Introdução
Da teoria à prática, a verdade é que desde a conquista da Liga das Nações em 2019, realizada em Portugal, no Porto, poucos têm sido os sucessos da Seleção Nacional pós-Europeu de França. No Campeonato da Europa de 2020 caiu logo nos oitavos de final, diante da Bélgica, e na Liga das Nações do ano seguinte perdeu com a França, quando um empate bastava, e falhou a final four da competição. Esse “bastava”, aliás, voltou a suceder este ano, quando… bastava um empate com a Sérvia para seguir para o Mundial e Portugal… perdeu no Estádio da Luz, obrigando a um play off bafejado pela sorte, quando depois de ter vencido a Turquia encontrou como último obstáculo a Macedónia do Norte, que eliminou com tremenda surpresa a Itália.
Portugal chega a este Mundial com a sua estrela em inegável declínio – Cristiano Ronaldo está a realizar, provavelmente, a pior época da sua carreira, com o seu selecionador no momento mais questionado de sempre – Fernando Santos subiu ao céu em 2016 e esteve quase a descer ao inferno, caso falhasse a presença neste Mundial – mas com matéria-prima para, de facto sonhar, suportado nas afirmações plenas de Diogo Costa na baliza, Cancelo e Nuno Mendes nas alas, Bernardo Silva no meio-campo e Rafael Leão no ataque, onde faltará, sempre, Diogo Jota, uma das grandes ausências por lesão.
Forças
Portugal terá, de entre todas as seleções presentes no Campeonato do Mundo, os melhores laterais de todas as convocatórias. Do lado direito há João Cancelo (Manchester City) e Diogo Dalot (Manchester United), do lado esquerdo pontificam Nuno Mendes (PSG) e Raphael Guerreiro (Borussia Dortmund). Quatro pesos pesados para apenas duas posições, ficando de fora dos eleitos outros nomes como Mário Rui (Nápoles), Nélson Semedo (Wolverhampton), João Mário (FC Porto), Nuno Santos (Sporting), entre outros. Também o meio-campo português transpira qualidade e soluções. Bernardo Silva e Bruno Fernandes trazem a intensidade da Premier League, ao mesmo tempo que William Carvalho e Rúben Neves dão a consistência necessária. Depois, os todo-o-terreno Matheus Nunes e Otávio, mas também a nova vaga personificada em Vitinha (PSG).

Fraquezas
O centro da defesa de Portugal há muito que tem sido uma preocupação, tendo em conta a idade avançada dos protagonistas dos últimos anos, nomeadamente Pepe (39 anos, FC Porto) e José Fonte (38 anos, Lille). A afirmação de Rúben Dias no Manchester City trouxe um novo fôlego e, neste Mundial, assistiremos à estreia absoluta de António Silva, central de 19 anos que se tem afirmado no Benfica ao lado do argentino Otamendi. Porém, tendo em conta que nunca jogou na Seleção, e tendo também em atenção a lesão prolongada de Pepe, o centro defensivo de Portugal pode revelar-se uma das principais fraquezas. Também no ataque, abundando opções, a Seleção Nacional já não tem uma referência ofensiva como foi, em tempos, Pauleta ou mesmo Nuno Gomes. André Silva não é indiscutível, Gonçalo Ramos desta vez foi chamado, tendo em conta o rendimento no Benfica, mas a opção número 1 deverá continuar a ser Cristiano Ronaldo.
XI Ideal
Diogo Costa - João Cancelo, Pepe, Rúben Dias, Nuno Mendes – Otávio, Rúben Neves, Bruno Fernandes, Bernardo Silva – Rafael Leão, Cristiano Ronaldo
As escolhas para o onze inicial de Portugal estarão diretamente relacionadas com o sistema tático que Fernando Santos vai adotar para este Campeonato do Mundo. Olhando aos 26 convocados, e com a presença de Gonçalo Ramos (Benfica) e André Silva (Leipzig), tudo indica que o selecionador vai optar por maior presença ofensiva e, por isso, com dois avançados declarados na equipa. E isso estará, por consequência, relacionado com o fim – ou pausa – do 4x3x3 que tem sido mais vezes utilizado por Fernando Santos. A aposta no 4x4x2, porém, será diferente de outrora. Portugal não tem mais aqueles extremos clássicos, como o eram Nani, Ricardo Quaresma ou mesmo Cristiano Ronaldo de antigamente. Tem, isso sim, muita qualidade e versatilidade no meio-campo, que lhe permite jogar com o chamado diamante, optando por um médio mais defensivo, entre Rúben Neves e William Carvalho, um médio mais dinamizador, como Bruno Fernandes ou Bernardo Silva, e depois com médios interiores, como tem feito com Otávio.
Na baliza é certa a passagem de testemunho de Rui Patrício para Diogo Costa. O guarda-redes do FC Porto ganhou o lugar na qualificação e as exibições, tanto na Seleção Nacional como, sobretudo, nos dragões, particularmente na Liga dos Campeões, não deixam margem para dúvidas.
Na defesa, se na direita parece haver poucas dúvidas em relação à titularidade de João Cancelo sobre Diogo Dalot, já na esquerda a escolha entre Raphael Guerreiro e Nuno Mendes poderá depender muito do momento de forma e do adversário que Portugal terá pela frente.
No meio-campo abundam as escolhas, sendo que Bernardo Silva e Bruno Fernandes parecem partir na frente como titulares. Já no ataque, Cristiano Ronaldo deve manter a presença, restando saber com quem e com quantos avançados.

Principais dúvidas
São várias as dúvidas no onze de Portugal, sobretudo tendo em conta que não está confirmada a alteração de tática, de um 4-3-3 para o regresso ao 4-4-2 em diamante. Diogo Jota seria, à partida, titular no ataque português mas, face à sua ausência por lesão, ganha força a presença de Rafael Leão, que tem dado continuidade à última temporada de enorme brilho no campeão italiano, o Milan, em detrimento, por exemplo, de João Félix, que não tem sido titular no Atlético Madrid. A meio-campo o nome de Otávio parece encaixar, pela sua polivalência e pelo facto do luso-brasileiro do FC Porto ter sido fundamental na reta final da qualificação portuguesa. Finalmente, e na defesa, a dúvida em torno de Pepe, que está na fase final da recuperação à lesão que o tem afastado dos relvados. Em pleno, será ele o titular ao lado do indiscutível Rúben Dias.
Previsão
Portugal encara o grupo H com boas hipóteses de se qualificar, sendo favorito em todos os jogos, mesmo perante o Uruguai. O objetivo será mesmo o de passar em primeiro, evitando assim o primeiro classificado do Grupo H, que tem o Brasil, e medir forças, em teoria, com Suíça ou Sérvia. A estreia com o Gana é decisiva para essas aspirações, sendo que há otimismo, no seio da Seleção portuguesa, numa presença em fases adiantadas deste Mundial. A previsão aponta para um lugar entre os oito primeiros, ou seja, uma chegada aos quartos de final, recordando que a melhor classificação de sempre de Portugal em Mundiais remonta à estreia em fases finais, em 1966, com o terceiro lugar graças ao génio de Eusébio da Silva Ferreira. Em 2006 chegou perto, com o 4.º lugar.