O Comité Olímpico Internacional (COI) manifestou a sua preocupação com o número de atletas indianos que utilizam substâncias para melhorar o seu desempenho.
O campeão olímpico de 2021 no lançamento do dardo, Neeraj Chopra, abordou o problema este ano. "O doping é um grande problema na Índia entre os nossos atletas", afirmou aos meios de comunicação social locais, antes de acrescentar que estes devem "comer bem, descansar bem e trabalhar arduamente".
A Associação Olímpica Indiana (IOA) formou um novo comité antidopagem no mês passado, depois de o país ter sido destacado pelo COI.
O governo indiano aprovou uma nova lei antidopagem que visa reforçar a aplicação da lei, facilitar e alargar os testes e "garantir os mais elevados padrões de integridade" no desporto.
"Obviamente, o COI quer ter a certeza de que, se os Jogos forem atribuídos a um país, o país anfitrião tem fortes políticas antidopagem e de governação", disse Michael Payne, antigo diretor de marketing do COI, à AFP.
A Agência Mundial Antidoping (WADA) coloca a Índia entre os países com maior índice de violações.
A Agência Nacional Antidopagem da Índia (NADA) insiste que os números refletem testes mais rigorosos num país com 1,4 mil milhões de habitantes.
Das 5.606 amostras recolhidas em 2023, 213 deram positivo.
De acordo com os especialistas, o esteroide estanozolol é a substância proibida mais utilizada pelos atletas indianos.
Fugir à pobreza
Apesar da sua dimensão e grande população, a Índia só ganhou 10 medalhas de ouro olímpicas na sua história.
Os especialistas apontam o desespero para escapar à pobreza como uma das razões pelas quais alguns atletas indianos estão dispostos a correr riscos com o doping.
O sucesso desportivo pode ser um caminho para empregos cobiçados no governo, na polícia ou no exército.
Proporciona-lhes segurança financeira para toda a vida depois de terminarem as suas carreiras desportivas.
"Os atletas estão conscientes de que podem ser sancionados, mas continuam a arriscar as suas carreiras", afirma o advogado Saurabh Mishra, que defende atletas em casos de dopagem.
O atletismo está no topo da lista de infracções por dopagem na Índia, à frente da luta livre, onde 19 lutadores foram recentemente sancionados.
Em julho, Reetika Hooda, um dos quartos de final da luta livre em Paris-2024, testou positivo e foi provisoriamente suspensa.
Mishra diz que alguns atletas são vítimas da ignorância e tomam substâncias proibidas através de suplementos ou medicamentos, mas muitos correm riscos conscientemente.
Por vezes, são os seus próprios treinadores que os incentivam a doparem-se.
Saranjeet Singh, especialista em medicina desportiva, salienta que o recente aumento do número de infracções se deve apenas ao facto de os testes se terem tornado mais rigorosos.
"Eles não conseguem atingir o nível de desempenho que desejam a nível internacional e usam drogas proibidas como um atalho", disse Singh à AFP.
Recuperar a credibilidade
A Índia está agora numa corrida para provar a sua credibilidade, uma vez que compete com a Indonésia, Turquia, Chile e Catar para os Jogos Olímpicos de 2036.
Payne salienta que muitos dos antigos anfitriões olímpicos também não se podem gabar do seu passado de dopagem.
Embora o doping seja um problema, não é o principal obstáculo para a Índia acolher os Jogos Olímpicos.
"A maior questão é a confiança na capacidade operacional global do país anfitrião, e a Índia tem muito trabalho a fazer nesse domínio", afirma Payne.
Refere-se aos Jogos da Commonwealth de 2010 em Nova Deli, que foram marcados pela corrupção.