O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Gilbert Houngbo, disse à agência France-Press (AFP), antes de se encontrar com Gianni Infantino, que o Catar foi uma vítima de "dois pesos e duas medidas" e que o país tem feito progressos significativos, mas precisa de fazer mais pelos trabalhadores migrantes.
A OIT procura desempenhar um papel de "devida diligência" nos futuros países candidatos, disse Houngbo numa entrevista.
A FIFA tem enfrentado uma pressão crescente após anos de críticas aos direitos laborais no Catar, que vão desde a controvérsia sobre as mortes em mega-projectos de construção até aos salários não pagos e ao trabalho no calor feroz durante o verão no estado do Golfo.
Houngbo disse acreditar que "a FIFA está muito determinada a garantir que para futuros Campeonatos do Mundo, ou na próxima atribuição, a questão social, a questão do respeito das normas laborais, sejam questões críticas na decisão".
O antigo primeiro-ministro togolês disse que o respeito pelos direitos humanos tinha de incluir "direitos ligados ao trabalho e especialmente à saúde e segurança no trabalho".
A FIFA, que já trabalha com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, afirmou após a reunião que as conversações sobre um memorando de entendimento com a OIT ainda não estavam concluídas.
"Temos estado envolvidos com a OIT há vários anos e queremos garantir que a nossa cooperação frutuosa continuará no futuro", disse Infantino numa declaração.
Houngbo disse que estava "razoavelmente otimista" em chegar a um acordo com a FIFA sobre os direitos dos trabalhadores.
"Não pode ser o único elemento para se tomar uma decisão, mas a OIT estaria disponível a levar a cabo uma espécie de devida diligência a todos os países candidatos" para a FIFA.
Ele disse que as mesmas regras deveriam aplicar-se "aos Jogos Olímpicos e outros desportos".
O Campeonato Mundial de Futebol de 2026 realizar-se-á nos Estados Unidos, Canadá e México. "Em teoria, não temos qualquer problema. Mas isso não nos impede de permanecer vigilantes", disse Houngbo.
- Base permanente -
A OIT tem um escritório temporário em Doha desde 2018 aconselhando o governo do Catar sobre as reformas e condições de monitorização dos trabalhadores migrantes que constituem quase 90% dos 2,9 milhões de habitantes.
Houngbo também manteve conversações com o Catar para tornar o escritório numa base permanente, a primeira na região do Golfo onde quase todos os países enfrentam críticas aos direitos laborais.
O chefe da OIT afirmou que muitos dos ataques ao Catar mostraram "dois pesos e duas medidas".
"Ouvi duras críticas ao Catar, quando o Catar fez mais neste campo do que outros países. Mas nada é dito sobre os outros países".
Houngbo disse que o Catar merecia elogios por desmantelar o seu sistema laboral punitivo "Kafala" - que impedia os trabalhadores de mudar de emprego ou sair do país sem autorização do empregador -, introduzindo um salário mínimo e restringindo as horas que podem ser trabalhadas no calor desde que os sindicatos internacionais apresentaram uma queixa oficial à OIT em 2014.
O governo, que manifestou a sua consternação perante aquilo a que chamou ataques "racistas", diz ter gasto mais de 350 milhões de dólares (332 milhões de euros) em indemnizações por salários roubados e não pagos desde 2018.
"Isto mostra o empenho do governo e a dimensão do problema", disse o chefe da OIT.
Um "pequeno número" de empresas "continua a ter práticas ilegais e é aí que temos de continuar a trabalhar".
A OIT está também a pressionar o Catar a melhorar a sua recolha de dados para acabar com os amargos debates sobre o número de mortos em acidentes de trabalho.
O governo disse que houve 414 mortes em acidentes de trabalho entre 2014 e 2020. Grupos de direitos dizem que "milhares" morreram.
"Penso que o público precisa de saber a verdade e por vezes a verdade sincera é que não existe informação credível", disse Houngbo.
