NBA: Os Sacramentos Kings preparam-se para mais uma época de desilusão

O futuro apresenta-se complicado para os Kings.
O futuro apresenta-se complicado para os Kings.Photo par EZRA SHAW / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP

Penúltimos na Conferência Oeste, os Sacramento Kings iniciam mais uma temporada que dificilmente ficará na memória. Tal como tem acontecido nas últimas duas décadas da franquia.

Os Sacramento Kings. Estabelecidos desde 1985 na capital da Califórnia, viveram o último grande momento de glória no início do século XXI. Uma final de conferência inesquecível em 2002, perdida no jogo 7 frente aos eternos rivais, os Los Angeles Lakers, num contexto de erro de arbitragem e trashtalking. Uma série de play-offs que todos deviam ver pelo menos uma vez na vida. 

Foi uma era dourada para a equipa, que então fazia parte da elite da NBA. Em 2026, o cenário é oposto: os Kings são alvo de chacota por vários motivos, só participaram numa campanha de play-offs desde 2006, terminaram apenas duas épocas com saldo positivo desde então e, mais uma vez, tudo indica que caminham para um novo desastre. 

Desmontar tudo

Oito derrotas consecutivas. É este o registo atual dos Kings. A mais recente, esta noite, pode ainda trazer consequências pesadas. Sacramento perdeu por 41 pontos em Memphis, que não contou nem com Ja Morant, nem com Jaren Jackson Jr. Um autêntico naufrágio.

Por isso, há alguns dias começaram a surgir os primeiros rumores de desmantelamento do plantel. Praticamente todos estariam disponíveis para transferência. E a verdade é que os Kings têm alguns jogadores que podem interessar a equipas candidatas ao título. Domantas Sabonis, apesar das suas limitações defensivas, será o principal trunfo. DeMar DeRozan, ainda à procura de um título, também. O antigo 6th Man Of the Year, Malik Monk, também tem mercado.

No entanto, há vários obstáculos. O principal, como quase sempre, é o dinheiro. Zach LaVine aufere quase 46 milhões de dólares, com uma player option de 49 milhões para a próxima época (que irá certamente acionar). No caso de Sabonis, restam-lhe três anos de contrato, cada um acima dos 40 milhões por temporada. A reconstrução da equipa passará prioritariamente pela saída destes dois jogadores. 

O problema é que, para já, não há grande procura. Sabonis está lesionado por algumas semanas e tem estado longe de convencer desde o início da época. Quanto a LaVine, o salário é um entrave, tal como o seu rendimento e a irregularidade crónica desde o início da carreira. Dá para questionar porque é que os Kings decidiram contratá-lo no último inverno...

Como desperdiçar um draft

... porque são os Kings, simplesmente. Para lá de uma piada já assumida, são 20 anos de decisões incompreendidas. E sobretudo na draft. Sacramento teve vários picks no Top 10 nos últimos 15 anos, mas só DeMarcus Cousins e De'Aaron Fox atingiram realmente um nível elevado. O primeiro esteve sempre em conflito com a equipa, o segundo foi sacrificado para... Zach Lavine. 

Apesar disso, os Kings por vezes acertaram. Como com Isaiah Thomas, escolhido na 60.ª posição do draft de 2011, despachado ao fim de três anos, antes de se tornar all-star e terminar em 5.º na corrida ao MVP. Ainda pior foi o caso de Tyrese Haliburton. Escolhido na 12.ª posição do draft de 2020, com potencial reconhecido por todos, nem chegou a cumprir duas épocas em Sacramento, sendo trocado para Indiana em troca por... Domantas Sabonis! É mesmo um ciclo vicioso. 

Assim, dos 21 jogadores escolhidos entre 2017 e 2024, para nos cingirmos a um período recente e não falar da última draft, só Devin Carter e Keegan Murray permanecem no plantel. Numa era em que as equipas de topo são construídas com inteligência, passo a passo, isto não ajuda a afirmar-se entre os grandes. Tal como não ajuda ter tido 13 treinadores nas últimas 19 épocas. 

No entanto, em 2023, o regresso em força foi aplaudido. Uma temporada marcada por um surpreendente 3.º lugar na selva do Oeste, antes de cederem no jogo 7 da primeira ronda frente aos Warriors, sendo que foi preciso um jogo de 50 pontos de Steph Curry para eliminar os Kings. Após 16 épocas sem play-offs, era a oportunidade perfeita para construir a partir dessa base promissora. 

Não é certo que o sol volte a brilhar

Dois anos depois, tudo está por refazer. E, no entanto, os Kings mostraram ambição ao contratarem no verão de 2024 DeMar DeRozan, um veterano fiável, para dar o salto. Nada disso se concretizou, e Sacramento não encontrou melhor solução do que reunir novamente o duo DeRozan - LaVine, que não levou Chicago além da primeira ronda dos play-offs. Fica a dúvida se o departamento de scouting vê os jogos. 

É de prever, ainda assim, que o plantel acabe mesmo por ser desfeito. Mas para quê? Os Kings continuam a ter as suas escolhas de draft, mas se recuarmos à equipa forte do início do século, ela não foi construída dessa forma. Nenhum dos jogadores principais da altura, de Chris Webber a Peja Stojakovic, de Vlade Divac ao atual treinador Doug Christie, foi escolhido pelos Kings na draft. E, perante os fracassos recentes, é difícil acreditar num projeto a longo prazo. 

No entanto, falamos de uma cidade situada num dos estados mais atrativos dos Estados Unidos, a Califórnia. A equipa deveria ser um destino de sonho para free agents e caçadores de anéis. Mas os Kings são vítimas da sua reputação, e todos concordam que Vlade Divac foi o maior free agent alguma vez contratado pela equipa. Nos tempos mais recentes, o maior nome que Sacramento conseguiu atrair foi Malik Monk. Uma colheita bastante pobre. 

Com poucas perspetivas na draft ou na free agency: o futuro não sorri a Sacramento. Talvez por falta de ambição, ou por um diagnóstico realista, a verdade é que esta equipa caminha para mais uma época difícil e para uma nova mudança de rosto. Mas o desfecho mais provável é que continue longe dos objetivos, como tem acontecido desde o seu único título em 1951, quando ainda estava sediada... em Rochester...