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Análise: Águia faminta procura ultrapassar gazela instável

O Benfica desloca-se à Bélgica com a vitória no horizonte
O Benfica desloca-se à Bélgica com a vitória no horizonteSL Benfica
A Liga dos Campeões está de regresso após um interregno de três meses e meio e, esta quarta-feira, defrontam-se duas das equipas que mais surpreenderam o mundo do futebol na fase de grupos. Club Brugge e Benfica medem forças na primeira mão dos oitavos de final e o Flashscore apresenta-lhe uma análise aos conjuntos de Scott Parker e Roger Schmidt.

Club Brugge

Apesar de ter surpreendido a Europa do futebol na primeira metade da Liga dos Campeões, o campeão belga não atravessa um bom momento, não vence em casa desde 29 de outubro (4-2 ao Oostende) e mudou de treinador em janeiro.

Scott Parker substituiu Carl Hoefkens no comando das gazelas, implementou uma mudança tática, mas também tem somado resultados bastante aquém da valia da equipa: sete jogos, uma vitória, cinco empates e cinco derrotas, dados a que se juntam os oito golos marcados e os nove sofridos. Ainda assim, quando toca a música da Liga dos Campeões a conversa é outra... que o diga o Club Brugge, estreante nos oitavos de final da prova milionária.

Onze do Club Brugge na partida frente ao Saint-Gilloise (1-1)
Onze do Club Brugge na partida frente ao Saint-Gilloise (1-1)Flashscore

Apesar de Scott Parker ter conseguido vencer apenas um dos sete jogos disputados, a chegada do técnico inglês a Bruges trouxe consigo uma mudança tática que, acima de tudo, privilegia as características dos jogadores e está a permitir que a equipa volte a ganhar confiança.

Olhando ao último jogo do Club Brugge (empate 1-1 com o Saint-Gilloise), a equipa que entrou em campo não será muito diferente daquela que enfrentará o Benfica. A formação tática centra-se no 4-3-3 que, dependendo do adversário e dos momentos do jogo, pode transformar-se num 4-2-3-1 ou num 4-4-2.

Pode ouvir o relato de Pedro Fernandes no site ou na App
Pode ouvir o relato de Pedro Fernandes no site ou na AppFlashscore

Quando falamos do Club Brugge de Parker falamos de uma equipa ofensiva, que gosta de ter bola, que tem muita mobilidade no ataque e é forte nos duelos. Estas nuances lembram-no de alguma equipa? O Benfica de Roger Schmidt, pois claro. Ainda assim, uma das fragilidades deste conjunto belga são as transições defensivas (oito dos nove golos sofridos tiveram origem em cruzamentos), dado que a equipa costuma expor em demasia a defesa e deixa muito espaço para os adversários (e as "setas" das águias) aproveitarem.

Sem Skov Olsen e Jutglà - duas das primeiras figuras da equipa - nas últimas partidas, restam dúvidas sobre a condição física do ponta de lança (está convocado) e quem poderá jogar na frente de ataque. O ex-Benfica Yaremchuk é o principal candidato, com Noa Lang a poder desempenhar esse papel caso o técnico inglês queira um ataque mais móvel. Ponto assente é a titularidade de Buchanan no lado direito do ataque.

Na defesa consta a experiência de Mignolet, Mata, Hendry e Mechele, juntando-se a irreverência do menino Meijer, que é mais vertical que o angolano, permitindo que Lang pise terrenos interiores e liberte o "vagabundo" Vanaken. Onyedika e Rits formam a dupla de meio-campo, com o nigeriano a atuar como médio mais fixo, permitindo que o belga suba no terreno.

Vanaken é uma das figuras dos belgas
Vanaken é uma das figuras dos belgasClub Brugge/Opta by Stats Perform

Em suma, falamos de uma equipa que constrói o jogo desde trás, procura a largura e os corredores laterais (em particular o direito) e coloca três/quatro jogadores em zonas de finalização. O favoritismo é claro e está do lado português, mas é preciso ter atenção. O Club Brugge sente-se bastante confortável no papel de underdog (não favorito), prova disso é a prestação na fase de grupos, e o apoio dos belgas no Estádio Jan Breydel vai ser fundamental.

XI provável: Simon Mignolet; Clinton Mata, Jack Hendry, Brandon Mechele, Bjorn Meijer; Mats Rits e Raphael Onyedika; Tajon Buchanan, Hans Vanaken, Noa Lang; Ferrán Jutglà.

Benfica

Segue-se o Benfica de Roger Schmidt, que está longe de ser desconhecido para os adeptos de futebol e tem surpreendido a Europa, depois de ter vencido o grupo à frente de PSG e Juventus e de ter somado 28 jogos consecutivos sem perder em todas as competições... até à paragem para o Mundial-2022, o ponto de viragem na época dos encarnados.

Desde a paragem tudo mudou: a equipa foi eliminada da Taça da Liga pelo Moreirense (1-1), perdeu pela primeira e única vez até ao momento (3-0 em Braga) - a eliminação da Taça de Portugal conta, em termos oficiais, como empate - e teve início a "novela" Enzo, que terminou com a saída do argentino no último dia do mercado de transferências.

Equipa inicial que defrontou o SC Braga na Taça de Portugal
Equipa inicial que defrontou o SC Braga na Taça de PortugalFlashscore

À semelhança dos belgas, Roger Schmidt deverá lançar a mesma equipa que esteve em ação no Municipal de Braga, com Chiquinho a afirmar-se no meio-campo das águias como o substituto de Enzo Fernández e Neres e Guedes a substituirem a dupla de ataque composta por Rafa e Gonçalo Ramos, que recentemente estiveram a contas com problemas físicos.

Apesar das duas ausências de peso (três se incluirmos Enzo), a forma de jogar dos encarnados mantém-se intacta e os princípios de jogo de Roger Schmidt são os mesmos. Falamos de uma equipa que privilegia a posse de bola, gosta de construir desde a defesa, utiliza os dois médios (Florentino e Chiquinho) em apoio e coloca os médios-interiores no espaço entrelinhas. Deste modo, a largura do jogo ofensivo do Benfica é assegurada pelos laterais.

Dada a amostra dos jogos mais recentes, a entrada de Gonçalo Guedes e David Neres no onze inicial não deverá resultar em grandes mudanças, embora a equipa possa perder poderio ofensivo, dado que o internacional português é mais deambulante que Gonçalo Ramos. Em contrapartida, os encarnados ganham velocidade no ataque e (ainda mais) mobilidade.

Sem bola, o Benfica organiza-se em 4-4-2, concede pouco espaço entrelinhas e a forte pressão (o tradicional gegenpressing) é a grande imagem de marca. Os dois avançados são os primeiros a pressionarem a fase de construção do adversário e permitem que a equipa se estenda no terreno. Esta pressão é também acompanhada pelos médios, que geralmente utilizam a marcação homem a homem para condicionar o adversário. Em zonas mais próximas da sua baliza, a equipa forma um bloco compacto, obrigando o adversário a procurar o espaço exterior.

Posicionamento médio da equipa no jogo com o Sporting
Posicionamento médio da equipa no jogo com o SportingBenfica/Opta by Stats Perform

XI provável: Odysseas Vlachodimos; Alexander Bah, António Silva, Nicolás Otamendi, Álex Grimaldo; Florentino Luís, Chiquinho, Fredrik Aursnes, João Mário; David Neres, Gonçalo Guedes.