No canto direito, Novak Djkokovic: o sérvio, mestre da casa, continua o trajeto de bater recordes e pode fazer história novamente no domingo. No canto esquerdo, Stefanos Tsitsipas: o grego ainda não venceu qualquer Grand Slam, e, apesar de ter apenas 24 anos, o tempo está a esgotar-se. Como porta-estandarte do NextGen, terá de escalar uma montanha: a perfeita oportunidade para demonstrar que pode assumir o controlo.
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Djoko, o intocável
Há vários recordes em vista para Novak Djokovic. Em primeiro lugar, detém o maior número de presenças em finais de Grand Slams, esta será a 33.ª. Em segundo, pretende conquistar o 10.º Open da Austrália. Se assim for, tornar-se-á apenas no segundo jogador a ganhar o mesmo Grand Slam pelo menos 10 vezes, igualando o registo de Rafael Nadal em Roland Garros.
E, claro, seria o 22.º título em Majors, igualando também o espanhol. Por outro lado, recuperaria a posição número 1 do ranking, o recordista do número de semanas passadas nessa posição. Seria também o 93.º título e poderia aproximar-se da marca dos 100, quebrada apenas por Roger Federer e Jimmy Connors.
Ficamo-nos por aqui a nível de estatísticas. Deixam-no tonto, mas não tão tonto como o nível de jogo do sérvio. No início do torneio, pareceu ter dificuldades no tendão, o que levou a um início de jogo tremido com Enzo Couacaud, mas neste momento isso parece ser coisa do passado. Mesmo que a coxa ainda esteja com ligaduras, isso não o impede de dominar o court.
Alex de Minaur nos oitavos? Varrido. Andrey Rublev, número 6 do mundo e jogador de piso duro por excelência? Dizimado. Tommy Paul, menos vistoso, mas muito sério durante este torneio? Para além de uma sequência de quatro jogos no primeiro set, nada podia fazer. A concorrência desapareceu, afogada pelo desempenho de Nole.
Considerado o melhor jogador do mundo a responder, tornou-se quase impenetrável no seu serviço. Ases em grande quantidade, pancadas vencedoras, mas acima de tudo nunca um desempenho abaixo dos 60% na primeira bola. E, como ganha 75% dos pontos dessa forma, as oportunidades para os adversários são raras.
Por isso, é possível igualar o compromisso por parte do sérvio. Grigor Dimitrov e Tommy Paul fizeram-no em várias ocasiões. Mas foi sempre no mesmo set, um set em que os dois jogadores acabaram por perder. Porque a capacidade de reação do sérvio é uma loucura.
Mas é essencialmente o seu domínio que constitui um problema para os adversários. Para vencer Djokovic é preciso estar a 100%. Tommy Paul venceu Carlos Alcaraz ou Rafael Nadal no passado ao jogar o seu melhor. Contra o sérvio, ele não conseguia ou não sabia como o fazer. Seria pressão de uma primeira meia-final de um Grand Slam? Provavelmente. Mas, acima de tudo, Djokovic tem uma capacidade única de anestesiar o adversário. E é assim que esta final vai ser disputada.
A hora de Tsitsipas
Não há nada de errado com a presença de Stefanos Tsitsipas nesta final. O grego foi, sem dúvida, o melhor jogador da sua metade da chave do torneio. Na teoria, ele é como veludo. Está fisicamente no seu melhor e, aos 24 anos, está no seu auge. O único problema é o seu registo – ou a falta dele – em Grand Slams.
Atualmente, os seus melhores resultados são duas vitórias no Masters 100 em Monte Carlo e uma vitória nas ATP Finals. Chegou apenas a uma final de um Grand Slam, no Roland Garros de 2021. Nesse dia ele vencia por dois sets a zero antes de perder para um certo… Novak Djokovic. É difícil ignorar isso enquanto escrevemos sobre esta final.
E é este aspeto mental que pode vir a ser um problema. Se olharmos para o seu registo até agora, perdeu apenas três sets, mas são três sets a mais. Na primeira ronda, vencia por Jannik Sinner por 2-0, mas adormeceu e foi obrigado a um quinto set, do qual saiu, felizmente, ileso.
O mesmo aconteceu na meia-final contra Karen Khavhanov. Dois primeiros sets bem geridos, tinha jogo de serviço no 5-4 que garantia a final e… colapsou. Recuperou e conseguiu dois match points no tie break, mas voltou a ir abaixo. Ganhou em quatro sets graças à sua superioridade técnica que é indiscutível, mas contra um jogador do calibre de Djokovic, isso não é fácil.
Para jogar pelo seguro, vamos rever a famosa derrota na final do Roland Garros. Já tudo foi dito sobre as qualidades do sérvio, mas o que é certo é que o grego tinha a vantagem e deixou Djokovic reentrar no joog. Ainda assim, ganhar o primeiro set a Djokovic numa final de um Grand Slam equivale a 50% de probabilidade de ganhar o jogo (8/16). Mas chegar ao quinto set é um desastre garantido (cinco vitórias em seis possíveis para o sérvio). Essa final em Paris foi a única em sete ocasiões que Djokovic venceu depois de perder os dois primeiros sets.
Aos 24 anos, o grego não tem tempo a perder. A nova geração já mostra as garras. Carlos Alcaraz já é o número um do mundo, Holger Rune já entrou no top 10. Sebastian Korda, Ben Shelton e Jiri Lehecka chegaram aos quartos de final deste torneio. Já para não mencionar os ambiciosos Jannik Sinner, Lorenzo Musetti e outros. Nenhum destes tem mais de 22 anos. Se não ganhar este domingo, conseguirá Tsitsipas resistir à vontade desta jovem alcateia?
O aspeto mental vai ser a chave
O aspeto mental é o ponto mais importante para o grego. Porque a nível de ténis, Tsitsipas tem argumentos para dar luta. Claro, pode ser dito que Djokovic ganhou os últimos oito jogos contra o adversário. Mas é geralmente a maior força mental do sérvio que garante a vitória, tal como nessa fatídica final do Open de França (ou a meia-final no ano anterior).
O penúltimo confronto até à data (o último foi menos intenso e disputado na fase de grupos do ATP Finals) foi a meia-final do Paris Masters em novembro. Uma dura batalha que acabou em tie break no terceiro set a favor de Nole. Mas Djokovic mostrou as fendas na armadura ao perder no dia seguinte para Holger Rune.
Esse jogo foi um bom sumário da carreira de Tsitsipas: “Senhor Quase”. Quase o melhor da NextGent, visto que Daniil Medvedev ganhou um Grand Slam e ele não. Quase o favorito para derrubar o Big Three (Nadal, Federer, Djokovic), mas nunca o fez. E quase o número um do mundo, pelo menos até agora, visto que o vencedor da final vai subir ao trono na segunda-feira. Será que vai ter sucesso? Quase dá gosto dizer que sim.