Os Super Eagles viajam para Marrocos como um dos favoritos ao título, embora a equipa – e o país – ainda estejam a recuperar da surpreendente derrota no playoff de qualificação para o Mundial, frente à RD Congo.
Medalha de ouro com a Nigéria nos Jogos Olímpicos de 1996, Babangida falou ao Tribalfootball a partir da sua casa, nos Países Baixos, sobre as hipóteses da Nigéria na CAN e também sobre como Eric Chelle e os seus jogadores podem recuperar do desgosto do Mundial a tempo de enfrentar o torneio de frente.
- Quão importante é uma grande prestação na CAN para a Nigéria após o fracasso na qualificação para o Mundial?
- Penso que, depois da experiência infeliz de falhar o Mundial da FIFA duas vezes seguidas, ainda é muito doloroso aceitar esta realidade. No entanto, o próximo objetivo é a CAN, que pode ser usada para recuperar a imagem do futebol nigeriano. Para a NFF, os jogadores e todos os envolvidos no futebol, tudo o que temos agora é a CAN. Por isso, temos de fazer tudo para conquistar o troféu. O torneio não será fácil, todas as grandes seleções africanas que garantiram presença no Mundial 2026 também estarão presentes, mas os Super Eagles podem surpreender o mundo e chegar até ao fim. Acredito que a equipa pode trazer a Taça de volta para a Nigéria após mais de 12 anos. Vejo a Nigéria a disputar a final, pelo menos, e tudo pode acontecer numa final. Os Super Eagles estiveram na final da última edição, onde perderam para a Costa do Marfim por 2-1.
- O que nos pode dizer sobre o que aconteceu frente à RD Congo? Qual é a sua opinião?
- Nesse jogo, os congoleses estavam mais organizados do que os Super Eagles. Foi muito dececionante ver os Super Eagles naquela partida. O Congo dominou o jogo a partir da segunda parte e teve mais posse de bola. O Congo poderia ter vencido durante o tempo regulamentar ou no prolongamento, mas o jogo foi para penáltis, onde a Nigéria acabou por perder e ficou fora do Mundial-2026. O Congo mostrou que estava determinado, foi mais empenhado, mas é assim o futebol. A melhor equipa venceu.
- Como reagiram os adeptos nigerianos ao falhanço na qualificação para o Mundial?
- Pelo que percebi aqui nos Países Baixos, onde estou atualmente, os adeptos nigerianos espalhados pelo mundo não estão nada satisfeitos por os Super Eagles terem falhado o Mundial pela segunda vez consecutiva. Há muitos nigerianos a viver nos Estados Unidos, na Europa e também no país, todos à espera de apoiar e incentivar os Super Eagles nos EUA. Vi online alguns jovens adeptos nigerianos a chorar depois da equipa perder o playoff frente ao Congo em Marrocos. A realidade de ficar fora do Mundial da FIFA é muito dura para os adeptos e espero que esta CAN seja excelente para os Super Eagles e que sirva para animar os adeptos que sofreram com a derrota frente ao Congo.
- Até que ponto vencer a CAN pode unir novamente adeptos e jogadores?
- Se os Super Eagles vencerem a CAN, posso garantir que a equipa será perdoada pela dor de perder o bilhete para o Mundial e isso também enviará a mensagem de que a equipa apenas teve um percurso difícil durante as qualificações para o Mundial. Vencer a CAN vai unir adeptos e jogadores. Vai mostrar ao mundo que a Nigéria é a melhor de África e pode servir de trampolim para iniciar o processo de qualificação para o Mundial-2030.
- Quão importante será ter Victor Osimhen totalmente apto para o torneio?
- É preocupante que pareça que os Super Eagles estão construídos em torno de Victor Osimhen. Foi quando Osimhen saiu no início da segunda parte frente ao Congo que a equipa começou a ter dificuldades. Isso é muito negativo. Os Super Eagles do meu tempo não dependiam de um só jogador. Muitos já notaram que a equipa gira à volta de Osimhen. Este é um problema que Eric Chelle tem de resolver, se quiser vencer a CAN. Chelle deve incutir esta mentalidade em todos os jogadores, especialmente nos avançados, de que a equipa não depende de Osimhen. Qualquer jogador que seja escolhido para jogar tem de dar o máximo e atuar como equipa. Precisamos de um Osimhen em plena forma, mas também de jogadores mentalmente preparados, que saibam que, com ou sem Osimhen, os Super Eagles podem vencer. O moral deve estar elevado, independentemente da presença de Osimhen. Osimhen esteve ausente na maioria dos jogos que a equipa não conseguiu vencer durante as qualificações para o Mundial. Os Super Eagles não podem ficar em apuros se Osimhen se lesionar. Chelle tem de abordar esta questão porque as lesões fazem parte do futebol. A ausência de Osimhen em qualquer jogo não pode ser o fim do mundo para os Super Eagles.
- Quem mais espera que impulsione a Nigéria na luta pelo título?
- Penso que a equipa tem de trabalhar em conjunto, esse deve ser o motor da ambição dos Super Eagles. Uma árvore não faz uma floresta. Há novos jogadores convocados, por isso deve haver competição por lugares e Chelle deve escolher os jogadores com base no desempenho. Qualquer jogador mais experiente que não esteja bem nos treinos deve dar lugar a um novo que se destaque. Não deve haver lugares garantidos. Que cada jogador mereça a presença em campo pelo que faz. Os Super Eagles devem ser escolhidos pelo rendimento, se Chelle quiser fazer história ao conquistar a CAN para a Nigéria.
- Osimhen, Boniface, Sadiq, Lookman e Chukwueze... existe um grupo de avançados melhor no mundo ao nível do futebol internacional? Porque não conseguem funcionar juntos?
- Ter Osimhen, Boniface, Sadiq, Lookman e Chukwueze parece excelente no papel. Se os médios estiverem à altura, estes avançados vão render. Lembro-me bem do jogo contra o Congo, o meio-campo dos Super Eagles esteve muito fraco e não houve passes para os avançados a partir da segunda parte. Wilfred Ndidi e Alex Iwobi jogaram mais para defender do que para lançar ataques a partir do meio-campo, e os laterais preocuparam-se mais em defender do que em apoiar o ataque. Os Super Eagles precisam de um meio-campo muito forte para tirar o melhor dos avançados. Acredito que os novos médios convocados por Chelle podem tornar o meio-campo mais sólido no torneio. Fico satisfeito com a chamada destes jogadores e penso que alguns deles vão integrar a equipa e tornar os Super Eagles mais fortes na competição.
- Para além da Nigéria, quem mais vê como candidato à vitória na CAN?
- A maioria das seleções africanas que vão ao Mundial-2026 parecem fortes para vencer a CAN. Vê-se Senegal, Marrocos, Egito – embora os egípcios estejam em transição –, Tunísia e até o Congo, que derrotou a Nigéria, não deve ser descartado. Quando olho para Marrocos, vejo uma equipa fortíssima para conquistar a CAN. Marrocos esteve nas meias-finais do último Mundial da FIFA no Catar, o país jogou a meia-final dos últimos Jogos Olímpicos em Paris. A equipa sub-20 de Marrocos venceu o Mundial sub-20 da FIFA há poucos meses no Chile. Derrotaram grandes potências como o Brasil e a França para vencer o torneio. O plano de desenvolvimento do futebol marroquino está a funcionar bem e tudo aponta para que os Leões do Atlas de Marrocos conquistem a CAN como anfitriões, mas não há torneio de CAN em que não considere a Nigéria como uma das favoritas. Quando se menospreza os Super Eagles, é aí que a equipa surpreende com bons resultados. Apesar da retirada de Williams Troost-Ekong, o capitão, continuo a acreditar que os Super Eagles vão apresentar-se muito fortes no torneio.
- Há algum jovem jogador que esteja ansioso por ver no torneio?
- Bem, por agora, não se pode dizer que há jovens jogadores que queira ver. É preciso aguardar pela lista final de cada seleção participante no torneio. Nos Super Eagles, estava especialmente curioso para ver Benjamin Fredricks, o jovem defesa que esteve muito bem frente ao Congo, mas infelizmente lesionou-se e está fora da competição.