sempre pronto, quer ser o melhor do mundo. Não tem a técnica do Messi, mas faz-me lembrar um pouco o Ronaldo Fenómeno, alguém capaz de decidir um jogo a partir do meio-campo num instante.
- O que achou do triunfo do PSG na Liga dos Campeões no ano passado?
Fui ver a final ao estádio com alguns amigos de Paris, e foi um alívio depois de tantos anos, especialmente para o clube e para o presidente. Fiquei genuinamente feliz por eles porque sei o que passaram. Senti-me envolvido mesmo estando de fora, e sabia que todas as pessoas que lá trabalham há muitos anos queriam ganhar esta taça, por isso também foi um alívio para mim. Estou muito contente por terem conseguido.
