Ryan Crouser não é tão conhecido como Armand Duplantis, que consegue bater um recorde mundial de cada vez que sai à rua. No entanto, o americano é o rei do lançamento do peso, uma disciplina que pode não ser muito glamorosa, mas que está no coração do atletismo. No jogo infantil de "quem sabe quem atira mais longe?", a resposta é 2,01m e 145kg.
Um recorde mundial melhorado em 44 cm
O peso não é complicado. Dá-se uma bola com 7,260 kg se for homem, 4 kg se for mulher, entra-se num círculo do qual não se pode sair e lança-se o mais longe possível. Enquanto o recorde feminino de 22,63 m, estabelecido pela soviética Natalya Lisovskaya em 1987, vem de um mundo separado por um muro, o recorde mundial masculino tem apenas dois anos. Em 2023, Crouser lançou o projétil a 23,56m. Em 2021, conquistou o recorde mundial de Randy Barnes, estabelecido em 1990 (23,12m).
Outrora apanágio dos americanos, a hegemonia dos Estados Unidos diminuiu em meados da década de 1970, quando o lendário Aleksandr Baryshnikov atingiu exatamente a marca dos 22 m em Colombes, a 10 de julho de 1976. Os alemães de Leste Udo Beyer e Ulf Timmermann melhoraram... 106 cm em 12 anos, com exceção da tarde levitante do italiano Alessandro Andrei, que bateu o recorde mundial... três vezes em 12 de agosto de 1987 em Viareggio (22,72 m, 22,84 m, 22,91 m).
Nos anos 90, os Estados Unidos regressaram em força a esta disciplina, batendo o recorde duas vezes em 1992 e 1996. E, apesar de Adam Nelson ter ficado em 2.º lugar em Sydney, em 2000, acompanhado por John Godina em 3.º lugar, este conquistou o ouro em 2004. Foram precisos mais 12 anos para que um americano chegasse ao topo do pódio, depois de o polaco Tomasz Majewski ter conseguido a dobradinha em 2008 e 2012. Nos Campeonatos do Mundo, desde a vitória de Godina em 1995, em Gotemburgo, os Estados Unidos venceram 11 das 15 vezes.
Excelência consistente
Durante quase uma década, o chefe foi Ryan Crouser. Campeão olímpico aos 23 anos no Rio de Janeiro, Crouser é um homem do campeonato. Recuperou o título em Tóquio e depois em Paris. A nível mundial, é detentor de um duplo título, em Eugene, no seu Oregon natal (2022), e depois em Budapeste (2023). E se foi derrotado por Joe Kovacs em 2019, em Doha, foi por... um infeliz centrimetro (22,91m contra 22,90m). Será que ele vai conseguir fazer três vezes seguidas?
Para dar uma ideia da sua consistência ao mais alto nível, o seu melhor desempenho do ano nunca foi inferior a 22,90 desde... 2018. E mesmo lançando a 22,52 m, estatisticamente o seu "pior", sagrou-se campeão olímpico em 2016. Com exceção de 2018, 2019 e 2022, Crouser foi sempre o número 1 do mundo.
Em 2023, o seu segundo classificado, Leonardo Fabbri, conquistou a prata por uma margem de 1,17 m. Com a vitória, Crouser juntaria-se ao suíço Werner Günthör, três vezes vencedor ininterrupto (1987, 1991, 1993) e o seu compatriota Godina (1995, 1997, 2001), cujo reinado foi interrompido por CJ Hunter, ex-Mr Marion Jones, que morreu em 2021 e é notório por seu envolvimento no caso BALCO.
Aos 32 anos, Crouser está a disparar para a glória e, para além de um terceiro título mundial, o seu último grande objetivo seria atingir os 24 metros para completar uma carreira majestosa e fazer dele o incontestado GOAT da disciplina.