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Jogos Europeus: Guerra na Ucrânia depois de duas edições de 'sportswashing'

As mascotes dos Jogos Europeus
As mascotes dos Jogos EuropeusEuropean Games
A guerra na Ucrânia teve inevitável impacto nos Jogos Europeus (JE), inviabilizando a participação da Rússia e Bielorrússia, numa terceira edição, na Polónia, que será a primeira a escapar à acusação de ‘sportswashing’.

A Rússia, clara ganhadora das duas primeiras edições, em Baku 2015 e Minsk 2019, e a cúmplice Bielorrússia, sétima e segunda classificada, respetivamente, foram excluídas da competição que junta cerca de 7.500 atletas de 30 modalidades, desde logo provocando um inevitável impacto desportivo.

No Azerbaijão, a Rússia conquistou 79 medalhas de ouro, 40 de prata e 45 de bronze (145 no total), mais do dobro dos anfitriões, segundos desse ranking, impondo-se novamente na Bielorrússia, segunda do pódio global, com 44 triunfos, 23 segundos lugares e 42 terceiros, num acumulado de 109 pódios contra os 69 dos organizadores.

"A Rússia é um país agressor que começou a guerra na Ucrânia", disse o presidente da Polónia, Andrzej Duda, quando foi decidida a ausência dos competidores de ambos os países nos JE, recordando que “estes serão os Jogos da paz e da tranquilidade", durante os quais não será necessário "fingir que está tudo bem".

Ante uma comunidade internacional dividida, em 28 de março o Comité Olímpico Internacional (COI) recomendou a participação, a título individual, de atletas russos e bielorrussos nas competições internacionais, sob bandeira neutra, adiando para mais tarde uma decisão sobre a presença nos Jogos Olímpicos Paris2024, algo que ainda não fez.

Sem russos nem bielorrussos, é garantido um embate desportivo nos Jogos Europeus que têm ainda o desafio de tentar captar o interesse dos principais eventos das modalidades maiores referências olímpicas, atletismo e natação (48 e 49 medalhas de ouro, designadamente), com pouca expressão nos JE aos quais não têm associados os seus mais emblemáticos campeonatos da Europa.

É verdade que a Europa foi o último Continente a adotar este figurino de competição olímpica, porém não terá ajudado ao seu sucesso o facto das duas primeiras edições terem decorrido em países que não se destacam pela qualidade da democracia nem pelo respeito pelos direitos humanos, desde logo acusados de sportswashing.

Começou pelo Azerbaijão, que desde 2003 vive sob o jugo do autoritário regime de Ilham Aliyev – sucedeu ao seu pai, sob críticas da comunidade internacional, que denunciou fraude eleitoral -, e que usou os Jogos Europeus para tentar apresentar ao Mundo uma imagem progressista e tolerante.

A realidade, igualmente apresentada por vários organismos internacionais, é bem diferente e a imagem que se pretendeu vender não se coaduna com um quotidiano em que a oposição é brutalmente reprimida enquanto proliferam casos de corrupção da elite política, invariavelmente impune.

Os interesses ligados ao desporto voltaram a estar acima dos direitos humanos quando em 2019 os JE foram organizados pela Bielorrússia de Aleksandr Lukashenko, no poder desde 1994, num regime que enferma de vícios semelhantes aos do Azerbaijão: em 2020 reprimiu violentamente a oposição e a multidão que durante semanas contestou nas ruas o resultado das eleições.

Vizinha da Ucrânia, Rússia e Bielorrússia, a Polónia não sofre das mesmas acusações de ‘sportswashing’, mas não está isenta de problemas: em 2019 a região de Maloposka, que recebe o evento sedeado em Cracóvia, declarou-se uma zona livre de ideologia LGBT.

Em 2020, e criticando esta posição “incompatível com os valores da carta olímpica”, um grupo de políticos europeus publicou uma carta dirigida aos Comités Olímpicos Europeus a exigir o respeito pelos direitos LGBT ou a mudança dos JE para um outro país.

O repto foi ouvido e no mesmo setembro a região de Maloposka revogou a sua declaração, indo mesmo ao ponto de adotar uma resolução de “oposição a qualquer discriminação contra qualquer pessoa por qualquer motivo".

Até ao momento não foi tornada pública qualquer candidatura à organização dos Jogos Europeus de 2027.