Em entrevista exclusiva ao Flashscore, o medalhista de ouro em Tóquio 2020 conta bastidores das suas negociações, fala sobre a chegada de Firmino ao Al-Sadd e revela por que motivo deixou a Rússia, onde era ídolo.
Guerra muda cenário no Zenit
Claudinho chegou ao futebol russo em 2021, logo após ganhar o prémio de melhor jogador do Brasileirão a jogar pelo Red Bull Bragantino.
O médio recebeu propostas do Flamengo e do Corinthians, mas o seu sonho era jogar na Liga dos Campeões.
“Eu fui para o Zenit para jogar a Liga dos Campeões, porque o primeiro ano que eu fui para lá ainda não havia guerra, ainda era um país muito tranquilo e disputava a Liga dos Campeões, que era meu sonho", contou.
“Eu achei que ali era uma equipa onde eu poderia chegar rapidamente e continuar a ter minutos de jogo, (seria melhor) do que ir para a Europa e talvez acabar por perder essa confiança, essa sequência que eu estava a ter no Red Bull. Fui para lá e fui muito feliz. No meu primeiro ano, cheguei, conseguimos ser campeões do campeonato russo, disputei a Liga dos Campeões, estive muito bem nos jogos e consegui também uma convocatória para a Seleção Brasileira", recordou Claudinho.
“O que mais me assustou um pouco na Rússia foi o frio", ponderou.
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, o brasileiro decidiu deixar o Zenit.
“Quando rebentou a guerra, as coisas mudaram um bocado, porque tinha alguns amigos que jogavam na Ucrânia, e aí acabava por haver o sofrimento deles lá", lembrou Claudinho, referindo-se aos seus ex-companheiros da formação do Corinthians que atuavam pelo Shakhtar Donetsk: Pedrinho e Maycon.
“Eu senti muito isso, e aí começou a pesar um pouco, sabe? Depois tive algumas propostas para voltar ao Brasil, mas o Zenit não deixava. Eu queria mesmo ter saído, não por nada contra o clube, mas também porque queria ter mais visibilidade. Antes já não se olhava muito para lá, e quando rebentou a guerra, piorou", afirmou.
“Eles sabiam que eu queria ir embora, mas não me libertavam. Quando eu fechava a janela, eles vinham e renovavam contrato. Eu pensava 'já vou ficar, então eu vou renovar o meu contrato, porque é uma melhoria para mim e para minha família, claro'".
“Eu queria muito voltar ao Brasil. Primeiro foi o Flamengo que me procurou, tínhamos quase tudo certo, mas o clube não conseguiu chegar a acordo com o Zenit. E a do Palmeiras também aconteceu agora, antes de eu vir para o Al-Sadd. Estava quase tudo certo para eu voltar, só que o Palmeiras também acabou por demorar, eles estavam na dúvida acho que entre Andrés Pereira e eu, e acabaram por esperar um pouco, ficaram uns dias sem dizer nada, e acabou por chegar a proposta do Al-Sadd. Então, o Zenit aproveitou. Não fui eu que dei para trás", disse Claudinho.
Do frio russo ao calor extremo do Catar
Claudinho mudou-se de São Petersburgo, onde o recorde de temperatura mínima é de -35 ºC, para Doha, onde os termómetros já marcaram 50 ºC positivos.
“O calor aqui é diferente, às vezes não é fácil jogar”, contou o médio.
“O Catar é um país muito diferente, mas muito bom. Adaptei-me muito rápido aqui. Melhor do que esperava", acrescentou.
“Os jogos da Liga dos Campeões da Ásia aqui são muito giros, os adeptos enchem mesmo o estádio, cantam e tudo. O futebol também está a crescer aqui", disse Claudinho, que revelou não sentir o peso de ser o atleta mais valioso da liga.
“Acho muito fixe ser o jogador mais caro, é muito gratificante, mas não fico muito a pensar nisso", confessou.
Mãe tirou o médio da baliza
Natural de São Vicente, no litoral de São Paulo, Claudinho começou a jogar no futsal do Santos – e a sua posição preferida era a de guarda-redes.
“O treinador foi ter com a minha mãe e disse-lhe que eu tinha de decidir se continuava a jogar na linha ou se ia para a baliza. Eu disse: ‘mãe, eu quero ser guarda-redes’, mas a minha mãe respondeu: ‘filho, por amor de Deus, se quiseres jogar futebol vai para a linha. Olha para o meu tamanho, olha para o tamanho do teu pai, não vais crescer, não vais ter estatura de guarda-redes’. Segui os conselhos dela e acho que correu bem", lembrou Claudinho, abrindo um enorme sorriso.

“Eu tive uma família que sempre tentou tirar algo de bom mesmo em situações más. A minha infância foi bastante difícil, vim de uma família muito humilde, mesmo muito humilde. Cresci numa favela de São Vicente chamada Jockey Club. Uma realidade muito dura, mas nós tentávamos sempre encontrar alguma felicidade em qualquer lado. Sempre fui uma pessoa muito feliz, uma criança muito feliz. Brincava mais na rua, a jogar futebol com os meus amigos desde os quatro anos de idade", contou.
“Foi uma realidade que eu vivi que eu precisei passar para hoje em dia dar valor também às coisas que tenho", completou.
O que muda com a chegada de Firmino
Ex-atacante do Liverpool, Roberto Firmino trocou o Ettifaq, da Arábia Saudita, pelo Al-Sadd de Claudinho esta temporada.
Claudinho afirmou que o colega brasileiro o surpreendeu pela simplicidade, e entende que ele vai “ajudar bastante” o emblema catari.
“O Firmino é uma pessoa muito leve e muito tranquila. A pessoa que ele é, pela grandeza que ele tem no futebol… há atletas profissionais que não são assim, normal, mas ele é um caso à parte. É uma estrela mesmo, é uma pessoa muito fixe”, contou o jogador de 28 anos.