A leucemia levou a melhor sobre Sinisa Mihajlovic, depois de três anos de uma intensa luta e muito sofrimento, durante os quais o técnico não desistiu do seu trabalho, pelo qual era apaixonado, talvez como forma de procurar afastar uma sombra que era crescente.
Foi o próprio que, em 2019, deu a notícia de que padecia da doença. Queria bater-lhe de frente e sem se esconder, com o seu estilo tão direto, como se estivesse a defender a sua amada Sérvia ou um companheiro de equipa ou seleção. "Nunca jogo para não perder, no futebol como na vida. Vou derrotar o mal e fá-lo-ei pela minha mulher, pela minha família, por aqueles que me amam", disse, numa altura em que orientava o Bolonha.
Aos 53 anos, depois de altos e baixos, esperanças de recuperação e recaídas, Mihajlovic teve de desistir, deixando um vazio naqueles que o apreciaram primeiro como jogador, do Estrela Vermelha ao Inter, e depois nos bancos de vários clubes italianos: o próprio Inter, Catania, Fiorentina, AC Milan, Torino e Sampdoria. Sinisa também vestiu as camisolas de duas seleções: a Jugoslávia e a Sérvia-Montenegro.
Nascido em Vukovar, de mãe croata e pai sérvio, vivenciou os horrores da guerra, mas acabou por destacar-se no Estrela Vermelha, conquistando a Taça dos Campeões Europeus aos 22 anos e captando a atenção com o seu poderoso pé esquerdo, letal em lances de bola parada (28 golos marcados apenas na Série A). Levado para Itália pela Roma, em 1992, dois anos depois mudou-se para a Sampdoria, onde se tornou o protegido do técnico Sven Goran Eriksson, que o valorizou ao colocá-lo no centro da defesa.
Em 1995, conheceu a mulher da sua vida, Arianna Rapaccioni, com quem casou no ano seguinte e que foi a pessoa mais próxima dele durante a luta contra a doença. Seis filhos nasceram da união de ambos. Em junho de 2021, Mihajlovic e a esposa comemoraram as bodas de prata repetindo o "sim" dito anos antes, com uma cerimónia romântica em Porto Cervo.
Em 1998 mudou-se para a Lazio. A época era marcada pelo conflito armado no Kosovo e, quando a NATO bombardeou Belgrado, com aviões que partiam de bases instaladas em Itália, Mihajlovic não escondia o orgulho de ser sérvio. Também não negava a sua amizade com Zeliko Raznjatovic, antigo chefe dos ultras do Estrela Vermelha, mais conhecido como Comandante Arkan.
Em maio de 1999, a par do compatriota Dejan Stankovic, jogou em Udine com uma braçadeira preta e, depois de converter um penálti, mostrou uma camisola branca com um alvo e a palavra target ("alvo", em português), como forma de protesto contra os bombardeamentos. Na Lazio entre 1998 e 2004, Sinisa tornou-se um ídolo dos adeptos, apontando mais de 30 golos.
Terminou a carreira em 2006, depois de duas temporadas no Inter. Como treinador, rapidamente foi apelidado de "sargento" pelos métodos de treino mais duros. É certo que Mihajlovic não teve uma carreira repleta de sucessos, mas é apreciado em todos os lugares por onde passou pelo seu compromisso e dedicação ao trabalho.
A garra e a vontade de estar no banco, apesar dos efeitos dos tratamentos, tornam-no amado em Bolonha mais do que em qualquer outro lugar. E jogadores e adeptos mostraram o seu agradecimento em vários momentos, como aquele em que foram cumprimentá-lo ao hospital com este a surgir à janela, numa altura em que estava afastado do lugar que o fazia feliz.
Contudo, a sua história com os rossoblù terminou com o amargo e inadmissível despedimento em setembro passado: "Nada é eterno. Mas desta vez o sabor deixado pelo meu regresso uma última vez é mais triste", escreveu, na altura, dirigindo-se aos "irmãos e concidadãos, após três anos e meio de futebol, de vida, de lágrimas, de alegria e de tristeza".