
O início no FC Porto: "Ia a todos os treinos com um bloco de notas"
- Como é que o Luís avalia estes 25 anos de carreira como treinador? Olhando para o percurso feito, sente que tomou a melhor decisão ao seguir esta profissão?
- Sem dúvida. Aos 25 anos, é inevitável aquela primeira sensação de que já estamos a ficar "velhotes" (risos). O tempo passou a voar, foram 25 anos consecutivos, sempre com projetos. Nunca houve uma única época em que estivesse sem um desafio, o que torna tudo ainda mais exigente a todos os níveis.
A decisão de me tornar treinador surgiu naturalmente, fruto da minha ligação ao curso de Educação Física. Ainda no segundo ano da faculdade, recebi um convite inesperado, penso que em outubro ou novembro. Um dos treinadores dos infantis do FC Porto teve de abandonar o cargo, e o meu professor perguntou-me, de forma quase casual, se eu queria assumir a função. Fiquei pasmado, claro. Ainda jogava e não tinha sequer ponderado dar esse passo tão cedo. No entanto, não podia recusar. Primeiro, porque se tratava do FC Porto, uma grande estrutura, e depois porque, estando a estudar, teria a oportunidade de aplicar no terreno tudo o que aprendia na teoria. Foi um desafio enorme e uma oportunidade que não podia desperdiçar.
Olho para trás e sei que foi uma escolha acertada. Ainda hoje sinto aquele "nervoso miudinho" antes de cada treino e cada jogo, a certeza de que há sempre mais para aprender e fazer. A paixão e a dedicação mantêm-se intactas ao fim de 25 anos.
- Como tem sido acompanhar a evolução do andebol ao longo dos anos? Quais foram as principais mudanças na modalidade e de que forma se adaptou a essa transformação?
- Eu tive um desafio inicial, digamos assim, em comparação com outros treinadores que foram atletas de alto nível. Esse era um dos meus handicaps. O andebol, há 25 anos, já era diferente do que é hoje, mas o meu andebol, enquanto jogador, era ainda mais distinto daquele que se praticava na altura.
Joguei nas primeiras divisões da formação, mas nunca estive inserido no contexto de treino de alto rendimento. Esse foi o meu primeiro grande obstáculo. No entanto, procurei transformar essa limitação numa oportunidade. Como estava no FC Porto, saía dos treinos com os miúdos e corria para assistir aos treinos da equipa sénior, então comandada por Branislav Pokrajac. Lá estavam nomes como Carlos Resende, Eduardo Filipe, Ricardo Costa, David Tavares, Petric e Alexandru Dedu, entre outros. Era uma equipa recheada de estrelas, dentro de uma estrutura profissional de topo, e eu tinha o privilégio de poder observar tudo de perto.
Ia a todos os treinos com um bloco de notas, onde registava cada exercício, movido por uma enorme curiosidade. Sabia que, por não ter sido jogador de alto nível, teria de trabalhar ainda mais para, um dia, poder estar ao comando de atletas desse calibre. Estava consciente de que, ao chegar a um balneário com jogadores experientes e ambiciosos, a primeira questão que surgiria seria: "Quem é este? O que fez como jogador?". Como essa validação nunca viria do meu passado enquanto atleta, tinha de construir outra base de credibilidade, oferecendo conhecimento e valor aos jogadores.
- De que forma deu a volta a essa questão?
- A minha busca pelo treino de alto rendimento começou aí. Durante meses, assisti aos treinos sem que ninguém me dirigisse a palavra. Nem mesmo o treinador da equipa sénior. Limitava-me a observar e a aprender. Mas lembro-me do dia em que o Pokrajac percebeu que eu estava ali porque realmente queria aprender. No final de um treino, chamou-me e ficámos a conversar durante 10 ou 15 minutos. Esse momento foi muito marcante para mim, pois senti que tinha conseguido criar uma ponte para aquele nível de exigência.
Ao longo do tempo, fui alimentando a curiosidade e tentando perceber o que faziam os melhores. Tive a sorte de ter professores que me incentivaram a procurar mais conhecimento, como o professor Ireneu, que me impulsionou a ver treinos fora de Portugal. Fui muitas vezes a Espanha assistir a jogos e a sessões de treino. Acompanhei o Alexander Donner no ABC, o José António Silva no Águas Santas e o Fran Teixeira no FC Gaia. Fiz uma série de estágios, tudo por iniciativa própria, investindo no meu desenvolvimento para compreender diferentes metodologias e o que significava, de facto, ser treinador ao mais alto nível.
Apesar de gostar muito da formação e do desenvolvimento individual dos atletas – algo que continuo a valorizar mesmo ao trabalhar com equipas seniores –, sentia que ainda faltava algo. Havia uma inquietação. A teoria que aprendia na faculdade, apesar de valiosa, nem sempre coincidia com a realidade prática do treino. Foi essa necessidade de aprofundar conhecimentos que me levou a inscrever-me num Master Profissional de Alto Rendimento em Desportos Coletivos no INEF de Barcelona, entre 2005 e 2007.
Durante esse período, aproximei-me de treinadores como Xesco Espar, do Barcelona. Descobri que eram profissionais muito acessíveis e abertos à partilha de conhecimento. Cheguei a jantar em casa do Xesco e a discutir ideias com ele. No ano seguinte, quando Manolo Cadenas assumiu o comando da equipa, também tive a oportunidade de acompanhar os treinos e absorver as suas metodologias. Ainda guardo DVDs que ele me deu e lembro-me do espanto que senti quando me perguntava a minha opinião sobre determinados aspetos do jogo. Eu era ainda muito jovem, mas aqueles momentos ajudaram a consolidar a minha visão do treino.
Essa experiência prática, aliada à constante observação dos melhores, foi determinante na construção da minha identidade como treinador. Quando regressei ao FC Porto como adjunto do Carlos Resende, com apenas 26 anos, senti que estava a dar um passo enorme. Na minha primeira época, ele ainda foi jogador-treinador por causa de lesões na equipa, e isso permitiu-me privar de perto com um atleta de referência, discutir ideias e compreender o funcionamento de um balneário profissional. Foi um período essencial para o meu crescimento.
Desde então, a busca pela evolução tem sido contínua. A minha ligação à formação e o meu trabalho com a Federação, como diretor dos cursos de nível 3 e 4, permitem-me estar sempre atualizado. Como assisto a praticamente todas as formações, a minha aprendizagem nunca para. Também faço sucessivos Master Coaches e mantenho um contacto direto com os melhores. Olhando para trás, percebo que essa inquietação, essa vontade constante de aprender, foi o que me trouxe até aqui. E é isso que me faz continuar.

- Para onde caminha o andebol? Que mudanças estão a acontecer atualmente e como podem influenciar o futuro da modalidade?
- Acredito que o andebol seguirá naturalmente o caminho já trilhado pelo futebol, que, por sua vez, se inspira na NBA e noutros desportos americanos de topo, com uma evolução constante e um forte investimento desportivo.
Se olharmos para trás, há alguns anos era raro encontrar equipas portuguesas com mais do que um treinador principal e um adjunto. Poucas tinham um fisioterapeuta a tempo inteiro. Com o tempo, o treinador de guarda-redes tornou-se essencial, seguido dos preparadores físicos e fisiologistas, à semelhança do que já acontecia no futebol. Hoje, praticamente todas as equipas contam com analistas de vídeo e começam a investir cada vez mais na análise de treino e no uso de dados.
O próximo passo será, certamente, a integração de especialistas como psicólogos e nutricionistas, ainda pouco presentes no andebol, mas fundamentais na alta competição. Além disso, poderemos ver uma maior especialização dentro das equipas técnicas, com treinadores focados em áreas específicas, como ataque, defesa ou até posições individuais.
Nas seleções nacionais, esta evolução já é evidente: os departamentos médicos contam agora com vários fisioterapeutas devido às exigências da recuperação física. As equipas técnicas cresceram significativamente, chegando a ter 8, 9 ou 10 elementos, tornando-se autênticas equipas paralelas. O desafio, agora, é o treinador principal assumir o papel de líder e coordenador de toda esta estrutura multidisciplinar.
No futuro, poderá surgir também a figura do manager, como acontece no futebol, alguém que, a partir da bancada, analisa o jogo sob outra perspetiva e apoia a equipa técnica com insights estratégicos.
O jogo em si evoluiu imenso, tornando-se mais rápido e dinâmico, com o apoio de tecnologias como inteligência artificial e sistemas de monitorização do desempenho físico. A mudança das regras também contribuiu para um espetáculo mais fluido, sem tantas interrupções como noutras modalidades. No andebol, não há espaço para anti-jogo ou estratégias de contenção excessiva - o ritmo é elevado do primeiro ao último minuto, o que torna o desporto cada vez mais atrativo.

"Intercâmbio entre modalidades só enriquece o desporto "
- O treinador da equipa masculina de futebol do Barcelona, Hansi Flick, referiu-se ao andebol como um desporto muito leal e um exemplo para os outros desportos. Qual a sua opinião sobre isso?
- Normalmente, vemos outras modalidades a falar sobre futebol e a comparar-se a ele, mas não é tão comum assistirmos ao contrário – ou seja, grandes personalidades do futebol a usar o andebol como exemplo. Acredito, cada vez mais, que há muito a aprender entre treinadores de diferentes modalidades. Nos últimos anos, as federações têm promovido essa aproximação, e faz todo o sentido. Não só pela questão que mencionaste há pouco – como referiu também o treinador do Barcelona – sobre a lealdade no jogo, mas porque, culturalmente, o andebol é uma modalidade com um nível de respeito muito elevado. Certos comportamentos que vemos noutras modalidades, como protestos exagerados ou atitudes desrespeitosas para com os árbitros, não são aceitáveis no andebol. A própria regra e a forma como os árbitros a impõem fazem com que os jogadores sejam penalizados desde cedo, criando uma cultura de respeito.
No futebol, essa abordagem poderia ser aplicada através de punições mais rigorosas. Só o bom senso não é suficiente. Quando está em jogo a competição, se não houver cartões ou expulsões, os jogadores acabam por tirar partido das regras existentes. Isso acontece em todas as modalidades, mas há outros exemplos a seguir, como o râguebi – um desporto que, apesar de parecer agressivo, é extremamente leal e disciplinado.
O intercâmbio entre modalidades só enriquece o desporto em geral. Por isso, é positivo termos alguém do futebol a reconhecer e admirar o andebol por estas características. Da mesma forma que o futebol pode aprender com o andebol, o inverso também é válido.
- O que terá Portugal de fazer para se continuar a afirmar na modalidade? Ou é difícil ir mais longe devido a certas barreiras?
- As barreiras existem sempre, seja ao nível do investimento (ou desinvestimento) político, da gestão desportiva ou da própria direção das modalidades no nosso país. Percebemos claramente que há obstáculos que nos impedem de afirmar, olhos nos olhos, que somos candidatos às mesmas conquistas que os outros.
Em Portugal, temos uma cultura desportiva com excelentes treinadores, altamente dedicados à modalidade, não por uma questão financeira – porque, se fizermos as contas, no andebol contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que vivem exclusivamente da profissão –, mas sim por paixão ao jogo. Este investimento na formação tem sido acompanhado por alguns passos importantes da federação nos últimos anos, nomeadamente na estruturação dos cursos e na aproximação entre treinadores.
Graças a essa dedicação e superação, e ao facto de os treinadores portugueses estarem habituados a trabalhar com menos recursos, temos alcançado patamares que, há uns anos, pareciam inalcançáveis. No entanto, uma coisa é atingir esses patamares; outra, muito diferente, é fazê-lo de forma consistente. Todos reconhecemos a evolução da nossa seleção, mas sabemos que essa consistência tem sido apoiada por um conjunto de fatores, como a naturalização de atletas, por exemplo. São aspetos estratégicos que não podem ser ignorados e que devem ser trabalhados com visão a longo prazo.
- O caminho passa por onde?
- Se Portugal definir uma estratégia sólida e continuar a investir, como está a acontecer atualmente no andebol masculino através dos três grandes clubes, podemos dar um salto significativo. A tendência parece seguir o caminho do futebol, onde as equipas serão obrigadas a ter escalões femininos para competir a nível europeu. O Sporting já tem equipas femininas até aos Sub-16; o FC Porto ainda não, mas será uma questão de tempo. Este crescimento do investimento e da ambição dos grandes clubes será determinante para o desenvolvimento da modalidade, sem desvalorizar, obviamente, o trabalho dos outros clubes – como o meu, que é uma referência no andebol feminino em formação.
Para além do investimento financeiro e estrutural, há um outro fator crucial: a mudança de mentalidade. Em Portugal, o desporto ainda é visto como um passatempo, uma atividade secundária, algo que se faz "se tiveres boas notas". No entanto, em lado nenhum um pai castiga um filho impedindo-o de ir às aulas de matemática ou português, e essa perspetiva tem de mudar. Se um jovem quer ser atleta profissional, esse objetivo deve ser encarado com seriedade, com um planeamento adequado e com o suporte necessário.
Lembro-me de uma entrevista recente da Vyakhireva, uma referência mundial no andebol russo, onde ela dizia que, aos 14 anos, treinava de manhã e à tarde porque o mais importante para ela era o treino – a escola vinha depois. Em Portugal, um atleta que dissesse algo semelhante provavelmente seria afastado do desporto pelos próprios pais. Isto reflete um problema cultural que precisa de ser alterado.
Esta transformação exige investimento – não só financeiro, mas também político e estrutural –, para que o desporto seja reconhecido como uma verdadeira carreira profissional. Sendo uma profissão de desgaste rápido e de curta duração, precisa de todo o apoio possível para que os atletas invistam no momento certo. Se esperarmos até aos 24 ou 25 anos para "apostar a sério", será tarde demais.
- Isso acaba por influenciar os resultados...
- Lá fora, os nossos concorrentes treinam desde cedo em centros de alto rendimento, com horários adaptados e ensino integrado, enquanto nós continuamos a perder terreno. Sim, conseguimos bons resultados, porque temos talento, excelentes treinadores e um enorme espírito de superação. Mas sem consistência, sem uma estrutura sólida e sem um planeamento a longo prazo, não conseguiremos estar, de forma permanente, entre os melhores. Vamos sempre oscilar entre bons momentos e fases de estagnação.

"Em Portugal a nossa ambição de alcançar o topo é limitada"
- Mas sente que os jovens em Portugal já conseguem olhar para o Andebol como algo de futuro?
- Sem dúvida, especialmente no masculino já começamos a dar passos sólidos. Temos jogadores que chegam à fase júnior, que jogam em equipas B, e que, mesmo sendo sub-18, já têm contratos e podem vislumbrar uma carreira no desporto. Muitos destes jogadores ganham dinheiro, e, em alguns casos, até mais do que algumas pessoas que trabalham 8 horas por dia, como caixas de supermercado, operários de fábrica ou freelancers, que muitas vezes não têm um rendimento fixo. Esse cenário já existe no masculino.
No feminino, estamos muito longe de alcançar essa realidade. A diferença de investimento e de ambição é enorme, o que resulta numa grande dificuldade em estabelecer uma base sólida de resultados a nível internacional. Além disso, há a dificuldade em manter as jogadoras a longo prazo. Muitas acabam por abandonar a modalidade para seguir a faculdade, o trabalho ou, eventualmente, para serem mães. O panorama é, de facto, muito diferente.
Quando olhamos para os números de federações europeias ou internacionais, como a Federação Europeia de Andebol, que tem partilhado recentemente dados impressionantes sobre o desporto feminino, vemos que em países nórdicos como a Noruega e Dinamarca o cenário é completamente distinto. A realidade lá é muito superior e, neste momento, estamos a perder capacidade de competir com essas seleções a nível sénior. Para já, a nossa ambição de alcançar o topo é limitada. Precisamos que as jogadoras saiam para o exterior, mas, quando o fazem, muitas acabam por jogar em divisões secundárias, porque ainda não têm a capacidade de competir nas ligas de elite. Este é um problema que precisamos de enfrentar.
- Depois é a tal questão de que nós evoluímos, mas não nos podemos esquecer que as federações que estaõ hoje no topo dos topos também continuam esse processo de evolução, não é verdade?
As atletas continuam a evoluir e, acima de tudo, a criar condições para permanecer no topo. Estamos a falar de mulheres que são mães e, mesmo com filhos de 3 ou 4 meses, competem em campeonatos da Europa e do Mundo. A própria federação oferece apoio, como babysitters e o transporte da família para o hotel, para garantir que as atletas possam manter o foco na sua tarefa principal: jogar. Existe, assim, um grande respeito pela profissão de jogadora de andebol, com proteção à carreira e salários pagos enquanto se é mãe, algo semelhante ao que acontece numa empresa ou fábrica.
Se uma atleta for mãe, tem direito a esse apoio. A sua carreira é respeitada, a sua profissão é valorizada. Vemos jogadoras nos países nórdicos, por exemplo, a jogar em alto nível até aos 40 e tal anos. O cuidado e respeito com a carreira das atletas é muito maior, e isso faz toda a diferença. Dizemos a uma jovem jogadora feminina: "Podes jogar até aos 40. Se queres ser mãe, não há problema, vamos apoiar-te." E este apoio inclui criar as condições necessárias para que ela possa voltar a jogar após a maternidade.
- Bem diferente da realidade portuguesa...
- Isto é completamente diferente de, em Portugal, dizermos a uma jovem atleta: "Queres jogar andebol? Está bem, mas só tens 100 euros por mês e tens que treinar 5 vezes por semana, fazer musculação extra e muito mais, tudo para ganhar o quê? Depois tens que trabalhar, mas o treino é às 10 da noite. E para ganhar 100 euros, como vais conciliar tudo isso?" Se a atleta decidir ser mãe, a sua carreira termina. O que falta aqui é o apoio que outras federações oferecem, criando condições para que a atleta tenha um futuro sustentável no desporto.
Este é um problema sério. Quando as jogadoras são muito novas, entre os 15 e os 17 anos, elas têm uma ambição enorme e treinam intensamente. No entanto, quando chegam aos 18 anos, a realidade é diferente: começam a treinar menos. O que acontece é que, dos 15 aos 17, elas treinam em triplicado, mas quando chegam aos 18, a intensidade do treino diminui drasticamente. Como podemos competir no cenário internacional assim, quando as atletas treinam metade do que treinavam antes?
Essa é a razão pela qual, muitas vezes, conseguimos ser competitivas nas seleções sub-17, mas quando chegamos às seleções sub-19 e seniores, a competição torna-se muito mais difícil. Estamos constantemente a renovar a nossa seleção, porquê? Porque as jogadoras com 24 anos já são consideradas "velhas", porque têm que trabalhar e as outras querem ser mães. Existem casos raros de jogadoras, como a Bebiana, que continua a competir aos 40 anos, mas esses são exemplos únicos. Em outras seleções e países, atletas jogam até essa idade como parte da norma. Este é o grande desafio: estamos permanentemente a renovar a nossa seleção e as jogadoras perdem a ambição por falta de apoio e de condições estruturais.

A inteligência artificial ao serviço do andebol
- Sei que é um apaixonado por novas tecnologias. Que impacto é que elas podem ter num desporto como o andebol?
- Existem duas perspetivas a considerar. A primeira é bastante animadora, pois a inteligência artificial pode facilitar várias tarefas, permitindo acelerar a análise de dados de forma extremamente rápida. Isso pode resultar num aumento significativo tanto na quantidade como na qualidade da informação, o que é muito positivo. No entanto, o lado perigoso desta revolução é acreditar que a inteligência artificial será responsável pelo desenvolvimento do desporto nos próximos anos. Isso seria um erro, pois cairíamos na maior falácia: esquecer que o desporto é feito de sentimento, e a inteligência artificial não possui sentimentos.
A inteligência artificial não estabelece relações humanas, e isso pode levar a uma visão distorcida do desporto, mais mecanicista e sem a verdadeira essência que envolve a prática desportiva. Portanto, é essencial encontrar um equilíbrio, gerindo toda a informação de forma ponderada. O mais importante é sempre manter no centro da equação o atleta, o próprio jogo e o seu desenvolvimento, sem nunca perder de vista a parte emocional, que é decisiva para o desporto.
- Como tem sido a resposta das jogadoras a esses estímulos todos, a toda essa informação?
- É essencial encontrar um equilíbrio, especialmente quando consideramos a intensidade competitiva que as atletas enfrentam ao longo de uma temporada. Para equipas de rendimento top, que competem constantemente em competições europeias e campeonatos nacionais, o volume competitivo é ainda mais desafiador. Por isso, é necessário encontrar um ponto de equilíbrio, com o bom senso de perceber que não podemos sobrecarregar as atletas com informações. Caso contrário, alguma coisa poderá falhar.
A aposta estratégica deve ser na seleção das informações mais relevantes, e, eventualmente, encontrar formas de quebrar a rotina. Por exemplo, este ano, a nossa equipa está num patamar diferente: não é profissional em termos de remuneração nem de exclusividade. As atletas têm outros compromissos, como trabalho ou estudos, e treinam à noite. Realizamos alguns treinos bidiários, mas sabemos da importância de variar as rotinas. Uma das estratégias que introduzimos é fazer com que as próprias atletas analisem o adversário e trabalhem em grupos específicos. Elas são responsáveis pela análise e, depois, apresentam as conclusões ao grupo, o que as envolve diretamente no processo.
Percebemos que, devido ao número elevado de vídeos que lhes são disponibilizados, com o trabalho e as reuniões que realizamos durante a semana, elas muitas vezes não têm tempo nem paciência para ver mais material. Por isso, tentamos mudar a estratégia: enquanto estão a ver os vídeos, elas precisam preparar apresentações para as colegas, o que nos permite aproveitar esse tempo de forma mais produtiva. Essas dinâmicas ajudam a evitar a sobrecarga de informação e tornam o processo mais interativo.
No passado, havia treinadores que usavam cassetes e passavam horas a rever e a repetir o mesmo material, uma abordagem bastante maçante. Hoje, embora ainda existam treinadores que fazem sessões de vídeo longas e minuciosas, há uma tendência crescente em mudar essa abordagem. A informação precisa ser entregue de forma mais apelativa, rápida e eficaz. A utilização de programas e apresentações mais dinâmicas pode ajudar muito, e a inteligência artificial pode ser uma aliada importante nesse processo. As sessões de vídeo devem ser mais curtas, com foco no que realmente é decisivo para o jogo seguinte, e dedicar tempo à participação das atletas, tornando tudo mais concreto e objetivo.
- Ou seja, a equipa técnica trasnforma horas e horas de informação em 20-30 minutos para apresentar às atletas.
- Sem dúvida, o trabalho do analista de vídeo segue a mesma linha. O analista passa horas a cortar e a analisar jogos, vendo diversos momentos repetidos, para, no final, selecionar apenas 2 ou 3 lances de uma situação específica. Muitas vezes, é necessário observar a ocorrência de um lance em várias situações para perceber padrões, regularidades e estatísticas que irão integrar os clipes. Isso é baseado em probabilidades, e é com essas probabilidades que vamos selecionar os momentos que serão mostrados às atletas. Esse é o trabalho invisível que o treinador, o analista e toda a estrutura por trás realizam para fazer com que um vídeo de apenas 1 ou 2 minutos, aparentemente simples, envolva horas de trabalho.
A verdade é que não podemos sobrecarregar as atletas com 30 minutos de vídeo sobre a mesma coisa apenas para reforçar pontos. Precisamos ser mais eficazes e focar na seleção dos dados mais relevantes. Hoje, no andebol, começamos a dar passos importantes em direção à análise de dados, especialmente em relação ao big data, uma área já bastante desenvolvida no futebol. As grandes bases de dados e a análise estatística avançada começam a ganhar terreno no andebol, e isso é um movimento natural. Curiosamente, essas análises já são feitas pelas casas de apostas, que utilizam grandes volumes de dados para determinar odds e probabilidades. O que estamos a mcomeçar a fazer é levar essa análise para o andebol, encontrar o veículo certo para recolher esses dados e formar uma equipa especializada nessa área.
O maior desafio agora é trazer esses profissionais que já trabalham com dados no andebol, mas para outros fins, para a nossa modalidade. Eles podem ajudar a desenvolver essas análises, aplicar as estatísticas e utilizar esses dados para melhorar a performance das equipas e das jogadoras. Esse é o próximo passo para o nosso desporto.
- O Luís mencionou, na sua última entrevista ao Flashscore, que a mulher andebolista tende a ser mais curiosa. Isso facilita o seu trabalho de alguma forma?
- Sem dúvida que tenho sentido isso e já o disse várias vezes: foi uma agradável surpresa. Em 25 anos como treinador, 20 dos quais passados no masculino, recebo o convite da federação para assumir a seleção feminina sub-16, na altura, com o objetivo de preparar o Europeu de sub-17 e tentar o apuramento para o Campeonato do Mundo. Foi uma surpresa, porque nunca tinha trabalhado com equipas femininas, e como costumo dizer, foi uma experiência muito positiva, especialmente no que diz respeito ao compromisso das atletas. Muitas vezes tenho dito que, em certos aspectos, as mulheres atletas demonstram um compromisso que muitos homens não teriam, mesmo sem o mesmo reconhecimento e, muitas vezes, sem o apoio financeiro que mereciam.

O trunfo da comunicação: "É o que cativa no imediato, mas..."
- Outro aspeto fundamental nos dias de hoje e que o Luís privilegia muito é a comunicação. Quão importante pode ser ela para o sucesso de uma equipa?
- Numa primeira instância, a forma como comunicamos e conseguimos transmitir a nossa mensagem é decisiva – talvez mais a forma do que o conteúdo em si. Quando chegamos a um novo ambiente ou falamos com alguém, o que realmente nos cativa de imediato é a forma como a pessoa se comunica: a postura, o tom de voz, o olhar, as expressões faciais, os gestos… tudo o que é mais visual. No entanto, se não houver conteúdo por trás disso, a comunicação acaba por não ter profundidade – tem forma, mas falta-lhe substância. E, por isso, é preciso haver um equilíbrio entre os dois.
Acredito que, a certa altura, a comunicação externa, especialmente nas redes sociais, pode funcionar só com a imagem. Pode ser possível enganar e passar uma imagem que não corresponde à realidade, especialmente para quem não está tão por dentro do processo. No entanto, dentro de uma equipa, isso não acontece. Bastam duas semanas de trabalho para que os jogadores percebam se há coerência entre o discurso e a ação, se a comunicação tem conteúdo ou se é apenas um disfarce. Eles conseguem perceber se há algo de benéfico em trabalhar com aquele treinador, ou se é só uma fachada.
Para o exterior, por outro lado, a primeira impressão é mais centrada na forma como se comunica, e as pessoas, ao verem uma boa imagem e apresentação, querem entender o que está por trás disso. Tentam descobrir se realmente há substância ou se tudo não passa de uma boa aparência. No entanto, com o tempo, torna-se difícil manter essa consistência, pois as pessoas vão perceber o trajeto de alguém – quanto tempo esteve em determinado lugar, o que fez, o que conquistou. Aqueles que estão dentro da modalidade acabam por perceber se a comunicação corresponde ao trabalho prático.
- O Luís costuma conviver com vários treinadores no início da carreira durante as formações. Quais são os principais conselhos que procura transmitir a eles?
- O primeiro conselho está sempre relacionado com a paixão. É fundamental questionar-se se, de facto, é isso que querem. Estão preparados para se levantar às 6:00 ou 6:30 da manhã para dar treinos às 7:00, sem a expectativa de serem altamente bem pagos por isso? Estão dispostos a fazer isso, a não ter fim de semana, a abdicar de férias ou de sair à noite com os amigos, enquanto todos os outros vão sair e beber uns copos? Há muito trabalho envolvido, e é preciso paixão para o fazer. Se não tiverem paixão, não vale a pena. É essencial gostar verdadeiramente da modalidade, porque, acima do desejo individual de qualquer treinador de ter sucesso ou reconhecimento, tem que haver um amor pela modalidade e pela sua promoção. Não estamos aqui apenas por nós, mas para deixar algo de importante.
Portanto, a paixão é a base. O resto dos conselhos, como ser humilde, querer aprender, ouvir os atletas, dialogar com outros treinadores, ir ao estrangeiro, investir em formações, só serão possíveis se houver essa paixão. Caso contrário, não será possível alcançar o nível desejado. Este caminho não é fácil. Em 25 anos de carreira, só tive 2 anos em que fui exclusivamente treinador profissional, a tempo inteiro, a dedicar-me inteiramente ao andebol. É um trajeto difícil, especialmente se o objetivo é ser um treinador profissional.

Percurso no CJ Almeida Garrett: "Tem sido uma experiência fantástica"
- Qual é o balanço que faz do trabalho realizado no Almeida Garrett até agora? E como se sente, a nível pessoal, em relação a essa experiência?
- Em termos individuais, penso que foi um desafio e uma aposta ganha, na medida em que percebi que o clube tinha, na sua base, uma boa direção, pilares sólidos e uma coordenação desportiva de qualidade, além de um volume de trabalho interessante. Este foi o primeiro fator que me levou a aceitar o desafio quando fui convidado para o Clube Jovem Almeida Garrett. A decisão partiu dessa análise: como eu havia trabalhado no masculino e numa seleção nacional, fiquei com alguma dúvida sobre como seria a minha adaptação a um clube feminino. Tinha o receio de como as coisas poderiam correr, mas ao olhar para o clube percebi que a estrutura era capaz de sustentar o crescimento e de se impulsionar para alcançar mais.
A época anterior foi, de certa forma, um sonho. Quando subimos à primeira divisão, o objetivo principal era garantir a manutenção, já que o clube tinha descido após um ano na divisão principal. O maior desafio é sempre garantir a consistência e permanecer na divisão, e o primeiro ano foi muito duro, principalmente por ser um ano de adaptação: adaptar-me à estrutura, às pessoas, ao clube e, claro, às jogadoras. As jogadoras também tiveram de se adaptar aos meus métodos de trabalho, que, apesar de o clube já ter os seus próprios hábitos, exigiram mudanças.
No entanto, conseguimos, de forma impressionante, garantir a manutenção já em fevereiro e, ainda por cima, conseguimos uma entrada histórica no grupo A e alcançámos duas Final Four – um resultado brilhante para uma equipa que acabara de subir de divisão e que tinha como objetivo apenas não descer. A equipa era jovem, com uma média de idade de 22 anos, o que tornava a conquista ainda mais significativa.

- E este segundo ano?
- Embora com os mesmos objetivos de manutenção, foi muito diferente. Com uma equipa ainda mais jovem, perdemos algumas jogadoras experientes, o que fez com que a média de idade fosse ainda mais baixa. Fizemos uma primeira volta fantástica, terminando em segundo lugar, mas sabíamos que a segunda volta seria mais difícil, pois as outras equipas têm um investimento muito superior ao nosso. Tentámos então lutar por um lugar nos quatro primeiros, mas o formato da prova não foi muito favorável para nós. Acabámos em quinto lugar, com mais cinco pontos do que no ano anterior, e mais dois pontos do que o quarto classificado no ano passado. Embora não tenhamos conseguido estar entre os quatro primeiros, o nosso desempenho foi positivo e acima da época passada. Continuamos a nossa jornada na Taça de Portugal e estamos bem encaminhados para os quartos de final, com a perspectiva de alcançar a meia-final.
Do ponto de vista coletivo e individual, tem sido uma experiência fantástica. Temos muito a melhorar, mas estamos a dar passos importantes, especialmente na forma como influenciamos o jogo. O grupo está motivado, e até recebemos elogios de equipas candidatas ao título sobre a nossa forma de jogar e o que estamos a apresentar em campo. Isso é digno de registo, pois, com uma equipa que está a tentar consolidar-se na primeira divisão, receber esse reconhecimento é um grande feito. As equipas adversárias já se preocupam em preparar-se bem contra nós, o que mostra que estamos a apresentar qualidade e até alguma novidade no nosso jogo. Como treinador, esse é um desafio constante: procurar sempre trazer algo novo, sem querer ser pretensioso, mas com a intenção de evoluir e fazer algo diferente.
- Essa procura constante por algo novo é o que mantém viva a sua paixão?
É exatamente essa paixão e a busca constante por inovação. Muitas vezes ouço, ao longo dos anos, que no andebol ou no desporto tudo já foi inventado, mas, na realidade, isso não é verdade. Não sou apologista dessa ideia, acho que ainda há muito por onde melhorar, há fases do jogo que podem ser aprimoradas, características que podem ser introduzidas. E é isso que tentamos fazer. Implementámos, por exemplo, um 7 contra 6 com qualidade, começando num ataque organizado e, este ano, investimos numa abordagem 7 contra 6 também em fase de transição. Algumas destas ideias talvez não fossem vistas como viáveis à primeira vista, e se eu ouvisse pessoas com mais experiência no feminino, provavelmente diriam que não seria possível. Mas, a verdade é que tentamos sempre desafiar esses limites, buscar algo novo e positivo, para valorizar o andebol feminino, atrair mais público e garantir mais investimento. Temos de apresentar um bom espetáculo, caso contrário, não conseguiremos promover o nosso produto. E tudo isso está interligado. Como treinador, a minha visão passa por como conseguir aproximar o desporto do público, como tornar o nosso produto algo vendável, e, ao mesmo tempo, continuar a melhorar os atletas e o jogo.

"O meu objetivo é estar no mais alto nível possível"
- Depois de 25 anos de carreira, como se imagina nos próximos 10 ou 20 anos?"
- Na verdade, não tenho muito tempo para imaginar o futuro, pois acredito que o futuro é feito de todos os presentes. Para mim, o futuro é o treino de amanhã, o jogo do próximo sábado e estar focado em fazer o melhor possível a cada momento. Se me perguntarem sobre as minhas ambições, não escondo que o meu objetivo é jogar no mais alto nível possível. Isso inclui contextos internacionais, seleções nacionais séniores e clubes de topo que competem na Liga dos Campeões e em outras competições internacionais. Isso é um sonho, algo que todos nós almejamos. No entanto, acredito que só é possível alcançar esse nível mantendo a postura de um jovem de 19 anos, que saía do treino dos infantis e ia a correr para assistir aos treinos dos séniores, anotando tudo no bloco. Foi esse trabalho diário que me trouxe até aqui. Não cheguei aqui por ser atleta de alto nível nem por ter pais ou familiares envolvidos na modalidade. Curiosamente, ninguém da minha família jogava andebol ou sequer conhecia a modalidade. O meu envolvimento com o andebol surgiu na escola, através de um projeto de Gaia, onde o jogo era praticado à volta de um círculo, com os dois guarda-redes de costas, na mesma baliza. Foi ali que surgiu o meu gosto pela modalidade, que depois se concretizou no Futebol Clube de Gaia, o clube que ficava ao lado da minha casa.
Este trajeto foi construído com muito trabalho e paixão pelo jogo, sem uma ligação familiar ou qualquer tipo de tradição na modalidade. Por isso, quando me perguntam sobre o futuro, respondo que ele é o treino de amanhã e o jogo do próximo sábado. Estou aberto a todas as propostas e desafios. Uma coisa que ainda me apaixona profundamente é a parte da formação e da partilha com outros treinadores. Esse é um projeto que sempre estará no meu presente e no meu futuro. Se surgirem propostas relacionadas com o desenvolvimento de projetos desportivos ambiciosos na área da formação, certamente estarão na minha mente, pois acredito que isso é fundamental para potenciar a modalidade.
- Como gostaria o Luís de ser lembrado quando chegar ao fim da sua carreira?
- Acima de tudo, o que procuro é que, em todos os projetos em que estive envolvido, tenha deixado uma marca. Se há algo que tento fazer em cada um desses projetos, é trabalhar como se estivesse lá durante 10 anos. Mesmo que o tempo de permanência seja de um, dois ou três anos, o meu percurso ao longo de 25 anos passou por sete clubes, o que, para mim, não é tanto assim. Isso também demonstra o tipo de envolvimento e a relação que estabeleço nos lugares por onde passo. Não acredito que seja possível ter sucesso em projetos de curta duração se, ao dar o treino, não nos entregarmos de corpo e alma. O meu objetivo sempre foi ter a consciência tranquila de que, em cada dia em que entrei em campo, fui com a mesma paixão.
Nunca houve um dia em que pensei: 'Hoje não me apetece nada dar treino.' Essa consciência individual é importante, e sei que, do lado de fora, as pessoas podem até não gostar do meu estilo, podem achar que sou exigente, mas, no fundo, onde estive, deixei sempre uma marca positiva. E é isso que acredito que vai acontecer sempre: deixar uma marca.
Quando falo em deixar uma marca, refiro-me ao impacto positivo nos clubes, na cultura, e também na vida dos atletas, ajudando-os a crescer, não só no andebol, mas também fora dele, profissionalmente. É verdade que nem todos os atletas são tocados de forma positiva, mas as ambições e a visão que temos sobre o desporto podem levar a divergências, e, por vezes, não conseguimos criar as relações mais próximas. Contudo, o objetivo maior é sempre o trabalho que fazemos nos clubes. Quando conseguimos que os atletas compreendam que o propósito é coletivo, é o clube e o que estamos a construir juntos, é aí que surgem amizades, relações pessoais, ou até o reconhecimento, como o de atletas que escrevem cartas aos treinadores. E essas cartas, guardamos, para ler um dia com orgulho.

- Com tanta dedicação ao andebol, consegue encontrar tempo para se dedicar a outras paixões ou interesses fora da modalidade?
- O andebol está sempre presente na minha cabeça, mas a vida familiar também exige atenção. Tenho duas filhas pequenas que precisam de mim, e a minha mulher também tem o seu espaço. Sou muito dedicado à organização, pois, além de treinador, sou também professor de Educação Física no Grande Colégio Universal e coordenador desportivo, embora em tempo parcial.
A minha organização do tempo é essencial. Sou metódico e preciso de tudo bem planeado, pois se algo não estiver pronto no momento certo, compromete o restante trabalho. Sou muito exigente quanto aos prazos, e a minha postura em relação aos meus colaboradores é de rigor, para garantir que tudo funcione como deve ser. O meu objetivo é chegar ao jogo ou treino e sentir que, se perdermos, não foi por falta de preparação.
O desporto de alta competição exige resiliência e entrega. Quando as coisas não são fáceis, temos que fazer o trabalho independentemente. Isso significa, muitas vezes, dormir menos horas para garantir que a análise do jogo seja feita e as estatísticas entregues a tempo. Isso se torna uma rotina constante, mas é a forma que encontramos de sermos profissionais.