Mais

Bruno di Benedetto: "Queremos ser campeões com França, mas nos clubes não há irmãos dentro de pista"

Bruno di Benedetto atua na Oliveirense enquanto os irmãos Carlo e Roberto representam FC Porto e Benfica
Bruno di Benedetto atua na Oliveirense enquanto os irmãos Carlo e Roberto representam FC Porto e BenficaUD Oliveirense Hóquei

Bruno di Benedetto, de 27 anos, é internacional francês e chegou à Oliveirense na temporada passada. Em entrevista a Bruno Marques, do Flashscore, recorda os primeiros passos na modalidade ao lado dos irmãos Carlo e Roberto, que atuam no FC Porto e no Benfica, a rivalidade familiar, o nível do campeonato português e as ambições pessoais que o levam a querer ser sempre melhor e levar um troféu internacional para um país habituado a estar na sombra dos gigantes Portugal e Espanha.

- Boa tarde Bruno, muito obrigado por teres aceitado o convite. Começo por perguntar como é que surgiu o hóquei em patins na tua vida e se os teus dois irmãos, o Roberto (atualmente no Benfica) e o Carlo (atualmente no FC Porto), tiveram alguma influência na decisão?

Não, a verdade é que a minha mãe é espanhola, conhecia o hóquei em patins do Liceo da Corunha, vivíamos em Paris, queria que fizéssemos muitos desportos. Passou num pavilhão, viu que havia treinos de hóquei, gostou porque lhe fez recordar a sua infância em Espanha. Começamos assim, foi tudo uma casualidade. Depois gostámos muito, estávamos sempre juntos os três irmãos, as coisas corriam-nos bem, por isso foi o caminho certo. 

- Ou seja, tu e os teus irmãos começaram ao mesmo tempo? 

Sim, eu e o Roberto começamos a patinar com três anos, o Carlo com quatro. Desde então, até sairmos de França, estivemos sempre juntos.

Bruno di Benedetto (esq.) ao lado do irmão Roberto (centro) e Zé Miranda (dir.)
Bruno di Benedetto (esq.) ao lado do irmão Roberto (centro) e Zé Miranda (dir.)UD Oliveirense Hóquei

- E sempre jogou hóquei em patins ou também outras modalidades?

Jogamos basquetebol durante algum tempo e futebol durante mais tempo. Mas eu e o Carlo não éramos muito bons no futebol, por isso era mais fácil jogar só hóquei. Já o Roberto era melhor no futebol, mas decidiu ficar connosco e continuar no hóquei.

- O Bruno é internacional pela seleção francesa, assim como o Carlo e o Roberto. Costumam jogar os três de forma regular na seleção, o que significa estar ao lado deles? Até porque costumam jogar juntos no cinco inicial, ou seja, mais de metade da equipa é da família di Benedetto.

A verdade é que é muito fixe, conhecemo-nos desde sempre, é um orgulho poder representar a seleção francesa, queremos muito fazer história. Sabemos que a seleção francesa nunca foi das melhores, estamos a crescer e a dar uma boa dinâmica aos mais novos para verem que se pode fazer muita coisa no hóquei em França. Queremos mostrar que é possível ganhar. Jogar com os meus irmãos e poder ganhar ao lado deles é uma sensação muito bonita.

Bruno di Benedetto comenta a atualidade da seleção francesa
Flashscore

- É uma seleção que está em crescimento, tem participado nos últimos Campeonatos da Europa e do Mundo. Até onde pensa que a equipa pode chegar a curto prazo?

A nossa intenção é ser campeões da Europa e do Mundo. Sabemos que estamos perto, mas também que é muito difícil, temos países à frente. Portugal e Espanha são nações de hóquei muito fortes, Argentina, Angola, Itália... Há equipas muito fortes, mas estamos em crescimento, temos entre 27/28 anos eu, os meus irmãos e o Rémi Herman (atua no SC Tomar), está a chegar uma geração de 20/21 anos com um patamar para isso. Temos um novo treinador há um ano que é português, o Nuno Lopes, estamos a crescer e a trazer uma dinâmica que sai um pouco de França e levamos a experiência de outros países para nós, para sermos campeões do Mundo.

- Não posso deixar de lhe perguntar como é jogar aqui em Portugal contra os seus dois irmãos, um no FC Porto e outro no Benfica? Costumam conversar antes dos jogos, o tema do hóquei é o centro de atenções? 

Durante o dia-a-dia, quando falamos uns com os outros, é muito a falar de hóquei. Mesmo na família as conversas são sobre isso, quando nos encontrámos falamos sempre sobre isso, como estão as equipas, as respetivas épocas... Quando jogamos na seleção estamos juntos, mas somos rivais ao longo do ano. Não contámos demasiado, porque há jogos importantes uns contra outros, não podemos revelar coisas importantes e somos rivais. Somos irmãos, apoios uns dos outros quando é preciso ao longo da época, e falamos do jogo mais recente, de como correu. Mas além disso somos rivais, pertencemos a clubes, não há amigos nem irmãos dentro da pista. Quando jogamos pela camisola, respeitamos a camisola e damos tudo por isso.

As perspetivas da Oliveirense esta temporada
Flashscore

- Já jogou em três países, em França, pelo La Vendéenne, em Espanha, pelo Liceo da Corunha e o Lleida, e está há dois anos em Portugal, na Oliveirense. Aos 27 anos, que balanço faz da carreira?

A verdade é que fiz a carreira que sonhava, queria ter uma carreira em crescimento. Quero ganhar mais títulos e dar tudo onde estou. Poder sair de França já era um passo gigante para nós, agora percebo que não era assim tão grande. Mas, no início, não se achava que um francês podia sair para jogar na primeira divisão espanhola, ganhar lá um título com o Lleida, mesmo agora chegar à Oliveirense... É uma carreira que, quando jogava em França, nem sonhava. Agora que estou cá quero ganhar mais. No final de contas, é preciso valorizar onde se está e é um sonho jogar na Oliveirense, mas também estar focado em ter que crescer, continuar a trabalhar para chegar ainda mais alto.

- Está num clube como a Oliveirense que todos os anos luta por título, está em todas as frentes. Está no quinto lugar do campeonato, confortável a caminho do play-off, está nas meias-finais da Taça de Portugal, nos quartos de final da Liga dos Campeões e perdeu a final da Elite Cup com o Benfica. Até onde é que esta equipa pode chegar?

Comparo sempre com a época passada, em que ganhámos muitos jogos e perdemos os mais importantes e decisivos. Esta época, tenho a sensação que estamos a ganhar os importantes e a falhar nos, teoricamente, menos decisivos. Estamos na luta por todos os títulos, não estamos no lugar que queremos, o quinto lugar não era o que queríamos nesta altura, mas estamos a fazer um grande esforço de trabalho e coletivo desde dezembro. Já ganhámos um título, perdemos uma final e agora estamos em todos os títulos, queremos ganhar pelo menos mais um.

A qualidade do campeonato português
Flashscore

- Há quem defenda que Portugal tem o melhor campeonato do Mundo ou, pelo menos, o campeonato que agrega os melhores jogadores do Mundo. Concorda? 

Joguei em Portugal, França e Espanha. O campeonato espanhol é muito bom também, mas nos últimos anos o campeonato português é onde estão os melhores jogadores, é um dos fatores pelos quais vim para aqui. Cada jogo é uma intensidade muito forte, o nível individual de cada jogador também e isso vê-se nos últimos anos na Liga dos Campeões. Muitas vezes há três equipas portuguesas na final four. A cultura de Portugal também ajuda, o campeonato é o melhor do mundo.

- Adaptou-se bem a Oliveira de Azeméis, à cidade, aos adeptos?

Sim, estou muito contente. Vivo aqui em Oliveira de Azeméis, sinto-me muito bem, não é uma cidade grande, mas dá para fazer de tudo. Gosto de passear por aqui, encontras sempre um adepto, sinto-me bem adaptado à cidade, equipa e clube. Os adeptos estão bem comigo porque é o meu carácter, onde estou vou dar sempre o máximo, não há outra hipótese. Esteja quem estiver pela frente. E os adeptos gostam disso, da garra, da união que caracteriza o clube, é isso que faz a diferença. A cidade gosta e eu adaptei-me bem porque tenho o mesmo pensamento, a garra e a vontade têm de estar sempre no máximo. 

Bruno di Benedetto em ação contra o Benfica
Bruno di Benedetto em ação contra o BenficaUD Oliveirense Hóquei

- Até onde pensa chegar como hoquista na carreira?

O meu objetivo é ganhar o máximo de títulos possível e o sonho é crescer individualmente todos os dias para poder ser campeão do Mundo com a França. Todos os passos que fiz na carreira foram para crescer, para ser melhor jgoador, levar isso para a seleção francesa, precisamos de um título e fazer história para demonstrar às pessoas que é possível ganhar. Temos uma geração magnífica, com os meus dois irmãos, o Remi, temos uma geração muito boa e temos que fazer algo porque depois vai ser mais difícil.