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Basquetebol: A máquina de fazer dinheiro da NBA volta a arrancar na China

Uma bola da NBA na China
Uma bola da NBA na ChinaEduardo Leal / AFP

Após seis anos de ausência, a NBA regressou esta semana à China e, para além de apresentar algumas das suas estrelas num jogo de pré-época, o que a liga norte-americana de basquetebol profissional procura é consolidar a sua marca neste mercado gigantesco.

Na sexta-feira, milhares de pessoas assistiram em direto na Venetian Arena, em Macau, à vitória dos Phoenix Suns, liderados pelo quatro vezes All-Star Devin Booker, contra os Brooklyn Nets.

Entre os presentes, na primeira fila, estiveram celebridades como o ator Jackie Chan, o fundador da Alibaba Jack Ma e o antigo futebolista inglês David Beckham.

Umas horas depois, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma tarifa adicional de 100% à China, num contexto de tensão entre ambos os países, sobretudo a nível comercial.

Visitas de estrelas para promover marcas

Pese embora tudo, a NBA e as suas estrelas não deixam passar a oportunidade de visitar a China, principal mercado internacional da liga, para fazer negócios. LeBron James e Stephen Curry visitaram o país asiático este ano para promover as suas marcas.

"Todos viram quando James Harden foi à China (em 2023) vender o seu vinho e esgotou tudo em 60 segundos. Coisas assim... inspiram novas ideias", afirma Michael Lin, vice-presidente da agência digital desportiva Mailman.

Nos arredores da Venetian Arena foram expostos os parceiros comerciais chineses da NBA, como o gigante do comércio eletrónico Alibaba, a aplicação de vídeos Kuaishou e o gigante dos lacticínios Mengniu.

Também produtos dirigidos a consumidores mais jovens, como a Fanatics Collectibles, uma empresa especializada na comercialização de cartas colecionáveis das ligas norte-americanas.

"Queríamos mesmo vir cá e deixar uma impressão... Era muito importante conseguir uma ampla distribuição do produto", explicou à AFP David Leiner, presidente da empresa, que recentemente começou a comercializar cromos da NBA específicos para os adeptos chineses.

Décadas de negócios

A China tornou-se um mercado prioritário para a NBA no início dos anos 2000, coincidindo com a chegada à liga do "herói nacional" Yao Ming.

Mark Fischer, antigo diretor-geral da NBA no país asiático, afirmou que o impacto da liga na China estava avaliado em 2,3 mil milhões em 2008. Uma década depois, o valor tinha subido para 4 mil milhões.

Em 2019, a NBA assinou um acordo avaliado em 1,5 mil milhões com o gigante tecnológico Tencent pelos direitos exclusivos de transmissão online.

Mas, nesse mesmo ano, este negócio florescente ficou em suspenso quando um executivo dos Houston Rockets chamado Daryl Morey publicou no Twitter uma mensagem de apoio aos manifestantes pró-democracia de Hong Kong, provocando uma disputa que levou Pequim a cortar qualquer relação com a NBA.

O regresso da NBA a Macau, uma região chinesa que goza de uma administração especial, é sinal de que Pequim está a "abrir uma porta lateral, mas ainda não a porta principal nem muito menos uma passadeira vermelha", segundo Fischer.

Para garantir que não cometem nenhum erro, os Suns contrataram para esta digressão a mesma empresa de marketing que IShowSpeed, um famoso criador de conteúdos, utilizou durante uma recente visita à China.

"Trabalhamos tão diretamente com eles (os Suns) que até estamos a filmar os jogadores a comer pastéis de lua, certificando-nos de que é utilizada a terminologia correta entre Ano Novo Lunar e Ano Novo Chinês", explicou Andrew Spalter, fundador e diretor executivo da empresa de marketing digital East Goes Global.

Os Nets, propriedade do presidente da Alibaba, Joseph Tsai, têm uma equipa interna para redes sociais chinesas.

Forçados a autocensurarem-se?

Para Victor Cha, especialista em geopolítica do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, a China tem um enorme poder de influência na NBA, ao ponto de aproveitar o seu enorme mercado para obrigar as empresas a autocensurarem-se.

"Sabemos o quão rápido as coisas podem sair do controlo... Não se trata sequer de um jogador individual da NBA, mas de qualquer pessoa associada à marca", afirmou, sob condição de anonimato, um especialista em marketing desportivo na China.

O especialista recordou que o famoso tweet de Morey demorou apenas alguns minutos a desencadear uma onda de indignação nas redes sociais.

Mas controlar todos os que estejam relacionados com a NBA é missão impossível.

Na quinta-feira, o proprietário dos Dallas Mavericks, Patrick Dumont, assistiu a uma demonstração da Alibaba Cloud, uma tecnologia de inteligência artificial capaz de traduzir no momento os comentários dos jogos da NBA do inglês para chinês e vice-versa.

Dumont perguntou se podia dizer o que quisesse ao ser convidado a ler em voz alta um texto para ser traduzido.

"Tecnicamente pode dizer o que quiser, mas isto seria o mais sensato", admitiu o promotor do evento, apontando para o texto impresso num ecrã.