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O regresso de Luciano Spalletti ao Nápoles não pode ser visto como um simples detalhe na véspera do grande jogo da 14.ª jornada da Serie A. Pela primeira vez desde a sua saída, o treinador campeão de Itália em 2022/23 regressa ao Maradona como adversário, liderando uma Juventus que, sob o seu comando, procura reencontrar estrutura, ordem e uma certa continuidade evolutiva.
Neste contexto, o antigo selecionador italiano, ao longo da carreira, venceu oito dos últimos 10 confrontos frente a equipas que treinou anteriormente, embora tenha perdido três das últimas cinco “primeiras vezes” contra ex-clubes: um dado que revela mais a complexidade emocional destes reencontros do que um verdadeiro padrão técnico.
Ao mesmo tempo, o panorama geral mostra uma Juventus historicamente – referimo-nos à história recente – com dificuldades frente ao Nápoles: apenas uma vitória nos últimos oito jogos do campeonato, com cinco derrotas que confirmam as dificuldades dos bianconeri em enfrentar os partenopei neste último ciclo.

Além disso, pesa para os bianconeri um dado estatístico relevante: o Nápoles venceu os últimos seis jogos em casa contra a Juventus, uma sequência que só o Inter, entre 1935 e 1943, conseguiu superar frente ao clube de Turim.
Se evitar a derrota no domingo à noite, o Nápoles alcançará mais um feito: terminar um ano civil sem derrotas em casa, algo que não acontece desde 1987. Até agora, em 2025, o Maradona registou 12 vitórias e quatro empates: nenhuma equipa europeia, excluindo as recém-promovidas, apresenta um desempenho caseiro semelhante.
O dado-chave
Neste cenário, a análise estatística centra-se nos detalhes que definem a identidade e os riscos de ambas as equipas. O primeiro ponto diz respeito aos remates de fora da área. A Juventus é a equipa que mais rematou de longe nesta Serie A, com 81 tentativas, enquanto o Nápoles é o conjunto da metade superior da tabela que mais permitiu remates de fora, 63.
À primeira vista, parece um mismatch potencialmente perigoso, mas a análise aprofunda-se ao observar as percentagens de eficácia: os bianconeri marcaram quatro golos de fora – 23,5% do total –, um valor elevado e coerente com uma equipa que procura frequentemente esta solução; o Nápoles, por sua vez, apesar de conceder muitos remates de longe, ainda não sofreu qualquer golo desta forma.

Este dado revela uma proteção eficaz da entrada da área e boa densidade à frente do guarda-redes na gestão de remates desviados ou previsíveis. A Juventus continua a ser uma das equipas mais perigosas de fora da área, apenas atrás do Inter e do Milan (ambos com cinco golos).
Análise dos golos
A análise dos golos evidencia diferenças claras. Após 13 jornadas, o Nápoles marcou 20 vezes e sofreu 11 golos; a Juventus tem menos golos marcados, 17, e sofreu 12. Os partenopei concretizam 90% dos seus golos dentro da área, 15% de penálti, enquanto apenas 10% resultam de remates de fora da área. A Juventus, como já referimos, obtém 23,5% dos golos em remates de longe, sinal de uma construção mais orientada para o remate quando não consegue penetrar a defesa adversária.
No plano defensivo, o Nápoles sofreu 81,8% dos golos dentro da área e 18,2% de penálti: nenhum de fora da área. Por outro lado, a Juventus revela uma vulnerabilidade mais diversificada: 58,3% dos golos sofridos em jogadas dentro da área, 8,3% de penálti e um pesado 33,3% de fora da área.

Também o “quando” oferece pistas interpretativas potencialmente decisivas. A Juventus marca quase metade dos seus golos, 47%, na última meia hora, sinal de uma equipa que cresce com o decorrer do jogo, aproveitando erros e desgaste do adversário.
O Nápoles distribui os golos de forma mais regular, mas concentra 50% das finalizações em torno do intervalo: uma capacidade interessante de atacar nos momentos psicologicamente mais delicados.
Do lado oposto, o Nápoles sofre 63,6% dos golos na segunda parte, com um pico no primeiro quarto de hora após o intervalo (36,4%), um traço que pode ser explorado por uma Juventus que gosta de acelerar nos últimos trinta minutos. A equipa de Spalletti sofre metade dos golos no quarto de hora final de cada parte, uma fragilidade que se manifesta nos momentos-limite de ambas as metades.
O “como” completa o quadro. O Nápoles marca 65% dos golos de bola parada, a Juventus 52,9%, compensando com uma arma cada vez mais relevante na Serie A: os cantos. 29,4% dos golos bianconeri nascem de canto, um dado que revela qualidade nas execuções, nas movimentações e na leitura das segundas bolas.
A Juventus, porém, concede 75% dos golos de bola parada, enquanto o Nápoles sofre muito pouco nesses lances: apenas 9,1% dos golos sofridos resultam de cantos ou esquemas fixos. As zonas cinzentas dos bianconeri podem, assim, chocar com um dos principais pontos fortes dos partenopei.
Neres desafia Yildiz
O destaque individual da semana recai sobre dois jogadores que partilham um percurso recente semelhante: ambos alvo de críticas frequentes, mas ambos decisivos nas últimas partidas.
Kenan Yildiz somou todas as suas sete participações em golos nesta Serie A no Allianz Stadium – quatro golos e três assistências –, e não tem impacto fora de Turim desde maio passado, quando marcou no Penzo frente ao Veneza. Um dado que levanta a questão: conseguirá quebrar esta assimetria precisamente numa das deslocações mais exigentes do ano?
David Neres, pelo lado do Nápoles, vive uma tendência oposta. Após 16 jogos sem qualquer participação em golos, esteve envolvido em cinco finalizações nas últimas seis partidas – três golos e duas assistências – tornando-se subitamente uma incógnita tática positiva e uma arma de imprevisibilidade nos mecanismos dos partenopei.

Conclusões
O Nápoles-Juventus chega assim carregado de subtilezas estatísticas e de oposições de estilo: a invencibilidade caseira dos azzurri contra a força mental dos bianconeri nos minutos finais, a precisão do Nápoles a proteger a entrada da área frente à tendência da Juve para o remate de longe, o crescimento de Neres contra a necessidade de Yildiz de se desbloquear fora de casa também no campeonato.
Um duelo que, para lá do regresso emocional de Spalletti, parece destinado a decidir-se nos pormenores. E nos dados, onde muitas vezes se escondem os indícios mais sólidos dos jogos mais imprevisíveis.

