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NBA: Classe do draft de 2024 com dificuldades em convencer

Jaylen Wells e Jared McCain, candidatos a ROY por defeito?
Jaylen Wells e Jared McCain, candidatos a ROY por defeito?Imagn Images / ddp USA / Profimedia
Pela primeira vez em muitos anos, o draft de 2024 não correspondeu às expectativas. Com cabeças de cartaz pouco convincentes, poucas surpresas e um nível em declínio, é difícil imaginar um futuro brilhante para a maioria dos rookies ("novatos").

Os primeiros prémios da época foram recentemente divulgados, incluindo a primeira escolha para rookie do mês na NBA. Os vencedores são Jared McCain, na Conferência Este, e Jaylen Wells, na Conferência Oeste. Por outras palavras, o nr.º 16 e o nr.º 39 do draft, respetivamente. Duas surpresas em termos absolutos, nomeadamente o primeiro, que é o melhor marcador da classe de 2024 e o único jogador até agora com uma média superior a 13 pontos por jogo (16,1).

O bom início de carreira deve-se, no entanto, a uma combinação de circunstâncias, já que a sua equipa, os 76ers, foi dizimada por lesões, o que lhe deu, sem dúvida, mais tempo de jogo do que o esperado, mas Philly, que venceu apenas 5 dos primeiros 20 jogos, não beneficiou da sua contribuição.

Depois do efeito Victor Wembanyama, o draft de 2024 da NBA não tem um cabeça de cartaz tão vistoso como o Alien. Mas, ensanduichada entre as edições Wemby, de 2023, e Cooper Flag, outro fenómeno que deve chegar em 2025, esta edição tem todas as condições para ser a pior em muitos, muitos anos.

De facto, quando se olha para a lista dos últimos dez Rookies Of the Year ("Novatos do Ano"), o único nome que parece fora do sítio é Malcolm Brogdon (e mesmo assim ganhou o prémio de 6.º Homem do Ano). É também o único jogador que não foi All-Star, juntamente com Wembanyama (difícil imaginar que não o seja este ano). Mas, acima de tudo, durante o ano de estreia, cada um destes nomes mostrou potencial para se tornar uma futura estrela, um verdadeiro rosto da liga.

Grandes nomes no plantel.
Grandes nomes no plantel.StatMuse

Não se trata apenas de uma questão de estatísticas, mesmo que, no geral, essa parte não seja nada convincente. Numa NBA cada vez mais focada no ataque, apenas seis rookies conseguiram marcar pelo menos 25 pontos num jogo. Os 37 pontos de Dalton Knecht contra os Jazz são o maior destaque, até porque joga nos Lakers, mas não fez mais nada de transcendente até agora.

Nenhum novato teve uma média superior a 8 ressaltos ou 5 assistências por jogo. Acima de tudo, o papel da maioria ainda não está definido, pois nenhum joga mais de 30 minutos. Alguns são titulares, como Wells em Memphis, mas estão em equipas em processo de reconstrução ou a beneficiar de numerosas lesões. O resultado é uma impressão desagradável de que alguns estão lá principalmente para fazer número.

E se nos concentrarmos no Top-5, os resultados são francamente frustrantes. Zaccharie Risacher, a escolha número um, ainda não descartou completamente a concorrência de De'Andre Hunter. Apesar de alguns lampejos de brilhantismo, a principal desvantagem de Alexandre Sarr, segunda escolha, são as percentagens horríveis em Washington, enquanto Reed Sheppard, terceira escolha, tem sido um jogador de rotação em Houston. 

Ron Holland II, quinta escolha, não encontrou o seu lugar em Detroit, e apenas Stephon Castle, quarta escolha, tem tido um desempenho honroso em San Antonio, ajudado pela orientação de Chris Paul.

Se quisermos comparar com as edições anteriores, temos de evitar as épocas em que há um (ou mais) jogadores muito aguardados. O problema é que não tem havido nenhum nos últimos anos. É compreensível, uma vez que a escolha de Zaccharie Risacher no primeiro lugar não é de destaque.

Em épocas anteriores, tivemos superestrelas antes de sequer aterrarem na liga (Luka Doncic e Trae Young em 2018, Zion Williamson e Ja Morant em 2019, Wembanyama em 2023), hesitações entre duas grandes promessas (Anthony Edwards e James Wiseman em 2020, Paolo Banchero e Chet Holmgren em 2022), ou uma colheita francamente homogénea (Cade Cunningham, Jalen Green, Scottie Barnes e Evan Mobley em 2021). De todos estes nomes, apenas Wiseman pode ser visto como um fracasso.

Mas errar é uma coisa, e não vamos começar a enumerar as recentes escolhas desastrosas no draft (até porque Marvin Bagley III já deve estar cansado disso). A principal sensação quando se olha para esta classe em campo é que não tem o famoso rótulo de "NBA Ready".

Jogadores que estão a terminar a sua formação, e que sabemos que ainda não estão preparados para as responsabilidades inerentes à sua classificação no draft. O facto de nenhum membro do top-5 (ou mesmo do top-10) estar diretamente instalado como titular indiscutível é altamente significativo.

Por isso, não é de surpreender que jogadores como Jared McCain, Jaylen Wells, Dalton Knecht, Yves Missi, Kyle Filipowski e Ryan Dunn estejam a ser analisados de perto e até elogiados. Todos foram recrutados depois do 15.º lugar, por isso já provaram ser boas escolhas. Será isso p suficiente para ter uma carreira a sério? Alguns jogadores nesta posição no draft de 2023, como Jaime Jaquez Jr e Brandin Podziemski, já se alinharam neste início da época. No entanto, ninguém abaixo do quarto lugar da escolha do draft ganhou o Rookie Of The Year desde... Malcolm Brogdon em 2017.

E mesmo assim, a escolha nr.º 1 do draft em 2016, Ben Simmons, teve uma priemira época em branco (devido a lesão) e levou para casa o prémio de Novato do Ano na época seguinte. A classe era tão fraca que um certo Joel Embiid, que entrou em campo após mais de dois anos e meio afastado por lesão, e com apenas 31 jogos, foi finalista do troféu nessa época. Mesmo assim, essa classe incluía alguns nomes de peso, como Jaylen Brown, Brandon Ingram, Domantas Sabonis, Jamal Murray e Pascal Siakam. Mas, na altura, a impressão era de que eram talentosos, mas ainda demasiado verdes para o grande momento.

A mesma impressão que esta época, mas sem o talento. A NBA evoluiu, e tudo gira em torno dos lançamentos exteriores, mas apenas um (Knecht) está acima dos 40% de três pontos. No que diz respeito à True Shooting Percentage ("Percentagem de Tiro Verdadeiro"), mais uma vez, o Laker é o único a ter mais de 60%. Mas ainda tem muitas lacunas no seu jogo e não é titular indiscutível, apesar de ser um dos favoritos ao prémio de Rookie Of The Year.

E esse é o problema: neste momento, os novatos favoritos ao prémio só o são por causa de alguma forma de hype (caso de Knecht), ou por causa de uma combinação de fatores que devem acabar (McCain), ou por causa de uma consistência exibicional sem desenvolvimento ao mais alto nível (Wells). Ninguém é verdadeiramente superior, e é claro que ainda há tempo para explodir.

Mas não se consegue ver uma futura estrela no grupo, e é com base em estrelas que a NBA é construída. Se nenhum grande talento se revelar, este ano não ficará na história...