Anunciado esta terça-feira pelo Comité Olímpico Internacional (COI), este adiamento não surpreende, já que o novo evento, confiado pelo organismo à Arábia Saudita por um período de 12 anos, precisa de construir pontes entre o mundo olímpico e o dos eSports.
"A edição inaugural" destes futuros Jogos de eSports "terá lugar em 2027 em Riade", anunciou o organismo sediado em Lausanne num comunicado na terça-feira, depois de o presidente do COI, Thomas Bach, se ter reunido no domingo com o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman e o seu ministro do Desporto.
Apesar de os Jogos só se realizarem daqui a dois anos, a fase de qualificação "começará no final deste ano" com os primeiros eventos pré-olímpicos, refere a organização em comunicado.
Em anos ímpares?
Há anos desejoso de integrar os videojogos no universo olímpico sem desvirtuar os Jogos Olímpicos tradicionais, o COI decidiu, pouco antes de Paris-2024, criar um evento completamente distinto.
Assinou um acordo sem precedentes na história do movimento olímpico com o Comité Olímpico Saudita para ceder a organização da nova competição até 2037, embora a frequência do evento ainda não esteja definida.
Presidente da comissão de eSports que promoveu este acordo, o francês David Lappartient propôs a realização de eGames "de dois em dois anos", em cada ano ímpar não olímpico, mas o COI ainda não tomou uma decisão final.
A adaptação dos desportos electrónicos aos princípios olímpicos (como a formação de equipas nacionais, as negociações com as editoras de jogos de vídeo, a aplicação de um programa de controlo anti-doping e de integridade nas competições e o respeito pela "não-violência") é uma tarefa mais complexa do que o previsto e justifica o adiamento por dois anos da primeira edição do novo evento.
O organismo olímpico assinou um acordo de parceria com a Esports World Cup Foundation, que "fornecerá a sua experiência em termos de seleção de jogos, estrutura de torneios e reforço do ecossistema de e-sports", o que lhe permitirá "estabelecer os princípios de qualificação" para estes novos Jogos, segundo o COI.
Gigante do desporto mundial
O novo evento reforçará ainda mais o peso crescente da Arábia Saudita no desporto mundial: para além de organizar competições de futebol, Fórmula 1, hipismo e boxe, este país do Golfo já garantiu a organização do Campeonato do Mundo de Futebol da FIFA em 2034 e não escondeu o seu desejo de acolher os Jogos Olímpicos de verão.
Antes disso, a monarquia acolherá os Jogos Asiáticos de inverno, em 2029, num complexo futurista e completamente novo chamado Neom, um projeto faraónico promovido por Mohammed bin Salman, que quer impulsionar o turismo e os negócios no seu país, para não depender quase exclusivamente das receitas do petróleo.
Consciente da controvérsia gerada pelo crescente papel da Arábia Saudita no desporto, que os críticos atribuem ao desejo do país de desviar as atenções das alegações de violações dos direitos humanos, Thomas Bach garantiu, em julho passado, que os eSports "estarão totalmente de acordo com a Carta Olímpica e os valores olímpicos".
Na terça-feira, o organismo de Lausanne insistiu no "forte crescimento" do desporto saudita "como um todo", com "mais de 100 competições internacionais masculinas e femininas" organizadas, e sublinhou também que o número de pessoas que praticam qualquer atividade desportiva neste país triplicou desde 2015 "para atingir quase 50% da população".