"Quem é o 10 de Moçambique?": Geny Catamo, o leão revitalizado por Amorim que brilha na CAN

Geny Catamo ao serviço de Moçambique
Geny Catamo ao serviço de MoçambiqueČTK / AP / Themba Hadebe / Flashscore

Em pleno dia de consoada natalícia, e numa jornada sem grande oferta de futebol um pouco por todo o mundo, muitos olhares voltaram-se para a Taça das Nações Africanas. Foi nesse contexto que emergiu o nome de Geny Catamo. O jogador do Sporting destacou-se ao serviço de Moçambique e tornou-se tema nas redes sociais, onde se multiplicou a pergunta: “Quem é o 10 de Moçambique?”.

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Os mais atentos à Liga Portugal e aos jogos do Sporting nas últimas épocas saberão perfeitamente a resposta a esta pergunta. Geny Catamo é bicampeão nacional, mas a sua trajetória em Portugal nem sempre o apontou a esse desígnio.

Hoje em dia, a seleção de Moçambique funciona com "Geny e mais 10" e muito desse mérito deve-se a Ruben Amorim.

O atual treinador do Manchester United recuperou um extremo no qual já poucos acreditavam, depois de experiências falhadas em Guimarães e na Madeira, mas no vídeo de final de época do Sporting, onde um dos pontos altos foi o discurso de despedida de Amorim, as lágrimas de Geny Catamo explicavam parte da história: o agradecimento de um jovem que, antes da aposta do treinador, era suplente numa equipa que acabou por descer de divisão.

Da Amora à desilusão no Caldeirão

Geny Cipriano Catamo nasceu em Maputo, capital moçambicana, e chegou a Portugal através do Amora. O clube da margem sul do Tejo tinha forte representação moçambicana, por influência do administrador da SAD, Zuneid Sidat, e foi aí que Geny teve a sua primeira experiência do futebol europeu.

Com apenas 18 anos, foi lançado por Pedro Russiano na equipa principal do Amora, então no Campeonato de Portugal (equivalente ao quarto escalão do futebol português) e chamou a atenção do Sporting, que o levou para a equipa de juniores, por empréstimo.

Nessa altura, Amorim já estava de olho no esquerdino, que fez a pré-época 2020/21 com a equipa principal, semanas antes de assinar o primeiro contrato profissional com o Sporting, que ficou com apenas 25 por cento do passe do jogador. 

Aquele período serviu quase como uma experiência para o moçambicano, que ficou na equipa B, embora fosse chamado constantemente a treinar com a equipa principal, até que, em janeiro, serviu de moeda de troca para que Marcus Edwards deixasse o Vitória SC e rumasse a Alvalade, tendo assim uma oportunidade para jogar com regularidade na Liga Portugal, dias depois de se estrear nessa prova, pelas mãos de Amorim.

Os números de Geny
Os números de GenyFlashscore

O contexto era exigente, até porque o jogador que Geny foi substituir era o mais desequilibrador da equipa de Guimarães, mas o moçambicano nunca foi mais do que uma arma secreta, sendo apenas titular no último jogo da época - somou duas assistências.

Escusado será dizer que Geny Catamo não convenceu no D. Afonso Henriques e que, quando regressou ao Sporting, não tinha espaço, até pela contratação do próprio Edwards. Por isso, no último dia do mercado, o extremo foi cedido ao Marítimo, numa época que acabou com a descida de divisão da equipa madeirense, ao fim de 38 (!) anos.

Tendo em conta o cenário, era de esperar que o Geny tivesse pelo menos tido espaço para jogar na Liga Portugal, mas não foi bem isso que aconteceu. Além da primeira despromoção da carreira, o extremo deixou o Caldeirão dos Barreiros com apenas 11 jogos realizados, seis como titular.

Geny Catamo ao serviço do Vitória SC
Geny Catamo ao serviço do Vitória SCVitória SC

Aposta inesperada rendeu frutos e tornou-o num ícone

Depois de dois empréstimos sem frutos, não era de esperar que Geny Catamo acabasse por se afirmar no Sporting, mas Amorim viu algo que os outros treinadores não viram e o moçambicano retribuiu a crença do treinador.

No primeiro jogo da época 2023/24, Geny aproveitou os problemas físicos dos colegas e foi titular na ala direita, uma posição nova, mas que o próprio Amorim já tinha tentado com outros extremos, como Gonzalo Plata e Fatawu. Depois de ter sido quase um figurante no Vitória SC e no Marítimo, Geny aceitou o novo papel e passou a ser uma espécie de 12.º jogador para Amorim, atuando não só a ala direito, como a ala esquerdo ou a extremo, embora quase sempre a partir do banco.

No final da temporada, Geny, que começou a época a ser visto como dispensável para a maioria dos adeptos, tornou-se num ícone em Alvalade, pelos dois golos que apontou na vitória (2-1) diante do Benfica que acabou por revelar-se decisiva para o título de campeão.

O moçambicano, que até teve direito a ser protagonista na música "Acordar", do rapper Plutónio, passou a ser encarado como o grande inimigo do eterno rival dos leões, até porque voltou a apontar o golo decisivo na vitória (1-0) da época passada, que marcou a estreia do treinador Rui Borges e um ponto de viragem rumo a um bicampeonato que fugia ao Sporting há 71 anos.

O 10 que quer carregar Moçambique na CAN

De dispensado a figura do Sporting, Geny regressa à CAN com outro estatuto, depois da estreia em 2023.

Aos 24 anos, a timidez nas palavras a cada discurso já não se vê no relvado. Seja à direita ou à esquerda, a ala ou a extremo, o moçambicano é um jogador de recursos no drible e no remate, capaz de assumir o risco, mas também de recuar para apoiar o lateral no momento defensivo.

Na CAN-2025, é a maior figura da seleção moçambicana, como o próprio Pepo, em entrevista ao Flashscore, confidenciou: "Para mim, o Geny (Catamo) está num patamar completamente diferente. Nota-se mesmo. Por exemplo, quando jogámos contra a Argélia, ele esteve ao nível dos melhores deles. Em tudo o que são pormenores - arranque, força, velocidade de execução, capacidade de decisão - percebe-se logo que é um jogador muito diferenciado".

A exibição de Geny não bastou para vencer a Costa do Marfim na primeira jornada, embora tivesse estado perto do golo do empate nos instantes finais, mas já foi suficiente para chamar a atenção daqueles que ainda não o conheciam. "Quem é o 10 de Moçambique?". Geny Catamo, o extremo que foi aposta de Amorim e é a grande esperança da equipa de Chiquinho Conde já na partida deste domingo, diante do Gabão. 

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