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Agora, com o privilégio de abrir a CAN em Rabat frente aos anfitriões e favoritos Marrocos, a equipa abraça tanto o desafio como o papel de outsider.
“É uma grande honra para o país, para os jogadores e para a equipa técnica. É o jogo inaugural, num estádio novo, e contra uma equipa tão forte”, afirma o treinador principal Stefano Cusin ao Flashscore, a partir de sua casa em Itália.
“Marrocos é, sem dúvida, a melhor equipa de África e uma das melhores do mundo. Têm uma federação muito forte, a equipa sub-20 deles é campeã do Mundial... Para nós, será difícil, mas ao mesmo tempo, não temos nada a perder. Temos uma equipa de qualidade e podemos jogar sem pressão. Espero um grande jogo."
Cusin acredita que os jogadores das Comores estão numa excelente posição. Representando um país insular com menos de um milhão de habitantes e com a maioria do plantel a jogar em divisões secundárias ou terciárias na Europa, não se espera muito deles. Mas, ao valorizar o papel de outsider e mantendo uma confiança saudável, podem surpreender.

“Queremos desfrutar, jogar sem pressão e sem limites”, diz Cusin sobre os objetivos das Comores na CAN. “No grupo, jogamos contra Marrocos, Zâmbia e Mali – três equipas que nunca vencemos. Por isso, se tiver de definir um objetivo, quero mudar a nossa história,” afirma, deixando no ar a esperança de finalmente derrotar pelo menos uma destas seleções.
Uma questão de mentalidade
O Grupo A não será nada fácil. Marrocos qualificou-se automaticamente como anfitrião, claro, mas é o país africano melhor colocado no ranking da FIFA e, provavelmente, o maior favorito a conquistar o troféu.
Zâmbia, Mali e Comores lideraram os respetivos grupos de qualificação, e as Comores foram sem dúvida a maior surpresa, terminando invictas num grupo que incluía Tunísia, Gâmbia e Madagáscar. Especialmente a vitória por 1-0 na Tunísia, que se qualificou em segundo lugar, foi histórica.
“É uma questão de mentalidade. Um treinador tem de pensar que a sua equipa é melhor do que qualquer outra, mesmo que isso não seja verdade naquele momento. Peço sempre aos meus jogadores para pensarem como uma grande equipa”, revela Cusin ao Flashscore, recordando o triunfo na cidade portuária de Rades.
“Antes do jogo contra a Tunísia, disse-lhes: 'Vocês não são jogadores da terceira divisão. Vocês são o defesa-central do Chelsea. Vocês são o avançado da Juventus. Jogam pelo Real Madrid.' Quis dar-lhes autoconfiança,” recorda.

“Talvez a Tunísia esperasse que apenas defendêssemos, mas jogámos com três avançados e fomos muito ofensivos. Depois de somar quatro pontos frente à Tunísia, tive a certeza de que íamos conseguir a qualificação."
Quatro dias após a vitória histórica, as Comores seguraram os favoritos num empate 1-1 no jogo da segunda mão, disputado na Costa do Marfim. Os outsiders foram obrigados a jogar os últimos dois anos, incluindo toda a qualificação da CAN, fora de casa, já que o estádio nas Comores não cumpria os requisitos da CAF.
Isso mudou finalmente em novembro, quando as Comores regressaram a casa para disputar dois particulares contra Namíbia e venceram ambos. O treinador principal recorda a reação incrível dos adeptos, que viram finalmente os seus heróis regressar.
“Os adeptos das Comores são inacreditáveis. São apaixonados pelo futebol,” diz Cusin, sorrindo. “Quando regressámos em novembro, a forma como nos receberam foi extraordinária. Do aeroporto ao hotel, as ruas estavam cheias de pessoas. O estádio encheu nos dois jogos. O povo é incrível. Adoramos os nossos adeptos e queremos jogar por eles”, acrescenta.
Continuar a apostar na juventude
Sob a liderança de Cusin, o plantel transformou-se profundamente nos últimos dois anos – no máximo, cinco jogadores que representaram as Comores na última CAN deverão integrar o grupo agora. Na vitória contra a Namíbia, alinharam sete jogadores entre os 18 e os 20 anos.
“As Comores abordaram-me há vários anos para reconstruir a equipa, mudar jogadores, dar uma nova identidade ao grupo. Foi difícil, mas subimos 30 posições no ranking da FIFA. Vencemos quase 60% dos nossos jogos”, recorda Cusin.
“Mas, como disse, não somos a Nigéria nem o Senegal. Não me podem pedir para ganhar a CAN. Podem pedir-me para jogar bem e talvez ser a surpresa. Nunca se sabe."

O que também permanece incerto é o futuro de Cusin para lá da CAN. O treinador que transformou os outsiders numa das maiores surpresas do futebol africano está perto do fim do contrato com as Comores, embora já estejam a decorrer conversações para uma possível renovação.
“Se continuar, quero construir com este grupo e trazer mais jovens jogadores. Quero que as Comores estejam sempre na CAN e, quem sabe, um dia, como Cabo Verde, cheguem ao Mundial,” afirma.
