Após a leitura da acusação, Gjert Ingebrigtsen, 59 anos, disse ao tribunal que rejeitava as acusações contra ele, no primeiro dia do seu julgamento no tribunal distrital de Sandnes, no sudoeste da Noruega, onde a família vive.
Jakob Ingebrigtsen, que ganhou dois títulos mundiais de pista coberta em Nanjing este fim de semana, e dois dos seus irmãos, Henrik e Filip, que também são atletas, chocaram a Noruega em outubro de 2023 quando acusaram o pai de usar "violência física" e "ameaças" como parte da sua educação.
Gjert Ingebrigtsen, que os irmãos descreveram como "um pai muito agressivo e autoritário", treinou Jakob até depois dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, onde Jakob ganhou o ouro nos 1500 metros.
Se for considerado culpado, pode apanhar até seis anos de prisão.
"O nosso cliente contesta as acusações que lhe são imputadas e nega categoricamente ter submetido os seus filhos a maus tratos, físicos ou psicológicos", disse à AFP o seu advogado, John Christian Elden, antes do julgamento, que decorrerá até 16 de maio.
"Com base na nossa análise das provas incluídas no processo, acreditamos que a acusação não tem fundamento", afirmou.
As alegações dos irmãos num artigo de opinião publicado em outubro de 2023 fizeram manchetes na Noruega e no estrangeiro e levaram a polícia norueguesa a abrir uma investigação que abrangeu todos os sete irmãos Ingebrigtsen.
A polícia retirou algumas das acusações por falta de provas ou por prescrição, mas o Ministério Público manteve várias acusações que envolviam Jakob, de 24 anos, e a a irmã Ingrid, nascida em 2006.
De acordo com a acusação, Gjert bateu, ameaçou e insultou Jakob em várias ocasiões entre 2008 - quando o rapaz tinha apenas sete anos - e em 2017, quando este, prestes a atingir a maioridade, saiu de casa.
Durante o verão de 2009, Gjert terá dado um pontapé no estômago de Jakob quando este caiu da sua scooter. Vários anos mais tarde, terá ameaçado "bater-lhe até ficar sem sentidos". Durante um período de quatro anos, entre 2018 e 2022, Gjert Ingebrigtsen é também acusado de ter sido abusivo para com a filha, insultando-a, ameaçando-a e batendo-lhe na cara com a mão ou com uma toalha.
"Ansioso por acabar"
A advogada que representa Jakob e Ingrid, Mette Yvonne Larsen, disse à AFP que os seus clientes estavam "desejosos de que tudo acabasse".
De acordo com o porta-voz Espen Skolan, os irmãos Ingebrigtsen não querem comentar o caso nesta altura.
"Ainda sentimos uma sensação de desconforto e medo que sentimos desde a infância", escreveram os três irmãos Jakob, Henrik e Filip no seu artigo de opinião de 2023.
O pai, Gjert, reagiu na altura: "Estou longe de ser perfeito como pai e marido, mas nunca recorri à violência".
Ao longo dos anos, o mundo do desporto tem visto numerosos atletas treinados por pais acusados de serem violentos ou abusivos, incluindo Mary Pierce do ténis e Todd Marinovich do futebol americano.
Jakob Ingebrigtsen é o mais bem sucedido dos três irmãos, tendo conquistado o ouro nos campeonatos do mundo de 5.000m em 2022 e 2023, e conquistado os títulos de 1.500m e 3.000m em Nanjing, este fim de semana, para ganhar uma rara dobradinha mundial em pista coberta.
Depois de ter conquistado o ouro olímpico nos 1.500 metros em Tóquio, em 2021, ganhou também o ouro nos 5.000 metros nos Jogos de Paris, no verão passado.
De regresso de Nanjing, Jakob deverá depor na terça e na quarta-feira, antes de a sua irmã fazer o mesmo. Vários outros membros da família, incluindo os irmãos Henrik, de 34 anos, e Filip, de 31, campeões europeus de 1.500 metros em 2012 e 2016, respetivamente, também deverão ser chamados a depor, assim como a sua mãe, Tone.
Várias dezenas de testemunhas deverão depor no processo.
Serão também exibidos excertos de um documentário realizado pelo canal público norueguês NRK, que acompanhou a família durante vários anos, mas que foi recentemente retirado dos seus serviços de streaming a pedido da família.