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Andebol: Ana Seabra assume "desafio" de liderar seleção feminina do Irão

Ana Seabra é uma referência no andebol feminino
Ana Seabra é uma referência no andebol femininoFederação Portuguesa de Andebol

A portuguesa Ana Seabra é a nova selecionadora feminina de andebol do Irão, um repto que implica “crescimento profissional e pessoal” e que vai ter um teste já no Mundial, em novembro, na Alemanha e Países Baixos.

“É um desafio interessante e a oportunidade de trabalhar num país que quer investir no andebol. Precisa muito de crescer, mas tem potencial”, explica a treinadora, que jogou sete épocas no Madeira SAD e outras tantas no Colégio de Gaia.

Em declarações à agência Lusa, a antiga andebolista internacional portuguesa revela que já tinha recebido um convite de um clube iraniano, que ficou suspenso devido às “tensões com os Estados Unidos e Israel”, tendo agora surgido esta possibilidade, através do diretor técnico da seleção masculina, que conhece o trabalho de Ana Seabra a dirigir as espanholas do Atlético Guardés, da Galiza.

“É ter a oportunidade de crescer numa outra realidade e cultura, o que para mim é super-interessante e curioso, porque gosto de desafios. Acima de tudo, gosto de conhecer e de aprender”, acrescentou a treinadora, que se comprometeu por dois anos.

Ana Seabra acabou de voltar da primeira semana de estágio em Teerão, tendo encontrando um país mais moderno e evoluído do que imaginara, condições de trabalho acima do esperado e um povo inexcedível a fazê-la sentir-se em casa.

“Foi tudo incrível, desde as pessoas super atenciosas e cuidadosas à atitude das atletas, dedicadas e com muita vontade de aprender e evoluir. O Mundo não conhece a realidade iraniana. Obviamente, têm os seus problemas, mas a verdade é que fiquei muito contente e surpresa com tudo o que encontrei”, regozijou-se.

A técnica ficou sensibilizada pelos “agradecimentos regulares” por ter aceitado o desafio - “para algumas mulheres pode não ser fácil a adaptação à cultura” – e revelou que foi “super tranquila” a sua adaptação ao modo de vida iraniano.

“Facilitaram muito a minha presença e deixaram que me ajustasse, fizeram tudo para que me sentisse à vontade. Obviamente, também me ajustei a algumas coisas que para eles eram muito importantes, não por eles mesmos, mas pelo governo e pela cultura e influência da religião, que as autoridades levam muito a sério e são exigentes”, assumiu.

Contou que apenas nas instalações da federação e captação de imagens oficiais lhe pediram para colocar o lenço na cabeça, cobrir pernas e braços, atitude que não precisa replicar no quotidiano.

“Perceberam logo que eu e os lenços não nos estávamos a dar muito bem e tiveram o cuidado de me oferecer quatro chapéus e dizer ‘olha, não há problema, já percebemos que a coisa não está a funcionar muito bem, podes usar o chapéu’. Pediram-me para usar apenas em situações oficiais”, sublinha.

De resto, testemunha uma capital, Teerão, em que “as mulheres andam à vontade, de manga curta, cabelo solto e à mostra, sem lenço”.

Partilhou um episódio num treino em que as portas foram fechadas à presença masculina, pelo que as atletas puderam treinar sem hijab, “super contentes e libertas”: “No seu dia a dia, é opcional. Para jogar, é obrigatório, contudo já estão habituadas”.

“Encontrei miúdas muito guerreiras, com um potencial incrível. Gostei muito do que vi, o que me motiva ainda mais”, reforçou.

Ana Seabra sente que o desporto “ajuda à emancipação feminina” das iranianas, algo para o qual contribuem também o trabalho de outros treinadores e clubes.

“Sinto que estou numa missão pessoal de poder ajudar jogadoras ou um povo que raras vezes tem a oportunidade de trabalhar com pessoas de fora. Por medo, por não saberem o que pode acontecer no Irão ou o perigo da guerra. Senti-me muito agradecida por ajudar e tenho vontade de contribuir para desenvolver o grande potencial que encontrei”, constata a selecionadora.

No Mundial, ao qual chegou com a quarta vaga no apuramento asiático, o Irão vai ter como adversárias Suíça, Hungria e Senegal, tendo como objetivo “aproximar o nível de jogo” a seleções internacionais, sobretudo às asiáticas, nomeadamente Japão, Coreia do Sul e China, referencias na região.

“O Irão merece uma oportunidade e não tenho receio nenhum de aceitar este tipo de desafios. Nunca tive medo de coisas difíceis, por muito que deem trabalho”, concluiu Ana Seabra.