Neymar apresentou um rendimento abaixo do esperado durante grande parte do Brasileirão. Fustigado por lesões, a sua maior sequência de jogos consecutivos ficou-se pelos sete encontros. Ainda assim, quando a ameaça de descida à Série B, pela segunda vez na sua história centenária, passou a pairar sobre o Santos, o camisola 10 assumiu a responsabilidade.
“Se Neymar não tivesse jogado, o Santos provavelmente teria sido despromovido”, afirmou à AFP Felipe Camargo, jornalista que acompanha e narra os jogos do clube.
Cinco dos seus oito golos em 20 jogos no campeonato foram marcados nas últimas cinco jornadas e revelaram-se decisivos para garantir a manutenção na primeira divisão. Apesar de todas as condicionantes, o balanço global é positivo para o Santos.
Com Neymar em campo, o Santos somou nove vitórias, cinco empates e seis derrotas. Sem o camisola 10, o registo foi significativamente inferior: três vitórias, seis empates e nove derrotas.
“Não foi um ano bom, por causa das lesões, mas gostei de muitas coisas que ele mostrou agora nesta reta final. Espero que o próximo ano seja melhor”, afirmou Héctor Sousa, adepto que marcou presença na Vila Belmiro na vitória por 3-0 frente ao Cruzeiro, resultado que selou a manutenção da equipa paulista na elite.
Sob pressão
Nos momentos mais difíceis, Neymar revelou que recorreu a acompanhamento psicológico para conseguir sair do fundo do poço.
“O meu emocional foi para zero. Já não tinha forças para me reerguer sozinho”, admitiu o craque, em entrevista à ge.
O apito final frente ao Cruzeiro foi vivido como um momento de alívio. Neymar caiu de joelhos no relvado, sob aplausos de cerca de 15 mil adeptos, antes de dar uma volta olímpica ao estádio.
“Sinto-me feliz, aliviado”, declarou, por sua vez, o treinador Juan Pablo Vojvoda.
O pior inimigo
Nada condicionou mais a época de Neymar do que as lesões. Na reta final da temporada, o avançado chegou a competir com problemas no joelho esquerdo, situação que irá obrigar a uma intervenção cirúrgica nas próximas semanas.
“Sofreu muito”, analisa Felipe Camargo, que sublinha que o Santos contou com Neymar “não como uma peça para acrescentar qualidade, mas como um verdadeiro salvador da pátria”.
As polémicas também acompanharam o camisola 10 ao longo da temporada. A presença de Neymar no Carnaval do Rio de Janeiro, enquanto recuperava de uma lesão sofrida durante o Campeonato Paulista, gerou forte controvérsia, tal como uma discussão pública com um adepto que o acusou de ser “mercenário”.
O jogador esteve ainda envolvido numa disputa judicial ao tentar impedir a publicação de um podcast biográfico que retratava o seu pai como um empresário “voraz”. O juiz responsável pelo caso rejeitou o pedido e acusou Neymar de tentar promover uma “odiosa censura prévia”.
Mundial-2026: sim ou não?
Um dos objetivos de Neymar passa por regressar à seleção brasileira e disputar o Mundial-2026. O selecionador Carlo Ancelotti, que assumiu o comando técnico em junho, ainda não chamou o avançado.
“Temos de pensar no Brasil, que pode estar com Neymar ou sem Neymar”, afirmou Ancelotti após o sorteio realizado a 5 de dezembro, que colocou a selecção no Grupo C, juntamente com Marrocos, Haiti e Escócia.
A continuidade de Neymar no Santos permanece igualmente incerta. O contrato do avançado termina no final de dezembro. “Queremos a continuidade do Neymar. O projeto é pensado até ao Campeonato do Mundo”, revelou o presidente do clube, Marcelo Teixeira.
De acordo com a imprensa brasileira, Neymar aufere cerca de quatro milhões de reais mensais, o que corresponde a aproximadamente 740 mil euros, somando salário e direitos de imagem.
Potencial de marca
Há um dado incontornável: o seu poder enquanto marca. A camisola 10 de Neymar domina de forma clara as bancadas da Vila Belmiro. Segundo dados divulgados pelo clube, foram vendidas cerca de 240 mil camisolas no primeiro semestre.
“Neymar tem uma força enorme e uma base de fãs impressionante, com mais de 220 milhões de seguidores nas redes sociais”, afirmou à AFP Fábio Escalhão Atássio, diretor de marketing da Tropicool, empresa do setor alimentar que aposta na imagem do jogador.
“Foi uma força motriz por detrás da expansão da marca na Europa e no Médio Oriente”, acrescentou Atássio.
Enquanto Neymar atrai patrocinadores para o Santos, o clube anunciou um projecto para a construção de um novo estádio, com arranque previsto para o próximo ano. Em paralelo, a NR Sports, empresa da família do jogador, adquiriu os direitos da marca Pelé.