“O Boavista FC considera inaceitável e infame que a formação, base social, educativa e desportiva do futebol, seja prejudicada pela incompetência e incumprimento do futebol profissional, situação que afeta inúmeros clubes e que desvirtua o papel formativo essencial que deveria ser protegido pelo sistema desportivo nacional. O Boavista recusa ser cúmplice de uma situação que fere a verdade desportiva e a dignidade da instituição”, vincou o emblema do Bessa, em comunicado, já depois de ter formalizado a desistência.
Igualmente em comunicado, a AF Porto revelou que o Boavista abdicou de competir na Série 5, após um pedido efetuado junto do organismo, cujo Conselho de Disciplina tinha aberto em 21 de outubro um processo ao clube, que se arriscava a ser desclassificado.
“Até à data, a Boavista SAD não comunicou ao clube fundador e acionista o seu projeto desportivo para a época em curso, nem apresentou qualquer plano de regularização dos impedimentos ou cumprimento das obrigações assumidas”, reiterou o clube, detentor de 10% do capital social da SAD, que deveria disputar a Liga 2 em 2025/26, mas deixou de ter uma equipa profissional no verão e foi relegada para as divisões distritais portuenses.
O clube já não estava inscrito na Taça da AF Porto e desiste agora do campeonato sem ter competido em 2025/26, ao contrário da SAD, 18.ª e última classificada do primeiro escalão distrital, com um ponto, volvido um empate e quatro derrotas em cinco jornadas.
“Ao longo dos últimos meses, foram formuladas promessas reiteradas que se verificaram incumpridas, tornando insustentável a relação institucional entre o clube e a SAD no domínio do futebol profissional”, admitiu o clube, solidário com as dívidas da sociedade ‘axadrezada’, que tem seis impedimentos de inscrição de novos jogadores junto da FIFA.
A SAD liderada pelo senegalês Fary Faye tem alinhado com antigos e atuais atletas da respetiva equipa de sub-19, da II Divisão nacional daquele escalão, e continua a tentar resolver as restrições da FIFA - duas incidem sobre três períodos de inscrição e quatro têm duração ilimitada -, que tinham vigorado em anos anteriores e reapareceram em março, impossibilitando, para já, a utilização dos reforços oficializados durante o verão.
“Nas últimas semanas, ficou comprovado que os impedimentos não foram resolvidos e até se agravaram, comprometendo totalmente o nosso projeto desportivo. Perante esta realidade, o clube não pode continuar a pactuar com uma situação prolongada para além de qualquer limite aceitável”, prosseguiu, notando que, nas camadas jovens, a inscrição da equipa de sub-16 foi cancelada e os sub-15 e sub-17 atuam em condições limitadas.
O clube tinha lançado no verão uma equipa sénior independente da SAD, afetada pela ausência de pressupostos financeiros aquando do licenciamento para as competições nacionais e cujo direito de apresentar um plano de recuperação foi aprovado por maioria pelos credores, que votaram por unanimidade a continuidade da atividade axadrezada.
“Ao fim de 24 anos (desde a criação da SAD), considerou-se essencial restituir aos sócios uma equipa sénior verdadeiramente representativa do Boavista, registada em seu nome e em conformidade com os princípios e valores que o norteiam há 122 anos”, disse o clube de Rui Garrido Pereira, que teve a sua liquidação aprovada em assembleia de credores.
Despromovido à Liga 2 em maio, após fechar a edição 2024/25 da Liga no 18.º e último lugar, o Boavista concluiu um trajeto de 11 épocas consecutivas no escalão principal, e é um dos cinco campeões nacionais da história, face ao título conquistado em 2000/01.
“A direção quer deixar a garantia de que permanecerá empenhada em retomar tão cedo quanto possível a atividade da equipa sénior de futebol, de modo a assegurar que o Boavista possa iniciar a caminhada de volta aos palcos maiores do futebol português e europeu”, afiançou.
