Recorde as incidências da partida
Ricardo Vasconcelos (selecionador de Portugal):
“Estamos muito felizes hoje, porque finalmente conseguimos o que estávamos à procura. Toda a equipa precisava e queria uma vitória. É verdade que não chegou tão cedo quanto gostaríamos, porque tínhamos um sonho por algo mais, mas pelo menos fizemos história de novo. Estou muito orgulhoso das minhas jogadoras, elas trabalharam muito para chegar aqui e depois de chegarem acomodaram, lutaram de volta, melhoraram a cada jogo. É um grande dia para nós como um país de basquetebol.
Nós somos todos novatos nisto, mas conhecemos o jogo. Já sabíamos ao que vínhamos. Eu acredito que a equipa nem sempre teve discernimento pela ansiedade, obviamente.
O mais difícil na nossa campanha, e eu tive essa oportunidade de falar com elas sobre isto, é que eu não conseguia abdicar da ambição que tínhamos todos aqui. Foi por ser ambiciosos, foi por ser audazes, foi por acreditar que podíamos ir mais longe que chegámos aqui. Não nos podíamos render a ideia de só estar.
E tudo o que falámos foi que queríamos uma vitória e, quanto mais cedo ela viesse, mais podíamos sonhar. E eu senti que as jogadoras portugueses jogaram todos os jogos para ganhar e pressionaram-se.
Hoje acredito que a equipa foi mais do que ela é. Obviamente que o adversário também é mais frágil do que os outros dois adversários. Não está em causa, os outros também tiveram mérito em condicionar-nos. Mas as ideias eram mais claras, a equipa estava, do ponto de vista tático, mais disciplinada.
Acho que temos que fazer um balanço muito positivo do que se passou aqui. A equipa hoje apresentou um basquete bastante mais agradável, com mais certezas, menos dúvidas. E isso deu-nos a vitória que tanto queríamos, que era o nosso grande objetivo. Acho que a equipa mereceu este culminar. Não só pelo processo todo que nos trouxe cá, como pelo que fizemos aqui. Talvez o Montenegro merecesse tanto, mas mais não merecia.
A dois minutos do fim, sentei-me me disse para os meus adjuntos ‘rapazes, esta já não foge’. Porque quando nós perdemos algum discernimento no ataque, defensivamente continuámos tão coerentes, tão estáveis, com o plano de jogo tão claro, que elas continuavam a lançar em situações fora de timing, fora dos seus sítios. (...) Tiveram muitas dificuldades na estratégia que nós aplicámos, nunca jogaram cómodas. Sentimos que mesmo, ofensivamente, aqui e ali o jogo não fluiu, não foi tão bom como estávamos a fazer a espaços. Definitivamente continuávamos tão sólidos que, a dois minutos e trinta do final, disse que já não fugia e íamos ter a nossa tão desejada vitória, tão saborosa vitória.
O nosso futuro hoje é festejar. Portanto, o futuro começa amanhã. Porque hoje temos que festejar, porque a história foi vivida e não volta a ser repetida. Penso que o basquetebol em Portugal está a crescer. Eu acredito que o basquetebol feminino em Portugal tem um potencial incrível. Nós, nos últimos 10 anos, fomos três vezes a equipa que mais subiu no ranking da FIBA. E essas coisas não acontecem do céu, nem acontecem por sorte.
A equipa sénior tem um misto. Enquanto eu fui selecionador, e enquanto for selecionador, vou ter essa preocupação, de ter jogadoras muito experientes, jogadores do seu topo, no seu ‘prime’, como gostam tanto de dizer, e jogadoras jovens. E esta seleção apresentou-se aqui com essa estrutura".
Sofia da Silva (jogadora de Portugal):
“Nós tínhamos outras expectativas, não foi possível, mas os objetivos que nós tínhamos se não conseguíssemos um, íamos tentar outro, que era uma vitória e estou muito feliz pelo trabalho de toda a equipa. Emocionada também, porque não sabemos o que é que vai acontecer daqui para a frente. Estou um bocado com um misto de emoções.
Queria também dar um muito obrigado a todas as pessoas que estiveram aqui a apoiar-nos estes dias. As pessoas que estiveram em Portugal também a dar a máxima força. Estamos felizes porque afinal não é o trabalho cumprido como queríamos, mas pelo menos podemos dizer que Portugal só tem uma vitória no seu primeiro Eurobasket e esperamos que nos próximos venham muitas mais.
Acho que hoje nos soltámos um bocadinho mais, jogámos mais em equipa, mostrámos a nossa identidade e isso foi o que nos levou à vitória. Também jogámos contra uma grande equipa, é verdade, desfalcadas como nós, mas também deram o máximo.
(Futuro do basquetebol está garantido) Espero que sim, espero que as que não estiveram cá tenham acompanhado e vejam também o que nos falta para poderem trazer à nossa seleção e sim, isto continua. Nós também quando éramos mais jovens tínhamos as veteranas e isto é um comboio que vai passando e as que estamos cá tentamos deixar uma mensagem de que é importante seguir e dar sempre o máximo pelas cores de Portugal.
(Outro Eurobasket?) Veremos, veremos. Se tiver capacidade mental, fisicamente encontro-me bem mas se tiver capacidade mental para continuar, possivelmente seguirei, mas tenho de sentar e pensar ainda.
Estou satisfeita, porque sou uma pessoa muito emocional. Às vezes saio do jogo e isso às vezes também afeta as minhas companheiras e acho que tive uma prestação sólida nesse sentido emocionalmente acho que estive bastante bem, estou satisfeita nesse sentido. Os números, eu nunca falo disso e não vai ser hoje também”.
Maria João Correia (jogadora de Portugal):
“Acho que é tudo uma questão de perspetiva, é verdade que nos outros jogos, em geral, as coisas não saíram como queríamos, porque também as outras equipas trabalham fazem scouting e sabem e fizeram um excelente trabalho. Hoje nós vínhamos aqui com o objetivo de acabar isto bem, de levar a vitória para Portugal e acho que fizemos um excelente trabalho, voltámos a ser nós. Se calhar as emoções que sentimos ao longo destes dias não nos deixaram ser nós antes, mas só tenho de estar orgulhosa e acho que estamos todas orgulhosas deste trabalho e da vitória que conquistámos hoje.
Acho que hoje viu-se o nosso jogo alegre finalmente, acho que desfrutamos umas das outras de que não fosse só uma a fazer algo especial, fizemos todas algo especial.
No fim do quarto período, eu estava no banco e quando entrei o Ricardo (Vasconcelos) disse que estava feito e aí eu pude respirar finalmente e aí já estava feito no fim do jogo. Quando controlas o jogo consegues saber até que ponto o jogo está feito ou não, mas às vezes cantar antes vitória não é inteligente.
Eu tento sempre a jogar esta equipa ao máximo e nem sempre é metendo tantos pontos ou acho que tenho outras virtudes e que posso ajudá-los noutro sentido. Sei que às vezes é preciso meter esses pontos. Hoje fui a Maria, vim descontraída com as emoções no sítio e acho que consegui desfrutar disso. Nos outros dias era difícil, porque era difícil gerir as emoções, gerir essa ansiedade de ganhar, de querer muito fazer as coisas bem e acho que isso acabou por pesar um bocadinho.
Na história de Portugal nós já entrámos há algum tempo, mas não vivemos do passado e acho que essa vitória é realmente importante para o país, para nós e espero que as pessoas estejam orgulhosas, porque realmente não posso estar mais orgulhosa desta equipa”.
Josephine Filipe (jogadora de Portugal):
“Há muitas emoções. O lema do Europeu é ‘ousem sonhar’ e acho que a nossa equipa representa isso. Somos um país pequeno, mas somos fortes.
Acho que quem acompanhou esta equipa e quem viu o que aconteceu em Coimbra (onde se apuraram) sabe o quão especial e o quão difícil foi chegar a esse ponto. Chegámos aqui a saber que não tínhamos nada a perder. Foi acreditar no nosso trabalho e voltar a ser a equipa que fomos em Coimbra. E acreditar que nós tínhamos capacidade para conseguir o que conseguimos hoje. Acho que nós merecemos esta vitória.
O meu balanço dos três jogos foi bastante positivo. Nós temos de ter noção que jogámos contra a campeã em título, elas vêm com uma missão, que é defender o título. Contra a equipa anfitriã, que é uma equipa que tem muita história também a jogar campeonatos da Europa. E mesmo Montenegro é uma equipa que já esteve aqui, nós somos as mais ‘rookies’. Até Suíça já esteve aqui. E acho que eu faço um balanço positivo, principalmente com o grupo que nós temos. Não sei se se nota, mas é uma família que nós temos".