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Alianza Lima e Universitario: a história do inédito dérbi peruano disputado no dia de Natal

Alianza Lima e Universitario, jogando no Natal
Alianza Lima e Universitario, jogando no NatalArchivo Latido Blanquiazul / Referencial
Em 25 de dezembro de 1974, na cidade de Tarapoto, o Alianza Lima e o Universitario disputaram o único dérbi de Natal de sempre.

Nesta época natalícia, em que a alegria reina entre as famílias e os presentes relacionados com o futebol são colocados debaixo da árvore decorada, é necessário recordar estes episódios históricos que aconteceram. A 25 de dezembro de 1974, na cidade de Tarapoto, jogou-se o primeiro e único clássico entre o Alianza Lima e o Universitario de Deportes. 50 anos passaram-se e esse encontro peculiar ainda é lembrado.

Mas, como é que os clubes mais populares do Peru chegaram à selva? "Não eram tempos difíceis, mas o futebol não vivia em abundância económica como agora", disse o agora treinador Juan José Oré a um meio de comunicação peruano.

Jota Jota foi um dos protagonistas desta história.

"Os anos 70 foram os melhores anos da história do futebol peruano. Uma década que começou com a seleção nacional a brilhar no México-1970, o primeiro Campeonato do Mundo para o qual nos qualificámos - para o Uruguai-1930 fomos convidados. Muitos diziam que, se nos quartos de final não enfrentássemos o Brasil de Pelé, que viria a ser campeão, poderíamos sonhar ainda mais. Em 1972, o Universitario tornou-se o primeiro clube a disputar a final da Taça Libertadores da América. E em 1975, com nomes ilustres como Chumpitaz, Sotil, Uribe, Cubillas e Juan Carlos Oblitas, entre outros, fomos campeões da América", recordou.

Foram anos gloriosos. Para a seleção e também para o Universitario. Os Cremas chegaram a 1974 com quatro títulos nos últimos oito anos. E, naquela temporada, conquistou o quinto troféu com uma invencibilidade de 36 partidas, a maior do futebol peruano até aos dias de hoje.

Naquele 1974, o Universitario conseguiu outro feito: conquistou a 15.ª estrela, vencendo o Alianza por um ponto. Foi um ano tingido de crema, embora tenha havido uma alegria blanquiazul: o clássico disputado a 25 de dezembro em Tarapoto. Um amigável que foi como uma viagem quase fantasma, mas que significou um presente de Natal para a selva.

O clássico

Nos tempos que correm, seria ilógico acreditar que se jogaria um clássico no Natal. Antigamente não era assim. Juan José Oré disse que "antigamente era normal jogar no Natal ou no Ano Novo. Nós, futebolistas, estávamos habituados a isso. Hoje seria impensável".

Pouco se sabe sobre o que realmente motivou a deslocação de um clássico para o interior do país numa data tão especial. Certo é que foi uma viagem alucinante. Em Tarapoto, o Alianza venceu por 3-1, com golos de Juan Rivero, Juan Ávalos e Jesús Lavalle. Entretanto, pela La U, Juan José Oré, então com 20 anos e uma das jóias da coroa do Crema, marcou.

Jesús Lavalle, autor de um dos golos do Alianza, numa entrevista ao El Comercio, resumiu essa viagem expressa com uma frase que descrevia o que o futebol significava. "Não éramos milionários, mas éramos muito felizes". Não se importavam de passar a véspera de Natal longe da família, eram guiados por uma bola de futebol.

De facto, não se importaram que o estádio onde o jogo foi disputado parecesse uma zona de guerra no dia a seguir a um bombardeamento, mesmo que tivesse chovido torrencialmente nesse mesmo dia. Para eles, Deus comoveu-se até às lágrimas ao ver as duas equipas mais populares do país levarem alegria à selva.

O clássico foi histórico, mas na altura não atraiu muita atenção. Os meios de comunicação da época não publicaram nada sobre a vitória aliancista por 3-1 nas primeiras páginas da edição de 28 de dezembro. Na verdade, o Intimos e o Cremas nunca mais voltaram a Tarapoto para um amigável, muito menos para jogar no Natal. Mas foi esse o presente que receberam na selva, 90 minutos de felicidade.