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Corinthians: Gastos em picanha e medicamentos para disfunção erétil na era Duilio sob investigação

Duilio é alvo de denúncias de uso indevido do dinheiro do Corinthians
Duilio é alvo de denúncias de uso indevido do dinheiro do CorinthiansETTORE CHIEREGUINI / AGIF / AGIF via AFP
Durante a presidência de Duilio Monteiro Alves, o Corinthians pagou uma série de produtos e serviços para uso pessoal, segundo documentos divulgados numa reportagem do site ge.globo. A lista de despesas inclui itens tão variados como cerveja e medicamentos para disfunção erétil. O antigo presidente do Timão nega qualquer envolvimento no caso.

A reportagem do ge apresentou recibos que mostram o gasto para fins pessoais. O relatório de despesas data de 26 de setembro a 31 de outubro do referido ano. A veracidade dos recibos foi atestada.

Quem assinou o documento foi Denilson Grillo, conhecido como Carioca, motorista do ex-presidente do Corinthians. Confrontado pela reportagem, o antigo funcionário do clube afirmou não ter conhecimento da referida folha de despesas, nem sequer da sua assinatura nesse documento.

Relatório de Despesas assinado por Denilson Grillo, ex-funcionário de Duilio
Relatório de Despesas assinado por Denilson Grillo, ex-funcionário de DuilioReprodução/ge

Apesar disso, num documento apresentado na Junta Comercial de São Paulo para a abertura de uma empresa, a assinatura de Denilson está presente.

Grande parte dos comprovativos anexados à folha de despesas não identifica o comprador, mas há talões fiscais com os nomes de Duilio e de Denilson, bem como os respetivos endereços residenciais.

Em 36 dias de prestação de contas, o montante gasto em 176 compras declaradas ascendeu a cerca de 14.800 euros. O documento indica ainda que aproximadamente 13.675 euros foram repassados diretamente à presidência em três parcelas, com Denilson a ter direito a um reembolso de cerca de 1.125 euros.

De buffet "fantasma" a Cialis

A investigação levada a cabo pelo ge apurou que grande parte dos valores foi canalizada para o fornecedor "Oliveira Minimercado". Foram gastos cerca de 5.615 euros em sete faturas, emitidas entre os dias 18 e 31 de outubro. O serviço indicado, segundo o detalhe das notas, foi o de buffet.

No entanto, no local referido nas faturas, vizinhos garantiram que nunca existiu qualquer estabelecimento comercial. Curiosamente, apenas nove dias antes da emissão da primeira fatura, o "Oliveira Minimercado" era, na verdade, registado como "Oliveira Obras de Alvenaria".

Outro dado que levanta suspeitas são as 38 compras efetuadas no "Oba Hortifruti", onde foram adquiridos produtos como cerveja, gelados, legumes, fruta e picanha. As faturas não aparentam ter qualquer ligação com o Corinthians ou com atividades relacionadas com futebol. Em algumas delas, Duilio é mesmo identificado como comprador de dois aparelhos de barbear no valor de cerca de 510 euros, além de serviços como lavandaria, manicure, pedicure, entre outros.

Já em nome de Denilson Grillo, as faturas registam compras de flores, artigos de decoração e até medicamentos para disfunção erétil, como tadalafila e Cialis. Os gastos estendem-se ainda a Sidney Balbino dos Santos, antigo assessor parlamentar de Andrés Sanchez, ex-presidente do clube, entre 2015 e 2017, que terá adquirido umas calças e uma camisa social no valor de cerca de 58 euros.

Contactado pela reportagem, Duilio Monteiro Alves emitiu uma nota oficial, alegando ser vítima de ataques fraudulentos, resultantes da manipulação de faturas e folhas de despesas da sua gestão. O ex-presidente informou ainda ter denunciado o caso à Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Desportiva (DRADE/DOPE).

“Numa rápida verificação, já detetámos uma fatura de cartão de crédito falsa e dois documentos incluídos na alegada folha de despesas, que foram identificados como inexistentes numa apuração realizada pelo clube junto da direção financeira da gestão de Augusto Melo, numa denúncia anterior”, afirmou Duilio em comunicado.

“Já formalizei igualmente um pedido ao Conselho Deliberativo para que sejam apuradas todas as circunstâncias relacionadas com este episódio, quer no que toca à veracidade dos documentos e à tentativa de me associarem a eles, quer no que diz respeito à conduta de todos os envolvidos”, afirmou ainda Duilio Monteiro Alves.

“É evidente que estas ações têm motivações políticas claras, com o objetivo de manchar a minha imagem, a minha reputação e até a própria estabilidade do Sport Club Corinthians Paulista”, acrescentou.

“Quanto à matéria publicada pelo portal ge, reafirmo que não reconheço a veracidade da folha de despesas divulgada. Nunca tive acesso direto a esse documento, apenas tomei conhecimento do mesmo através de imagens partilhadas em redes sociais ou enviadas por terceiros. Durante toda a minha gestão, jamais recebi ou aprovei pagamentos naquele formato e, muito menos, fui informado sobre os alegados pagamentos a que agora tentam associar o meu nome”, concluiu o ex-dirigente.

Também Wesley Melo, diretor financeiro durante o mandato de Duilio Monteiro Alves, e João de Oliveira, presidente do Conselho Fiscal da época, asseguram não reconhecer o relatório divulgado.

Gestão de Andrés Sanchez na mira

O Conselho Deliberativo vai dar seguimento às investigações sobre a utilização de dinheiro do Corinthians para fins pessoais durante a gestão de Andrés Sanchez, em 2020. Na altura, o cartão do clube foi utilizado para despesas de cerca de 1.610 euros durante as celebrações de réveillon em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte, além de quase 1.200 euros em gastos em Fernando de Noronha.