António Pacheco: um pé esquerdo desconcertante e um inesquecível 'verão quente'

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António Pacheco: um pé esquerdo desconcertante e um inesquecível 'verão quente'
António Pacheco ao serviço do Benfica, diante do Sporting
António Pacheco ao serviço do Benfica, diante do SportingFacebook
O ‘verão quente’ de 1993 marcou, para a eternidade, a carreira de futebolista de Pacheco, pautada por um pé esquerdo desconcertante, que encantou a Luz durante seis anos e levou no currículo duas finais da Taça dos Campeões.

Transferido do Portimonense para a Luz com 20 anos, então na companhia de Augusto, que não vingou, Pacheco, nascido em Portimão em 01 de dezembro de 1966 e que morreu hoje aos 57 anos, fez mais de duas centenas de jogos pelo Benfica e arrebatou quatro títulos, incluindo dois campeonatos, mas nada foi mais impactante, na sua história, do que a mudança das ‘águias’ para o Sporting.

Passou tanto tempo e as pessoas ainda se metem comigo na rua a toda a hora. Constantemente, digo-lhe. Parece que se trata de uma notícia atual”, afirmou o antigo extremo esquerdo, numa entrevista ao jornal ‘A Bola’, em 2018, reconhecendo, em forma de lamento, o transcendente impacto de tal decisão.

O que ficou, para os benfiquistas, foi que Pacheco e Paulo Sousa, que fez idêntica viagem, traíram o clube, ao aproveitaram o facto de o Benfica ter salários em atraso para rumar a Alvalade, caminho que outros foram tentados a seguir, como João Vieira Pinto, o atual presidente Rui Costa ou Isaías.

A ideia que se perpetuou é a de que saí por salários em atraso, o que não corresponde à verdade. Eu saí do Benfica por questões pessoais, por desacordo pessoal com pessoas que estavam então no clube. A justa causa, é verdade, foi o mecanismo, a via legal que eu encontrei para ir ao encontro da razão da saída”, explicou Pacheco, 25 anos depois de um dos grandes ‘casos’ da história do futebol português.

Pacheco, então, com 26 anos, não era o ‘menino bonito’ dos adeptos do Benfica, nunca o terá sido, mas o ‘terceiro anel’ nunca deixou de apreciar as ‘maldades’ que o seu pé esquerdo fazia aos adversários, o ‘descaramento’ com que partia para ‘cima’ dos oponentes, para depois cruzar, assistir, ou marcar, pois também tinha essa capacidade, um remate forte, colocado.

Essas qualidades foram apreciadas em mais de duas centenas de jogos que cumpriu pelo Benfica, apontando 47 golos, quase um em cada quatro encontros, entre 1987/88 e 1992/93, com destaque para os 11 marcados em 1991/92, a sua época mais produtiva nessa matéria, sob o comando do sueco Sven-Goran Eriksson.

Pacheco tem no currículo golos ao rival Sporting, em dois triunfos caseiros por 2-0 para o campeonato, mas, mais do que tudo, orgulha-se de ter jogado, e como titular, em duas finais da Taça dos Campeões Europeus, perdidas pelos ‘encarnados’ para o PSV Eindhoven (1988) e o AC Milan (1990).

Com 23 anos, tinha duas finais da Taça dos Campeões, que só três repetiram: eu, o Magnusson e o Silvino”, disse, orgulhoso, Pacheco, numa entrevista à SportTV, em 2016.

O algarvio jogou aos 120 minutos na final com os neerlandeses e ainda foi chamado a marcar no desempate por grandes penalidades, apontando então o 4-4 – com 5-6, Veloso falhou -, para, dois anos depois, sair aos 58, ainda com 0-0, face aos italianos (0-1).

Pacheco viu muitas tardes e noites de glória pelo Benfica, e foi em representação do clube que cumpriu, sem grande destaque, as suas seis internacionalizações ‘AA’, entre 15 de fevereiro de 1989 e 04 de setembro de 1991, saldadas com uma vitória e cinco empates, sem qualquer golo marcado.

Do Benfica, saiu, abruptamente, naquele ‘verão quente’ de 1993, para Alvalade.

Tenho a perfeita consciência daquilo que fiz. Hoje fazia de novo, nas mesmas circunstâncias. As pessoas confundem os clubes com as pessoas que passam pelo clube. A mística estava-se a perder. Não gostei do que se passou lá, não era o meu Benfica. Decidi pela minha cabeça, mas foi um período difícil da minha vida. Virei seis milhões de pessoas contra mim”, lembrou, contando que lhe partiram um carro, insultaram-no em inscrições em paredes, ameaçaram-no.

Em Alvalade, começou em ‘grande’, sob o comando de Bobby Robson, sendo titular nas primeiras seis jornadas do campeonato, e em nove das 11 iniciais, mas, depois, o inglês saiu, chegou Carlos Queiroz e tudo mudou.

Deixou de fazer parte do ‘onze’, passando a saltar do banco, o que, por exemplo aconteceu no célebre 6-3 que decidiu, a favor do Benfica, o campeonato de 1993/94. Entrou ao intervalo, substituindo Paulo Torres, e não conseguiu fechar a esquerda, por onde os ‘encarnados’ partiram para a goleada.

Ainda assim somou 32 jogos, para, na época seguinte, somar apenas três, o que não o impediu de conquistar a Taça de Portugal pelos ‘leões’, ainda que só tenha participado na goleada (6-1) ao Olivais e Moscavide, da II divisão B, nos quartos de final.

A minha carreira começou a andar para trás. Tive um conflito pessoal com Carlos Queiroz e a minha segunda época no Sporting foi traumatizante”, recordou na entrevista à SportTV.

Desta forma, e mesmo adiantando que, com os dados de então, voltaria a fazer o mesmo, Pacheco não teve problemas em reconhecer: “Sair do Benfica foi uma má opção de carreira. Basta ver o meu percurso no Benfica e, depois, no Sporting. Não há qualquer dúvida sobre isso”.

Pacheco só durou duas temporadas em Alvalade e, depois, a sua carreira entrou em ‘queda livre’, para nunca mais ter um ponto alto, que não aconteceu, claramente, nas passagens por Belenenses, Reggiana (Itália), Santa Clara, Atlético e Estoril.

Depois de fechar a carreira de jogador, ainda iniciou a de técnico, que foi muito curta, de meia dezena de anos, com passagens por Atlético e Portimonense.