Nash foi um dos mais produtivos bases da sua geração e, apesar do seu tamanho "diminuto" para a NBA, com 1,91 metros de altura, não o impediu de ser nomeado duas vezes MVP da liga, um feito ainda mais impressionante se tivermos em conta que foram duas vezes seguidas.
O hall of famer inspirou muitos que não se enquadravam no estereótipo de um jogador moderno e um desses, que agora está a fazer furor, é a estrela eslovena Luka Doncic. A troca dos Dallas Mavericks para os LA Lakers foi um fez cair o queixo em janeiro e apanhou o próprio Nash de surpresa.
"Acho que toda a gente ficou chocada. É evidente que fizeram um trabalho incrível, especialmente na era atual em que é preciso manter o silêncio. Isso muda definitivamente o panorama da NBA e da Conferência Oeste. E até mesmo dos próximos 10 anos, com um dos melhores jogadores a ir para os Lakers", explicou.
"Temos um jovem jogador a entrar no seu auge e esperamos que fique lá durante um mínimo de cinco a 10 anos. Essa é a parte mais difícil da equação, porque, independentemente do que aconteça, a sorte está envolvida em todas estas coisas, mas conseguir uma estrela da sua qualidade na sua idade é notável para os Lakers", acrescentou.
Desde que se mudou para os Lakers, Doncic tem tido impacto, com cinco vitórias nos últimos cinco jogos. Os números individuais estão ligeiramente abaixo das estatísticas do seu tempo em Dallas, esta época. Mas Nash acredita que, apesar da melhoria na forma do Lakers, essa troca não os torna automaticamente favoritos para ganhar tudo nos playoffs.
"Têm uma chance. Abriram a porta para serem candidatos, mas há muita coisa que precisam resolver. Estão apenas a começar a jogar juntos. Temos dois jogadores que são bastante semelhantes. LeBron (James) e Luka, ambos são jogadores ofensivos que criam jogadas. São como que bases-extremos. Por isso, é preciso tentar encaixar todas essas peças e que a defesa seja sólida", apontou o ex-Laker.
"Eles estão um pouco magros na posição de poste, mas têm uma grande dimensão posicional. Estou muito interessado em ver, e acho que definitivamente podem entrar na disputa, mas acho que é muito cedo para dizer isso quando ainda não vimos a equipa pelo menos por algumas semanas para ver alguma luz, alguma compreensão, alguma conetividade, mas há uma chance. Eu penso assim, isso subestima o quão difícil é, num curto espaço de tempo, encontrar essa ligação, essa comunhão, essa compreensão e essa forma de jogar", continuou.
Deixar o jogo
Para além de jogar nos Lakers, Nash teve as épocas de maior sucesso nos Phoenix Suns - o local onde ganhou os dois prémios MVP. Depois de se retirar, o célebre jogador não abandonou o desporto, tendo assumido cargos na seleção canadiana e nos Golden State Warriors antes de se tornar treinador principal dos Brooklyn Nets.
Nunca afastado das quadras, Nash valorizou o tempo que passou dentro da organização dos Warriors, enquanto se distanciava dos seus dias de jogador.
"Gostei muito de ver, ouvir, partilhar e ajudar sempre que me foi pedido. Foi uma grande oportunidade para mim ver um momento especial na nossa liga, em que uma equipa começou a jogar small ball (cinco jogadores de estatura baixa), a lançar mais triplos e a ter uma grande influência no desporto. Foi sem dúvida uma experiência incrível para mim, com aquele grupo de pessoas", indicou, sobre o tempo nos Golden State Warriors.
"Mas, mais uma vez, como disse, quando se trabalha com seres humanos incríveis, a experiência é melhor e o potencial é maior, porque o carácter é essencial para o desenvolvimento, o crescimento, a melhoria e a adaptação. Por isso, eles tinham definitivamente esse tipo de confiança humilde para continuarem a adaptar-se e a enfrentar quaisquer que fossem os seus desafios", vincou,
Uma das estrelas dessa equipa continua a ser Steph Curry. O tetracampeão da NBA tem sido um dos ícones do desporto nos últimos 15 anos e, aos 36 anos, mostra poucos sinais de abrandamento. Nash, que trabalhou com Curry durante o seu tempo nos Warriors, acha que Curry, apesar de todos os elogios que recebeu ao longo dos anos, ainda não é tão elogiado quanto deveria.
"De certa forma, ele é subestimado. O seu impacto no jogo, a forma como foi capaz de ser MVP e campeão de uma forma diferente, com uma percentagem elevada de lançamentos impossíveis, a forma como influencia as defesas mesmo quando não tem a bola, é notável. Ao mesmo tempo, não é fisicamente imponente como alguns dos outros grandes jogadores. Sabe, ele não mede 2 metros, como Magic (Johnson) ou (Larry) Bird. Não é um base dominante de 2,13m como alguns que tivemos", disse, sobre o lugar de Curry entre os grandes jogadores da história.
"E não é um atleta explosivo de elite como Michael Jordan ou Kobe. Por isso, é difícil dizer onde é que se situa, mas posso dizer que o seu impacto está muito, muito acima de quase todos os que já jogaram. Acho que o facto de ele maximizar o seu talento é simplesmente incrível".
Lendas europeias
Nash não é o típico jogador da NBA em mais do que apenas a sua altura. Nascido na África do Sul e criado no Canadá com um pai britânico, Nash tem uma das histórias mais singulares do desporto. Juntamente com Doncic, um esloveno, há muitos jogadores não norte-americanos a fazer sucesso no desporto.
Jogou ao lado de Dirk Nowitzki - um poste nascido na Alemanha - em Dallas. Nowitzki foi considerado um pioneiro na passagem basquetebolistas europeus para a NBA e uma inspiração para jogadores como Doncic e o atual MVP Nikola Jokic. Tendo sido colega de equipa de Nowitzki, Nash acredita que o Dunking Deutschman criou um legado determinante na liga.
"Ele teve uma grande influência sobre os jogadores europeus ou estrangeiros, mas também sobre o jogo em geral, é um dos principais responsáveis pela revolução de ter cinco (bons) lançadores em campo. Estas coisas foram em parte cimentadas pelo seu sucesso em mostrar a uma geração que não é preciso encaixar no perfil posicional tradicional. Quando chegou à liga, toda a gente pensou 'bem, tem 2,15m, que não se consegue posicionar muito bem, mas pode lançar, tanto junto ao cesto, como de meia distância, como do cotovelo. Consegue jogar de um para um e fazer sempre um lançamento de curta ou média distância'. Era um finalizador (de jogos) incrível", opinou sobre o antigo colega de equipa.
"Também era uma forma diferente de fechar os jogos, com um jogador como ele, que não estava no poste ou no perímetro, mas que ocupava espaços de meia distância e conseguia isolar-se e olhar por cima da defesa. Fazia-nos inclinar para um lado ou para o outro, estava no ar e o lançamento era tão alto que era devastador. Ele teve um grande impacto no jogo. E influenciou definitivamente muitos jovens jogadores, especialmente os mais altos, que talvez não se sentissem confortáveis no poste e o que aconteceu agora. Já não jogamos debaixo do cesto, a não ser para uma, duas ou três pessoas ou que haja uma desvantagem", continuou.
A ligação ao Tottenham
Desde que deixou as quadras, Nash tem estado ocupado também noutros desportos. Fã de longa data do Tottenham Hotspur, tornou-se também coproprietário do Real Maiorca, clube da LaLiga Seguir os Spurs proporcionou-lhe momentos para recordar ao longo da carreira, mas como é que se comparam emocionalmente?
"Chorei na televisão norte-americana quando os Spurs venceram o Ajax nas meias-finais da Liga dos Campeões, o que foi embaraçoso. Não sei se se lembram do jogo, o Lucas Moura marcou um hat-trick para dar a volta à primeira mão em Amesterdão. E, sabem, a natureza dramática da situação, honestamente, eu adoro, adoro o meu clube, mas nunca pensei ver os Spurs numa final da Liga dos Campeões" confessou.
"E, por isso, consegui-la de uma forma dramática como aquela, também foi nostálgico para o meu pai, o meu irmão, o meu avô, os meus primos, o que significa e como nos ligou a todos durante 50 anos. Foi muito emotivo nesse aspeto, mas nunca pensei ou nunca tive consciência de como nos iríamos sentir, porque é uma coisa que nos liga a todos ao longo da nossa vida. Por isso, sim, fiquei bastante emocionado", continou.
"Na NBA, fica-se emocionado uma ou duas vezes por não conseguir chegar às finais, por perder nas finais da conferência, por sentir que se desiludiu a equipa como líder e por não encontrar uma solução, nem sequer para jogar bem, mas por não encontrar uma solução de todo. E isso também pode ser bastante emotivo. Por isso, sim, viva o desporto, é fantástico", finalizou.
Ouça a entrevista completa com Nash aqui.