“Tem de se continuar a trabalhar muito na base. Eu tenho a certeza de que, com estes resultados, vão aparecer agora muitos jovens a jogar andebol com condições. É preciso um bom enquadramento entre escolas e clubes e, quando se chegar aos patamares das seleções, tem de se manter esse investimento. O Estado tem de criar condições para que a Federação de Andebol de Portugal (FAP) possa participar ao mais alto nível nas provas jovens e seniores e faça com que os atletas se sintam confortáveis e preparem-se bem”, partilhou à agência Lusa o treinador da equipa feminina do tricampeão nacional Benfica.
Portugal terminou na quarta posição o Campeonato do Mundo, ao perder com a campeã europeia França (35-34), no jogo de atribuição da medalha de bronze, em Oslo, sem beliscar a melhor das seis participações na prova (1997, 2001, 2003, 2021, 2023 e 2025).
“Atingido este patamar, isso não quer dizer que a partir de agora vai ser tudo um paraíso ou iremos estar sempre a disputar meias-finais de grandes competições. O nível atingido permite-nos perceber que poderemos lutar pelas melhores classificações. Depois, haverá um ou outro pormenor ligado aos diferentes momentos de forma e gestão, que permitirão ou não dar mais uns pequenos passos. Certo é que estivemos a dois remates do bronze. Além de ser excecional, era completamente impensável no início deste Mundial”, vincou.
Lembrando as melhores classificações de sempre em Mundiais e Europeus, com o sexto lugar em 2020, após 14 anos de ausência dos principais palcos e antes de uma inédita qualificação para os Jogos Olímpicos Tóquio-2020, realizados um ano depois, devido à pandemia de covid-19, Luís Monteiro liga esse nível competitivo à interseção geracional.
“Existe uma geração bastante jovem, na qual sobressaem os irmãos (Francisco e Martim) Costa, Ricardo Brandão e Diogo Rêma, que foram vice-campeões europeus de sub-20, já colocam Portugal num patamar muitíssimo interessante e com repercussões diretas neste desempenho. A juventude é complementada por uma geração de maior experiência, que, além do Fábio Magalhães, tem três vice-campeões europeus de sub-20 em 2010: Pedro Portela, António Areia e Rui Silva”, realçou o ex-adjunto dos ‘heróis do mar’ (2012-2016).
Além da histórica prestação coletiva, o lateral-direito Francisco Costa foi eleito o melhor jogador jovem da 29.ª edição do Mundial pela Federação Internacional de Andebol (IHF), que incluiu Martim Costa e Victor Iturriza no ‘sete’ ideal como melhores central e pivô, respetivamente.
“O trabalho dos clubes é feito em colaboração ou tem direta repercussão na FAP. Reúne diversos agentes, implica muito investimento e permite que apareçam muitos jovens de qualidade, que alimentam aos poucos a seleção e permitem renovar as gerações”, disse.
Selecionador de sub-20 e sub-21 de 2005 a 2009, Luís Monteiro acredita que o conjunto de Paulo Jorge Pereira “não falhou em nada” no encontro com a França e reequilibrou as operações depois do intervalo, apesar de ficar com um “amargo de boca” na despedida.
“A França foi a última seleção a ganhar à Dinamarca numa grande prova. Derrotou-a na final do Euro-2024, mas a Dinamarca venceu os Jogos Olímpicos Paris-2024 e agora este título, não perdendo em Mundiais há 37 jogos. Portugal acaba por fazer uma competição em que só não conseguiu ser superior à Dinamarca, que está num patamar diferente”, notou, aludindo ao desaire luso nas meias-finais com os nórdicos (40-27), que bateram a Croácia (32-26) na decisão e arrebataram o troféu planetário pela quarta edição seguida.